E um
dia, o Manuel:
-
- Margarida preciso falar contigo, no escritório,
não deixes entrar ninguém.
O ar
é grave, sério, com o sobreolho carregado. Tinha almoçado com o amigo e
transmontano, o ministro Trigo de Negreiros, que lhe aventou a hipótese de um
Ministério. Ele é marinheiro, cumpre ordens, no mar ou em terra e mesmo quando
se afasta para a área administrativa é isso que sente, o espírito de missão.
Mas agora seria bem diferente, declaradamente teria que tomar decisões teria
que tomar atitudes políticas. Ela aconselha-o a ponderar bem, a conversar com
os grandes amigos e que só aceite se estiver disposto a sacrifícios, mal
entendidos, vinganças e invejas. Ele, com o seu otimismo, acredita em muitas
obras; ela, com o seu realismo, adivinha as muitas barreiras. Esconde dele o
seu desagrado, os sacrifícios que fará com as obrigações sociais, a vida familiar
tranquila que acabará, o desprazer em ser mulher de ministro ou de alguma forma
de prestígio e poder. Em 2 de Agosto Manuel é nomeado Ministro das Colónias. Os
seus muitos amigos, os da oposição ao regime e os da situação, têm a mesma
atitude da Margarida: apesar das reticências que sentem, irão apoiá-lo. E é
outra reviravolta na sua vida. Na sua família e em casa, ninguém se apercebe da
sua agitação. Que bom o Sr. Comandante ser ministro, e a vida continua.
Nos
meses anteriores tinham decorrido algumas cerimónias relativas aos festejos do
centenário do nascimento de Guerra Junqueiro
que continuarão em Freixo, terra natal do poeta. Dia 23 de Setembro de
1950, inaugura-se num largo, arranjado e alinhado, um busto esculpido por
mestre Teixeira Lopes. Discursos bonitos e calorosos e muitos ilustres
convidados. Da família estão presentes a filha do poeta, Maria Isabel, a irmã
Júlia, os sobrinhos Maria dos Anjos, Margarida e Augusto, seis sobrinhos-netos
e muitos primos. A grande ausente é a sua mulher Filomena, de saúde frágil.
Todas as festas na vila são organizadas pelo Presidente de Câmara, Major
Alfredo Guerra, o grande amigo do Ministro, um homem culto e dinâmico,
eficiente, sabendo derrubar ou contornar obstáculos. Inteligente, gosta da sua
terra e do seu Douro. Estuda, escreve, publica, actua e faz.
Além
de Freixo as comemorações são um pouco por todo o país: discursos em academias,
nomes de ruas, avenidas e jardins, uma estátua em Lisboa.
In “Margarida Guerra Junqueiro, O mundo
começa em Freixo de Espada à Cinta” de Isabel Gomes Mota, pág. 101
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