terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O Natal está a chegar, por Arinda Andrés

Moncorvo 2011
E a criança que há dentro de nós, vem à tona. Todos queremos e pedimos coisas. Mas gostamos de surpresas , «Não me digas o que é» .O desconhecido, o indefinido, seduzem-nos. Eu, por mim não peço grandes coisas, também nunca fui pessoa de grandes coisas .Mas um pouco mais de saúde, de alegria, de esperança, vinha mesmo a calhar. Quanto? Mais .E um ano melhor do que este. São palavras que ouvimos todos os dias, independentemente das circunstâncias . Mais e melhor, o vago, o indefinido a povoar os nossos sonhos. A propósito disto, vou contar-vos, muito rapidamente, um episódio muito simples, e vamos lá ver se o faço bem, porque isto de contar, é preciso saber. Pois bem:
Teria eu os meus quinze anos, talvez e o garoto, obstinadamente, gritava, diante de toda a gente« Quero! E quero !Mas quero, quero!» O avô, acabrunhado perante a teimosia do miúdo, não sabia onde se havia de meter .A loja cheia de gente, e o diabo do rapaz a arrancar as tripas de danado, aos berros, continuava, Quero! Quero!
Fechava as mãos, levantava os braços, apertava os punhos! Uma desgraça! O avô, a transbordar da paciência de todos os avós, perguntava, a ver se continha a fúria destemperada do pequeno, hoje um homem, apenas e ainda obstinado no cumprimento das suas obrigações; e perguntava assim, meio dissimuladamente:
-Mas queres o quê, meu filho?
Ides dizer, que falta de uns açoites! não é verdade? Pois ficai sabendo que era uma criança difícil, ainda que se tivessem adaptado todos os métodos e estratégias, não ia a bem nem a mal, como diz o povo .E depois cresceu, e foi sempre um excelente aluno, mas teimoso, é verdade! Bem, o rapaz continuava a berrar como um desalmado ,Quero! E quero!
Parou o movimento da loja!
Então o avô, já quase a sucumbir de humilhação,e como se sentisse o peso da desgraça inevitável, virou-se para o comerciante e, decidido, articulou estas palavras como se de uma sentença se tratasse:
-Dê-lhe tudo!
O comerciante parou embasbacado. Ao que o homem, com a mesma determinação, repetiu:
-Dê-lhe tudo!
Todas as pessoas, incrédulas, olhavam, atentamente, os protagonistas da cena. O Homem da loja começou a pôr as coisas que poderiam ser o alvo da atenção do garoto, que aos poucos, sem saber o que fazer, deixando cair o lábio, à espera de palavras que não saíam, recolheu os nervos da sua raiva infantil e, atónito, olhava, pasmado de vencido, o balcão a atafulhar-se de coisas.
- Vá pá, leva o que queres, disse-lhe o comerciante, já a refazer-se do insólito da situação, e aliviado por ver sinais de bonança!
Numa voz de entrega, de desânimo, o garoto atirou esta.
-Agora já num queio naia!
Para todos, um santo Natal, cheio de paz e saúde! E um pouquinho de paciência, para os avós, já que o Natal é de todos , porque é das crianças!

Tininha

19 comentários:

  1. Olá Tininha!Parabéns!Retratas-te muito bem uma "cena"em vésperas de Natal...Sabes...nós os avós somos sábios e pacientes...castigar está fora de questão mesmo em situações embaraçosas como a que acabei de ler.Não tenho queixas do meu neto mas podes crer que procedia como esse avô.Sabes porquê?Porque sou simplesmente avó.Beijinhos e um Feliz Natal. Ireninha

    ResponderEliminar
  2. olá, Tininha:

    Esse avô era um santo. Foi para céu vestido e calçado.
    E o garoto era neto único, de certeza.
    A partir de 3 a paciência começa a esgotar-se. Então com 4 , 5 ou mais, nem me atrevo a imaginar o pandemónio.
    Claro que nem sempre é assim e muitas vezes os mais velhitos vão aturando os mais pequenos. É o que vale, porque o tempo de ser avó não pode ser igual ao tempo de ser mãe.
    A propósito, lembrei-me do famoso Dr. Spock ("Meu filho, meu tesouro", quem não se lembra? ) que, um dia, numa loja em Nova York, observou uma cena semelhante à que a Tininha descreve. A mãe do diabinho correu para o médico-escritor pedindo ajuda. O Dr.Spock foi junto do fedelho e disse-lhe qualquer coisa ao ouvido. O miúdo acalmou num repente. Toda a gente ficou espantada: "Que teria aquela sumidade dito ao catraio?" . A mãe, de olhos esbugalhados, agradeceu ao médico e perguntou-lhe "O que lhe disse, Sr.Doutor?" "Disse-lhe que, se não se calasse imediatamente, levava o maior par de lambadas da vida dele".

    Isto de estórias é mesmo como as cerejas: puxa-se uma e vem logo uma dúzia delas agarradas.

    Para comprazimento nosso, cá ficamos à espera das suas memórias de menina e de avó.

    Bj.
    Júlia

    ResponderEliminar
  3. Olá Julinha!
    Ainda não sou avó, mas já tenho idade para isso, e a experiência é que conta.
    Eu lamento muito, mas agora tenho de esclarecer:olhe que não era filho único e
    foram experimentados todos os métodos; apenas o tempo e a muita, muita paciência moldaram aquele "diabinho".Obrigada e um beijinho com amizade.
    Tininha

    ResponderEliminar
  4. Olá Ireninha!
    Obrigada pelo teu comentário.
    És uma avó babada, já estou a ver.
    Beijinhos,
    Tininha

    ResponderEliminar
  5. AH , TENHO DE CONFESSAR, POIS CLARO! UNS BONS AÇOITES E, SOBRETUDO, A PRECISÃO E A FIRMEZA DE CORRECÃO.
    Numa mão o pão, noutra a educação, era no meu tempo.Por vezes essa educação apenas significava castigo, e não estav certo, claro!Acho que a moderação em tudo é sempre boa conselheira. Hoje mima-se demasiado; é necessário que as crianças sintam a auroridade, Mas isto é conversa fiada, que já toda a gente sabe e que por vezes todos esquecemos.
    " Meu filho meu tesouro», também foi, durante muitos anos, o meu livro de mesinha de cabeceira, de capas azuis; penso que era da Europa/America, a editora, veja lá! ainda me lembro! Até da mancha gráfica eu me lembro: tinha uma página bem preenchida de texto.Há coisas que não se esquecem; as letras eram muidinhas...Bem, vou terminar.
    Isto não é uma carta, mas parece. Um beijinho com muita amizade,
    Tininha

    ResponderEliminar
  6. Olá Ireninha! obrigada pelo teu comentário. olha, eu também faria como tu; também procurei sempre levar as coisas a bom termo, com paciência, enfim.
    Vou acompanhando, com todo o interesse, as manifestações do teu netinho; Claro, é de pquenino que se mostra a veia de artista;e tem a quem sair, como se diz lá.
    Um beijinho para todos,
    Tininha

    ResponderEliminar
  7. Olá Tininha!Com que então eu sou uma avó babada!Ainda te quero ver a mimar os teus nétinhos...Olha que eu já te conheço,e sei que não és de "açoites",mas de histórias encantadas para lhe embalares o sono...Diz lá se tenho ou não razão...Beijinhos e que o MENINO JESUS te traga tudo aquilo que mais desejas.Ireninha

    ResponderEliminar
  8. Bem, não posso terminar sem referir o quão bonita está a vila de Moncorvo, com a iluminação natalícia, prova disso é a excelente fotografia aqui postada, obrigada.
    Tininha

    ResponderEliminar
  9. Boa noite Tininha.
    Mais uma vez ofereces uma bela História literária aos leitores do Blogue, onde referes as três gerações duma forma simples e directa, a criança os adultos que estavam presentes e a criança muito mais velha, que conhecia muito bem o seu neto. Parabéns e que o menino Jesus não se esqueça das prendinhas para todos os meninos do Mundo.Um bom e Santo Natal.
    Manuel Sengo

    ResponderEliminar
  10. Olá Manuel!
    Como é gratificante ver-te aqui no blogue!E sabes porquê? Porque me lembras de tudo o que já passou: a R. Grande!As tradições do Natal! A Família!....!!!O que era para nós o Natal!E tudo passou.Como é possível as coisas terem mudado tanto!
    E que ganhámos? o país cheio de estradas e de blocos de cimento....Mas isto não é uma carta.
    Obrigada pelo teu comentário, que muito apreciei.Acho que, tu também, deves começar a escrever aqui as tuas "coisas", pelos comentários... fico à espera!
    Um Santo Natal para ti, Manuel, e para a tua família
    Beijinhos,
    Tininha

    ResponderEliminar
  11. oLÁ MEUS AMIGOS!
    Era muito simples o meu Natal,daí estar a escrevê-lo aqui neste espacinho, tão pequenino como era o meu Natal. A família reunia-se; todos conversavam e a minha bisavó ia-me contando contos, enquanto o lume ia crepitando! Enchiam-se cestos de bolas de azeite, e eu ia deitando o açúcar e a canela: a filhós doirava-se na sertã, ao lume e eu ia sonhando e desfazendo entre os meus dedos, o açúcar e a canela!E quando a minha avó me acordava, anda ver o que te trouxe o Menino! E u respondia, e já era crescidinha: Deve estar com tanto frio!Não o vamos deixar sair para a rua, onde está o Menino Jesus?Já foi embora para outras casas, Ele não tem frio.
    E era tão bom acreditar!
    Bom Natal!
    Tininha
    Tininha

    ResponderEliminar
  12. Tem razão,Tininha,o melhor de tudo era acreditarmos.
    Quando a "verdade" surgiu,chegou também a primeira desilusão,desfez-se o lindo sonho da nossa meninice.
    Todos desejaríamos ser meninos outra vez,não é?
    Bom Natal também para si.

    Uma moncorvense

    ResponderEliminar
  13. OLá Tininha!Tu defende os filhos únicos...A Julinha logo a dizer que o rapazinho era neto único já vis-te?Amanhã o Luís já lhe responde...Beijinhos da tua amiga Ireninha

    ResponderEliminar
  14. Olá Ireninha!
    O blogue também serve para isto, claro!
    eheheh!!!!!
    beijinhos,
    Tininha

    ResponderEliminar
  15. Olá Tininha!Eu até sou neto unico mas nunca fiz essas birras que o meu pai e mãe davam-me UMA Tareia e valente!

    Bjs
    Luis e Bom Natal

    ResponderEliminar
  16. Olá Ilustre Cavalheiro, meu prezado amiguinho!
    Assim é que é falar! É mesmo: Eu sou neto único! -CLARO! Força! somos os maiores! Ou não fossemos de Urros! E o texto? Estou à espera.
    Beijinhos para todos.
    Tininha

    ResponderEliminar
  17. Olá Luís!
    Olha, sabes, eu já te escevi o comentário, mas a NET tem destas coisas: não sei se ficou registado ou não.Então, digo agora:
    Obrigada pelas tuas sábias palavras!É assim que se fala, logo de pequenino.Neste caso, ser filho único é uma virtude.
    Quando vais a Urros? E o teu conto?
    Bjs,Bom Natal!
    TININHA

    ResponderEliminar
  18. Olá Tininha!Já escrevi o texto mas o Arnaldo não o sabe enviar e não me deixa fazer a mim .
    Tenho que esperar pelo pai.O Arnaldo é um "chato" e a Nena não percebe vai para a semana e a Tininha vai ficar contente
    bjs do Luís.

    ResponderEliminar
  19. Quando sentir saudades de tudo que vivi e amei venho ao teu blogue.Não tenho palavras para agradecer as tuas publicações. Fico sempre tão emocionada que respondo e apago de seguida aquilo que pretendo transmitir, por achar que não consigo dizer o quanto elas me fazem bem...mas desta vez, lá vai... Fantásica a história, assim como a tua vivência de Natal.No nosso tempo de meninice era o menino Jesus que dava as prendinhas e louvava-se o Menino.Não pediamos nada, mas...havia sempre uma surpresa à nossa espera. As "bolas de natal" feitas ao lume na sertã de pés pela tua mãe eram divinais! As torradas feitas no borralho tb, tinham um sabor especial, eu e as minhas filhas recordamos essas iguarias com saudade neste Natal. Era tão bom estar de férias em Urros..
    O que se fazia à volta da fogueira...Agora não há tempo...nem lareiras como as de outrora,elas contribuiam para a manutenção e união da familia, o seu calor tinha muito valor,as reuniões familiares já não se fazem ao serão no quentinho!E todos sentimos falta desse "calor fortificante"!
    Obrigada prima por me fazeres recordar a minha infância. bjis para ti e para as tuas filhas.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.