Índice criado para avaliar a transparência das câmaras
permite concluir que "há um grande défice" na prestação de contas aos
cidadãos que é feita através da Internet. Lisboa ficou em 115.º lugar e o Porto
em 26.º
É nos domínios da "contratação pública" e dos
"planos e planeamento" que os municípios portugueses são menos
transparentes, segundo a Transparência e Integridade, Associação Cívica (TIAC).
A associação avaliou os conteúdos publicados nas páginas na Internet das 308
câmaras, de acordo com um índice criado em parceria com um conjunto de
instituições universitárias, e concluiu que nenhum município pode orgulhar-se
de ter um bom resultado no teste da transparência.
A Câmara da Figueira da Foz, com 61 pontos numa escala de
zero a 100, foi a que ficou mais bem posicionada, seguida de Alfândega da Fé e
Batalha. No extremo oposto, com um resultado de apenas sete pontos, ficaram os
municípios de Calheta (Madeira), Montalegre e Santa Cruz (Açores). Olhando para
os dez municípios com mais eleitores, verifica-se que apenas um deles, o de
Oeiras, conseguiu um lugar de destaque, ocupando o sétimo lugar no ranking do
Índice de Transparência Municipal (ITM). Lisboa ficou na 115.ª posição e Vila
Nova de Gaia na 194ª. Já o Porto alcançou o 26.º lugar e Cascais o 21.º.
A média nacional foi de 33 pontos, valor inferior aos 64
pontos que os investigadores envolvidos no projecto consideram ser "uma
boa performance" e aos 36 pontos que são vistos como "o mínimo
aceitável". "Os dados revelam que há um grande défice de
transparência na forma como o poder local presta contas aos cidadãos",
conclui o presidente da TIAC, Luís de Sousa.
76 indicadores avaliados
Com a criação do ITM, a associação pretendeu desenvolver
"um índice multidimensional" que permita avaliar o grau de
transparência das câmaras, tendo para isso definido 76 indicadores, agrupados
em sete dimensões. O objectivo, explica Luís de Sousa, é que os resultados
sejam actualizados anualmente, o que permitirá "dar aos municípios uma
ferramenta clara e objectiva que lhes permita medir progressos" e
"aprender com as boas práticas de outros concelhos".
Os resultados deste que foi o ano de lançamento do projecto,
realizado em parceria com o Instituto de Ciências Sociais, o Instituto Superior
Técnico (IST), a Universidade do Minho e a Universidade de Aveiro, foram
apresentados ontem. Nuno Cruz, investigador do IST, frisou que foi apenas
avaliada a ausência ou presença de determinadas informações nos sites dos
municípios, não tendo sido considerados aspectos como "acessibilidade,
abrangência e qualidade" das mesmas.
Olhando para as diferentes dimensões em que os indicadores
foram divididos, verifica-se que foi na da "contratação pública" (com
uma média de 15 pontos em 100), e depois na dos "planos e
planeamento" (22 pontos de média), que houve piores resultados. No extremo
oposto (com uma média de 67 pontos) ficou a área da "transparência
económico-financeira", para a qual Nuno Cruz sublinhou haver
"obrigatoriedade legal" de publicar um conjunto de informações.
Segundo este investigador do IST, os resultados preliminares
permitem concluir que "a dimensão populacional do município aparece como
positivamente associada com maior grau de transparência". Ainda assim,
disse Nuno Cruz, "falta de dimensão não é obstáculo", havendo
"pequenos e médios municípios" que "figuram proeminentemente
entre os dez melhores".
Mais mandatos, ITM menor
António Tavares, que foi um dos coordenadores científicos
deste projecto, adianta que ao olhar para os números do ITM chegou a uma outra
conclusão: a de que quanto maior o número de mandatos consecutivos dos
presidentes de câmara, menor a transparência. "Verifica-se que existe uma
relação muito clara", constatou o investigador e professor da Universidade
do Minho. Acrescentou que tal "não é verdadeiramente uma surpresa"
face a estudos que desenvolveu anteriormente sobre mecanismos de participação
desenvolvidos pelos municípios.
Já Filipe Teles, da Universidade de Aveiro, sublinhou que a
maioria dos municípios portugueses tende a ver a sua página na Internet
"como um mecanismo de comunicação política" e "não de
transparência ou aproximação à sociedade". "É um repositório de
informação, uma forma de ultrapassar a despesa com os boletins municipais, que
serviam para fazer campanha ao longo de quatro anos", afirmou o
investigador, que no passado ocupou o lugar de chefe de gabinete do presidente
da Câmara de Aveiro.
Também Gustavo Cardoso, do ISCTE, disse que "num
primeiro momento" aquilo que as câmaras municipais fizeram foi "uma
transposição do que existia no papel para o online", o que equivale a
"numa situação de mudança continuar a fazer as coisas da mesma
maneira". O investigador deixou no ar a pergunta sobre se será possível
dar o passo seguinte: através das novas tecnologias procurar resolver o
problema concreto da "desconfiança entre os cidadãos e o poder e entre o
poder e os cidadãos".
Presente na apresentação do ITM, que decorreu no Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, esteve a presidente da Câmara de
Alfândega da Fé (Trás-os-Montes), que alcançou o segundo lugar do ranking.
Berta Nunes, do PS, explicou que, quando chegou à autarquia em 2009, esta nem
sequer tinha um página na Internet.
"Ter os munícipes informados é muito importante para o
desenvolvimento do concelho", disse a autarca, admitindo que o site é
também uma forma de "não andar a gastar muito dinheiro em boletins
municipais e outras coisas". Berta Nunes acrescentou que envolveu todos os
chefes de divisão do município neste processo, dando-lhes responsabilidades na
publicação e actualização de informações. Garantiu que responde a todos os
emails dos munícipes e que usa a sua página no Facebook para comunicar com
emigrantes do concelho.
No endereço http://poderlocal.transparencia.pt/ podem ser
obtidas mais informações sobre o índice de transparência. Os interessados podem
ver o ranking global e fazer comparações entre um máximo de cinco municípios.
Município de Torre de Moncorvo
ResponderEliminarRanking ITM: 142º
Pontuação ITM: 34
Partido político no poder: PSD
Presidente da Camara: Nuno Gonçalves
Número de eleitores inscritos: 9518
Total população: 8435
Fonte:http://poderlocal.transparencia.pt/
Nunca consegui compreender como em muitas terras há mais eleitores do que habitantes... Também não consigo compreender como em vésperas de eleições há tantos recenseamentos estranhos... J. Andrade
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