Promover
a saúde das crianças ensinando-as a comer de forma saudável é o principal
objetivo do programa Traz Montes de Saúde, que está a ser desenvolvido por
nutricionistas da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste nos
jardins-de-infância do distrito de Bragança.
Ensinar
as crianças a fazer escolhas alimentares saudáveis. É esta a missão do projeto
Traz Montes de Saúde, que acompanha, durante três anos, as crianças dos
jardins-de-infância do distrito de Bragança.
O
programa, desenvolvido por nutricionistas da ULS Nordeste, teve início no ano
letivo 2014/2015, nos jardins-de-infância de Mogadouro e da Santa Casa da
Misericórdia de Vinhais, e vai agora ser alargado a um maior número de
estabelecimentos de ensino.
No
Olho Clínico, Daniela Santos, nutricionista da ULS Nordeste, e António Velho,
professor coordenador da equipa de Educação para a Saúde do
Agrupamento de
Escolas de Mogadouro, explicam os benefícios deste programa alimentar, que
pretende ensinar as crianças a fazer escolhas alimentares saudáveis desde tenra
idade.
Com
o Traz Montes de Saúde, os ensinamentos têm início aos 3 anos de idade e é
garantido um acompanhamento anual até aos 6 anos, altura em que as crianças
terminam o pré-escolar e ingressam no 1.º ciclo.
Um
rastreio desenvolvido pelas nutricionistas da ULS Nordeste, no âmbito de um
projeto de vigilância nutricional infantil, que abrangeu cerca de mil crianças
das escolas do distrito de Bragança, dá conta que 35 por cento das crianças com
6 e 7 anos apresentam sinais de obesidade e 6 por cento apresentam sinais de
magreza. “Os resultados são preocupantes. Nós queremos inverter a tendência de
excesso de peso”, realça Daniela Santos.
Aprender
a comer desde cedo
O
programa Traz Montes de Saúde surge precisamente para que as crianças comecem a
aprender a comer de forma saudável e equilibrada mais cedo. “Já atingimos 75
por cento das crianças com o programa alimentação saudável em Saúde Escolar,
mas só começa a partir dos cinco anos de idade. No entanto, os hábitos
alimentares formam-se muito antes e desta forma seguimos as crianças ao longo
de todos os ciclos escolares”, explica a nutricionista da ULS Nordeste.
É
garantido o acompanhamento durante o pré-escolar com sessões específicas para
cada ano. No primeiro ano, que abrange as crianças dos 3 anos de idade, os mais
pequenos têm contacto com os diferentes alimentos. “Levamos os alimentos às
escolas para que eles vejam, toquem, cheirem e experimentem o sabor. No fundo,
as crianças descobrem os alimentos através dos cinco sentidos”, realça Daniela
Santos.
No
segundo ano, aprendem a comer guloseimas de forma saudável. Já no terceiro ano,
as ações passam por incentivar dias equilibrados, elaborando e ordenando
exemplos de refeições saudáveis.
Estas
sessões são direcionadas para as crianças, mas também envolvem os pais, para
que o trabalho que é iniciado na escola tenha continuidade em casa.
Durante
a primeira experiência nos jardins-de-infância de Mogadouro e Vinhais, que
abrangeu cerca de 30 crianças, as nutricionistas verificaram que há um grande
desconhecimento por parte das crianças em relação a muitos alimentos. “Por
exemplo, o dióspiro, que é um fruto transmontano, e que muitas crianças nunca
provaram”, constata a nutricionista.
Neste
sentido, as nutricionistas recorrem a produtores locais e levam às escolas
produtos da época.
Para
o professor António Velho, a colaboração da ULS Nordeste com as escolas é
imprescindível. “Os alunos têm que ter capacidade para saber escolher o melhor.
Muitas vezes acontece que nas cantinas os pratos voltam praticamente cheios,
porque as crianças não estão adaptadas aos sabores de certos alimentos”, realça
o docente.
Educar
o gosto
Daniela
Santos acrescenta que há muitas crianças que têm uma alimentação monótona e têm
resistência a provar alimentos novos. “Todas as crianças têm um paladar
natural, que é inato. Todas as crianças gostam daquilo que é doce e têm aversão
por aquilo que é amargo. Nessas idades verifica-se alguma neofobia alimentar,
ou seja, rejeitam alguns alimentos”, constata a nutricionista, acrescentando
que esta tendência pode ser contrariada através da imitação. “Durante o projeto
piloto verificou-se que muitas crianças no início rejeitavam provar, mas pela
imitação, porque os colegas comiam e diziam que era bom, começaram a comer
esses alimentos e a pedir em casa”, assegura.
Também
na cantina das escolas se notou a diferença depois do início do Traz Montes de
Saúde. “Verificou-se na cantina um maior consumo de sopa e de hortícolas, sem
ser necessário insistir com as crianças”, sublinha Daniela Santos,
acrescentando que é possível educar o gosto. “As crianças devem provar 20 vezes
até dizer não gosto. Pode não ser o alimento que a criança mais aprecia, mas se
provar várias vezes vai habituar-se ao sabor”, assegura a nutricionista.
Escolhas
saudáveis
António
Velho salienta que este programa é fundamental para que no futuro os jovens
optem por uma alimentação saudável. “Nós não queremos que eles nunca provem os
chocolates ou os bolos. O que nós queremos é que eles não façam do bolo a
refeição habitual. Ou seja, não queremos que vão a um café comer batatas fritas
em vez de irem à cantina, onde podem comer uma refeição completa, com sopa,
prato principal e sobremesa”, realça o professor do Agrupamento de Escolas de
Mogadouro.
A
nutricionista da ULS Nordeste acrescenta que proibir não é uma boa pedagogia.
“Nós ensinamos a consumir os diferentes alimentos, de forma saudável, porque
comer é uma ação social, psicológica, festiva, mas é ao mesmo tempo uma escolha
consciente e responsável”, reforça Daniela Santos, acrescentando que o objetivo
do programa Traz Montes de Saúde “é alargar a literacia no domínio alimentar e
nutricional”.
Fonte:http://www.jornalnordeste.com/noticia.asp?idEdicao=719&id=21661&idSeccao=6693&Action=noticia#.VnGOE4RhSOM
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