domingo, 6 de outubro de 2013

PEÇA ROMÂNTICA PARA UM TEATRO FECHADO, de Tiago Rodrigues

Ao quinto aniversário heroico do
 Grupo Alma de Ferro,
com admiração.
Tiago Rodrigues
EXCERTO

Dentro de uma hora, será inaugurado o Museu Universal do Esquecimento, com dois edifícios diferentes e uma única colecção particular. Um dos edifícios tem sede no hipotálamo do cérebro de Clara e o outro no lobo frontal do cérebro de Fernando. As visitas poderão ser realizadas em qualquer teatro que esteja encerrado ao público em qualquer ponto do planeta. Teatros  fechados por falência, por epidemia, pelas autoridades competentes, pelas autoridades incompetentes. Teatros em ruínas. Teatros em dia de folga. A condição é que estejam encerrados.
Assim, o primeiro desafio colocado ao visitante é conseguir entrar num teatro fechado. Pode fazê-lo pela via da força, negociação, suborno, fé ou mera sorte. Se for bem sucedido, o visitante terá livre acesso a todas as salas e corredores de ambos os edifícios instalados nos cérebros dos dois antigos amantes.

RECEPÇÃO CRÍTICA, LEITURAS
Trata-se de um divertimento na boa tradição da comédie de coulisses (as comédias de bastidores). Num teatro fechado – fechado tanto literal como metaforicamente – um ex-casal (Clara e Fernando) tentam “fechar” a sua relação e remeter os restos da sua relação há muito terminada para o (inequivocamente borgesiano) Museu Universal (Mundial/Nacional/Internacional/Municipal/Intergalático) do Esquecimento. Ela quer dizer-lhe que está grávida e remeter definitivamente as memórias da sua relação ao esquecimento. Ele – bom, ele nem por isso. Mas nisto, as personagens como que se fragmentam e criam ecos falantes de si próprios: e, assim, surgirão uns “segundos”, “terceiros” e “quartos” Clara e Fernando.A pequena comédia assume então dimensões pirandelianas, tornando-se num hábil jogo teatral, bem-humorado, despretensioso e fluido. E quando estamos já entretidos com o jogo, tentando jogá-lo bem (e até, quem sabe, ganhar ao escritor), apercebemo-nos que estamos dentro da mesma moldura temática do grosso da obra de Tiago Rodrigues – e que estamos mais uma vez a discutir a natureza do acto de criar; e quando pensávamos que falávamos de relações, falávamos também de teatro – essa coisa também ela permanentemente encaminhada para as galerias do Museu Universal do Esquecimento.
Publicar esta peça na colecção azulcobalto | teatro, é, antes de mais, um orgulho, mas também uma tímida tentativa de resgatar ao Museu do Esquecimento um texto que foi pensado para uma situação teatral muito particular e que, por isso mesmo, foi programado para se esgotar rapidamente “no fogo-de-artifício da representação”. Publicar um texto como esta Peça romântica para um teatro fechado é amplificar as possibilidades de namoro do texto e permitir-lhe novos casamentos. É poder pensar que este texto pode voltar a abrir teatros.

Rui Pina Coelho: apresentação da obra | Lisboa, Teatro Meridional, 22 de Setembro de 2013

PEÇA ROMÂNTICA PARA UM TEATRO FECHADO, de Tiago Rodrigues  
colecção azulcobalto | teatro 005
56 páginas | ISBN 978-989-8592-34-7 | 1ª edição – Setembro de 2013 | PVP: 6,95 euros

7 comentários:

  1. A qualidade,a dedicação,o esforço,o empenho do Grupo ALMA DE FERRO, reconhecidos pelo grande vulto do Teatro ,TIAGO RODRIGUES,filho e neto de transmontanos.

    Uma moncorvense

    ResponderEliminar
  2. Olguita Figueiredo: Parabéns

    ResponderEliminar
  3. De vez enquando aparece aqui um texto ou foto referindo uma pessoa filha de moncorvenses que se notabilizou pelo seu trabalho.Tiago Rodrigues é um bom exemplo.Na ausência de um programa das entidades ofiais (leia-se câmara)era muito bonito o blog assumir esse papel como a página da Carina dedicada aos emigrantes.Demite-se a câmara entra de serviço a sociedade civil ou talvez aguardar pela nova equipa que não vai cometer os mesmos erros da anterior.
    Armando G.

    ResponderEliminar
  4. Tiago Rodrigues dedica o livro ao Grupo Alma de Ferro.
    Do Celeiro para o mundo, sem passar pelo castelo."Vós sois os amadores mais dedicados, mais devotados ao TEATRO que eu alguma vez vi. E só não vê quem não quer," como diz a Júlia.Obrigado .
    .Leonel Brito.

    ResponderEliminar
  5. Misé Fernandes escreveu:Parabéns a este fantástico grupo de teatro

    ResponderEliminar
  6. Gostariamos de saber, se fosse possivel, quais foram os erros da câmara anterior para com o grupo de teatro Alma do ferro, pois ainda aqui ningém os explicitou. O único que sabemos pelo blog é a não utilização do cine-tatro, aquando dos 5 anos do Alma do ferro, INFORMEM-ME POR FAVOR

    ResponderEliminar
  7. Parabéns ao Tiago Rodrigues e parabéns ao grande Grupo Alma de Ferro. A ambos desejo os maiores êxitos.

    Abraços
    Júlia Ribeiro

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.