terça-feira, 22 de outubro de 2013

UMA SENHORA NOTA, por Júlia Ribeiro

O Camané traz-nos hoje mais uma historieta das suas. Posso assegurar-vos que tem a sua graça.
Vamos localizar a estória no tempo e no espaço: isto passou-se há anos, ainda existia o Banco Nacional Ultramarino (BNU) e ainda existia o escudo.
Em Torre de Moncorvo era gerente do BNU o Sr. Ricardino, e caixa era o Sr. Mesquita.
Uma manhã, o Camané, transportando uma pasta de executivo e muito compenetrado do seu papel de grande capitalista, deu entrada no Banco e saudou com o ar mais sério do mundo:
- Bom dia, Sr. Mesquita.
O Sr. Mesquita respondeu prazenteiro : -Olá, Camané, o que te traz por cá?
Colocando a pasta sobre  o balcão e baixando a voz, o Camané segredou :       - Tenho aqui 100.000 (cem mil) marcos alemães.
( O marco alemão - DM - correspondia na altura a cem escudos. Portanto, 100.000 DM daria a bonita quantia de 10.000.000 (dez milhões) de escudos, ou seja, em linguagem corrente, dez mil contos. O  caixa fez este cálculo em dois segundos, o tempo que o Camané levou a abrir e a voltar a fechar a pasta).
- Você disse cem mil marcos alemães?
- Disse, pois. E o meu pai vem aí com mais dinheiro alemão.
- Mais uma pasta?
- Mais duas pastas.
O Sr. Mesquita até ficou assustado e disse :
- Isto ultrapassa-me. Vou chamar o Sr. Ricardino.
Chega o gerente apressado e convida o Camané para o seu gabinete. Lá dentro estava um cliente, a quem o Sr. Ricardino pediu: “Dê-me só um momento, por favor”. O cliente saiu.
Ficaram só os dois, o Sr. Ricardino correu as cortinas e,  com voz um pouco insegura, disse: - Abre lá essa pasta, rapaz.
Enquanto se demorava a soltar os fechos, o Camané ia pensando: “Ai que agora é que vou ser preso”. Pasta aberta, lá dentro, agrafada a uns papéis, grande, linda, colorida e provocadora com os seus cinco enormes zeros, uma nota de 100.000 marcos alemães.
O Sr . Ricardino pegou na nota, (“Ai, meu Santo António, desta vez é que me prendem”) foi mirá-la em contra-luz junto do candeeiro da secretária e depois soltou uma estrondosa gargalhada.
- Ó rapaz, lá lata tens tu. Com que então, 1942 ?  Plena 2ª Guerra Mundial. Não vale um chavo. Pensavas que me enganavas? És completamente maluco.
O Camané, aliviado, porque não ia preso, rematou: - Mas olhe que esta nota esteve quase a provocar a 3ª Guerra Mundial. Ora diga lá que não...

Leiria, 20 de Outº de 2013


Júlia Ribeiro

6 comentários:

  1. Boa tarde.

    Aqui José Almendra.

    Em 1922 para comprar o pâo, os alemâes tinham de levar um monte de notas, eram quantias que iam de milhôes a biliôes...

    Tiva muitas dessas notas, mas infelizmente, mesmas nas colecçôes o valor nâo é muito importante.

    Gostaria também de vir contar-lhes mais histo'rias de notas, mas por enquanto ainda nâo me é possivel, Vâo pacientando, que eu voltarei.

    Um abraço para todos, e saudaçôes para os Moncorvenses.
    José

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  2. O gerente se tinha pago ao grande Camané e ele com o taco comprava e deitava abaixo o mamarracho do BNU tinha uma medalha.Há dois mamarrachos na praça,este e o que fica entre a rua Visconde de Vila Maior e a rua das Flores.Simbolos da anarquia pós 25 de abril.
    Nos salazarentos tempos da outra senhora nem uma casa autorizavam nem os ricos vendiam.
    Quietinhos não estragavam nem viviam.
    Pois.
    BNO

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  3. Esse gajo tem cada dia mais uma estoria de partir o coco a rir.

    Manel A.

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  4. Quem foi o agente que ajuntou este duo - dra. Júlia e Kamané ? Teve um grande ideia.

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  5. Apropósito de taco,pilim,graveto,massa,..
    Ao telefone:
    - BOM DIA, EU SOU FRANCISCO
    O PAPA DOS POBRES.
    do outro lado:
    - ENCANTADO, EU SOU PASSOS
    COELHO, UM DOS SEUS
    MELHORES FORNECEDORES!

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  6. A propósito de taco,pilim,graveto,massa...
    Ao telefone:
    BOM DIA,EU SOU FRANCISCO O PAPA DOS POBRES.
    do outro lado:
    ENCANTADO,EU SOU SÓCRATES,O FIlÓSOFO PORTUGUÊS QUE PÔS PORTUGAL A PEDIR!

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