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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Trás-os-Montes! por Arinda Andrés

Trás-os-Montes!
Aqui, o céu juntou-se à terra!
e em saraivada de estrelas,
a manhã abriu-se em vasta
e perfumada toalha de estevas,
as mais singelas e belas flores
de branco, bordadas em ponto matiz,
em fio doirado, amarelo, de cheias delícias,
suaves ternuras, subtis! Vidas de amor,
em vermelho ponteadas de dor!
Em todo o seu esplendor!
A terra floresce em estevas primaveris!

ARINDA  Andrés

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A MINHA RUA ERA GRANDE, DAÍ CHAMAR-SE RUA GRANDE

            A.   Andrés, em casa dos pais
Era larga e comprida , cheia de gente, sempre a passar, de rodinhas de crianças, de laços na cabeça, e de meias brancas de renda, feitas à luz do amor das avós, de mãos de pele enrugada, em olhares de meiguice e ternura, letra de poema, esquecido no tempo dos outros,de bibes de todas as cores, alegrando os ares com as nossas vozes infantis, ingénuas, felizes, na música  dos dias de sol a espreitar pelas folhas das árvores, frondosas, encantadas do pipilar dos passarinhos, deslizantes no milagre e na sedução da melodia,… ao fundo, em frente à igreja, de pauzinhos de cerejas, em flores vermelhas, brancas, carnudas e sumarentas de sabores e formas,  redondas, macias, escorregadias, em sonhos engalanadas,  cinco coroas vendidas, âncora de todas as minhas lembranças,    de  contos, sagrados,  ditos em tom de magia, ouvidos,  sentidos! saboreados nos olhos abertos, sedentos de mistério e de maravilha, ao sol de inverno, na varanda, à espera, ou nas escaleiras, velhas e atrapalhadas, aos tropeções com as vidas,em laços de borbotos, de teias enxertadas, em falas de poesia de teares abandonados
Tininha
A.   Andrés


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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O Natal está a chegar, por Arinda Andrés

Moncorvo 2011
E a criança que há dentro de nós, vem à tona. Todos queremos e pedimos coisas. Mas gostamos de surpresas , «Não me digas o que é» .O desconhecido, o indefinido, seduzem-nos. Eu, por mim não peço grandes coisas, também nunca fui pessoa de grandes coisas .Mas um pouco mais de saúde, de alegria, de esperança, vinha mesmo a calhar. Quanto? Mais .E um ano melhor do que este. São palavras que ouvimos todos os dias, independentemente das circunstâncias . Mais e melhor, o vago, o indefinido a povoar os nossos sonhos. A propósito disto, vou contar-vos, muito rapidamente, um episódio muito simples, e vamos lá ver se o faço bem, porque isto de contar, é preciso saber. Pois bem:
Teria eu os meus quinze anos, talvez e o garoto, obstinadamente, gritava, diante de toda a gente« Quero! E quero !Mas quero, quero!» O avô, acabrunhado perante a teimosia do miúdo, não sabia onde se havia de meter .A loja cheia de gente, e o diabo do rapaz a arrancar as tripas de danado, aos berros, continuava, Quero! Quero!

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Os cacharozes da minha infância, por Arinda Andrés

Os cacharozes da minha infância,

acachados na minha meninice
a insinuar-se nas minhas ansiedades,
em cachos de juventude,
cibinhos de mimo azul
a roçar, em saudoso cochicho,
uma cachinha da minha liberdade
tão acachadinha numa cacha de sol,
migalho deste meu entardecer!



a.andrés

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sábado, 8 de março de 2014

DIA INTERNACIONAL DA MULHER (Em sua homenagem,reeditamos textos das nossas colaboradoras)

QUANDO O SILÊNCIO SE ABATE, por Arinda Andrés
URROS 1947
Eu era ainda criança, e mesmo em frente à nossa casa, aquela figura que se recortava na luz calma e suave, sobressaía na faina de uma aldeia buliçosa e cheia de esperança. O homem avançava devagar, enquanto a tarde se aconchegava nos poiais cinzentos e seculares de muitos e muitos anos; as passadas lentas e arrastadas, evidenciavam, na rua larga e a pulular de gente, de trabalho e de sonhos, a figura alta e de corpo gingão daquele homem tão diferente, aos meus olhos, de todos os outros. Nunca o vi sair de casa; apenas o via chegar, sempre só e distante de tudo. Era um rosto de expressão dorida, raras vezes o vi falar com alguém. Grupos de gente aqui e ali, eram-lhe indiferentes. Subia determinadamente as escadas íngremes da casa que o aguardava, numa cumplicidade tão robusta quão fortes e bem alicerçadas eram as suas raízes. Outro mundo, outra gente. Em silêncio, a chave rodava na fechadura e, lentamente, a porta ronceira ia deixando entrar alguma luz estranha, testemunha de outros tempos, no negrume do interior da casa. O homem entrava e a porta, sozinha, fechava-se.
Era uma figura estranha, aquele homem. Tinha um olhar parado e lento, como se não visse nada nem ninguém mas, ao mesmo tempo, os seus olhos pareciam voltar-se para outras pessoas, outro lugar. Na mão, habitualmente, trazia uma sacola, uma taleiga, que era de pano às riscas como a de qualquer homem, ou de qualquer mulher. Intrigava-me aquela figura, ao querer enquadrá-la em hábitos, relações, circunstâncias, como aos outros. A rotina era sempre a mesma. Mas, naquele dia, ele estava ali, entregando-se inteiramente ao seu trabalho; a madeira ia-se esculpindo, lentamente, enquanto uma plaina certeira, ia e vinha, criando-se um ar de mistério, como se a certeza e o destino das coisas dependessem, absolutamente, daquele momento; minha mãe trouxe-lhe um prato de comida; o homem, sem dizer palavra, aceitou. Religiosamente o diálogo estreitava-se em secas palavras :«Agora, são horas de ir para casa», disse.
A aldeia amanhecia no trabalho dos campos e anoitecia no conforto pacato das lareiras, onde os mais velhos cogitavam sobre a sorte dos mais novos, enquanto as labaredas cresciam e as brasas, reduto de imponentes árvores, se consumiam em cinzas apenas, depois de aquecer a humidade fria dos dias de inverno; ou nos balcões e varandas, aliviando as noites abafadas do calor do verão.
Os dias iam-se acomodando na rotina do sol ou da chuva, das sementeiras ou das colheitas. Os machos que, briosamente, carregavam sacos de azeitona ou amêndoa, ainda permanecem na minha memória, e a cadência dos sinos, ao toque das Trindades, devolve-me a visão de tardes calmas e sossegadas, porém, exalando a luz ténue e lenta de tempos bem distantes.
Já o sol se fora e, numa dádiva de Deus, entregara os últimos fios de ouro à pacatez dos rebanhos, a recolher mansa e humildemente às malhadas; ao terreiro, da garotada a jogar ao lencinho, ao pico-pico, ao meco e ao castro, enquanto os rapazes saltavam ao eixo e na taberna, em busca de uma recompensa perdida, esquecida, ou simplesmente adiada, afogava-se a dor com um último copo de vinho; nas pedras cinzentas e frias das eiras derramavam-se os últimos raios de sol, agora a esconder-se nos molhos de trigo, seco, louro, de cevada ou de centeio; as galinhas acorriam em bando ao cair do trigo, nas lajes de uma ceifa farta e opulenta; os gatos enrolavam-se ao sol com o medo dos cães, nas orelhas espetadas; e a esperança dos pardais, nos olhos e no focinho, de pelos afiados, em riste.
URROS 2010
No calendário do meu quarto os dias contados pelo lápis, tinham-se esgotado.
E as minhas férias também chegaram, depois de longos e longos meses de ausência.
Não vi o homem e minha mãe explicou-me, «Vivia sozinho, não tinha mulher nem filhos; era um couraçado de trabalho e abandono. Noutros tempos era mau; tinha mau feitio. Agora, sem mulher e sem filhos, parece que andava sempre a entregar a alma a Deus; era um desgraçado; não fazia mal a uma mosca, ainda bem que Deus o levou».
Arinda Andrés (Tininha)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Ó cobrideira de amêndoa

Ó cobrideira de amêndoa
Cobres tua mágoa de luar
Teus dedos são segredos
Tua mágoa meus poemas
Calando gemendo-a
Tua mágoa minhas penas
Em teus olhos doces de água
Tudo de nada hás-de guardar

Arinda A Andrés (Tininha)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Tia Maria da Natividade ,por Arinda Andrés

Paisagem de Urros (1947).Prof. Dr.Santos Júnior
  A  Tia Maria da Natividade, de cantarinha de barro empoleirada no alto da cabeça, ou enfiada no braço, não era   muito alta, mas a sua figura de mulher ágil, a cara miudinha,  numa cabeça apertada num piruco,  emoldurada em  meigo e claro olhar, a boca de lábios finos, aberta em palavras de  generosidade e alegria, faziam dela uma  grande pessoa, diferente das outras, daí imaginá-la, sempre, como alta e grande mulher!
  Ocupava-se das  ovelhas, do queijo e do leite, os mais apreciados entre todos os da aldeia,  enchendo de brios de trabalho e fartura as tábuas de coalhadas brancas  enluaradas, a secar em casca de manteiga apimentada e as francelas a escorrer de soro e de tenros requeijões, numa terra de rebanhos e de pastores. Estava casada com o João Borregão, um homem sem pressas, sempre com um sorriso arreganhado no rosto redondo de bondade e de satisfação; nascido e criado entre as ovelhas, e a liberdade dos montes,  e recebido, da sua companhia, a paz e a bondade dos borregos, era um incansável protector e apaziguador em quezílias de pastores, para dividir alguma leira ou pedaço de lameiro, pago a bom preço; era sempre tido e achado em tempo de tomar decisões acertadas e pacificadoras; para ele estava  tudo bem,  e para  as suas ovelhas, qualquer nesga de carvalha, ou folhareca de rebentação, tenra e viçosa, chegavam;  tinha que aturar os que assim não pensavam, mas tido como respeitado e respeitador, não lhe era difícil acalmar ânimos de pequenas rixas.
                 Viviam assim uma vida simples, sem grandes canseiras e cuidados, ocupando-se apenas do pequeno rebanho e dos animais, em plena serra, numa casinha simples e modesta, onde o galo cantava e a terra florescia em fartas sementeiras e abençoadas colheitas.
                A esse tempo, um rico comerciante, levado pela ganância, e para conseguir  bons lucros,  mandou comprar e cercar  os melhores pastos da sua terra e das redondezas, limitando ao poder e à ostentação as suas ovelhas e pastores. Toda a gente, surpreendida por tanta ambição, ficou pasmada perante o acto, de tão desmedido que era, mas ninguém disse nada,  de susto e de  receios! Entretanto, a Tia Maria da Natividade e o João Borregão viviam o seu dia-a-dia, felizes e contentes, longe do povoado, na serra, vendo correr a águas nos ribeiros e ouvindo o cantar dos passarinhos, contentando-se com o que Deus lhe deu.