terça-feira, 8 de outubro de 2013

CRÓNICAS DE MOGADOURO - por: António Pimenta de Castro


CULTURA POPULAR – UM PATRIMÓNIO A PRESERVAR

Numa conversa de café, um amigo meu convidou-me, em modos de desafio, a escrever um pequeno artigo sobre cultura popular para ser publicado no jornal “ O Guerra –Zoelae”, perguntando-me se eu estaria disposto a tal empreendimento. É evidente que sim, pois não tenho preconceitos para falar do que penso ser importante e para mim preservar o património do nosso povo é fundamental, sobretudo numa época de “globalização” em que ele é sistematicamente destruído. Não trato as pessoas pelo seu «estatuto» social. Para mim as pessoas têm ou não valor por si próprias, por aquilo que valem e não pelo partido em que militam ou pela «classe» a que pertencem. Posto isto vamos ao nosso assunto.
A Carta Europeia do Património Arquitectónico (Conselho da Europa, Amsterdam, 1975) chama a atenção para o seguinte: “(...) O património está em perigo. Está ameaçado pela ignorância, pelo envelhecimento, pela degradação sob todas as suas formas, pelo abandono”. Infelizmente isto aplica-se também ao nosso património, quer seja oconstruído quer seja o imaterial. É urgente preservar o que ainda vai existindo, sobretudo o património não construído, que por isso mesmo, é mais fácil de desaparecer.
Costumo dizer que, sempre que morre um velho (ou uma idosa) desaparece  um arquivo. A vida moderna com a globalização da cultura, o pouco tempo para se falar com os filhos e os netos, a televisão, o desfazer da família tradicional, entre outros, despreza o “saber da experiência feito” dos mais velhos, daqueles que ouviram histórias, contos, lendas e outros saberes transmitidos por seus pais e avós, à lareira nas longas noites de invernia ou no amanho dos campos. Hoje, qual novo rico, despreza-se esta cultura dita «atrasada», «velha», «pobre», «que já não interessa». Desprezamos esta nossa cultura genuína e substituímo-la pela cultura da televisão, das telenovelas, da “casa dos segredos”, dos mass media, contribuindo assim para a macdonalização da cultura. Não tenhamos dúvidas de que ficamos muito mais pobres.
 É urgente sensibilizar, sobretudo a nossa juventude, para a recolha e preservação da cultura popular. Não para a «mumificar» em arquivos que se irão encher de pó, mas para a «viver» naquilo que ela tiver de interessante. Nesta sensibilização tem um papel fundamental as autarquias, as associações culturais e, sobretudo, as escolas.
Na nossa região o Parque Natural do Douro Internacional ( e no Minho, o Parque do Gerês) têm uma grande responsabilidade na sensibilização das populações para a preservação da arquitectura popular. Os pombais (no Parque do Douro Internacional), já estão a ser restaurados mas têm também de se «salvar» as casas tradicionais (adaptando-as, como é evidente, ao conforto da vida de hoje), as curraladas, os moinhos, etc, etc...Um Parque Natural com as paisagens e as aldeias todas «desfiguradas» não será um Parque atraente. Deve-se explicar ao povo que o turismo rural poderá ser uma boa fonte de rendimento, que poderá ser um complemento importante para a sua economia numa época em que a agricultura está como está, ou seja, em que é difícil viver do que dá a terra. Também a culinária tradicional é outro património a preservar. As receitas e os pratos tradicionais têm de ser registados e divulgados. Para isso, os nossos restaurantes, tasquinhas, têm que oferecer aos turistas (nacionais e estrangeiros) pratos diferentes da região donde eles vêem, receitas que façam parte da nossa cultura genuina…é que um povo sem História é um povo sem cultura! Por isso temos o dever de salvar a nossa cultura genuína, ou seja a nossa História.    
Muito mais haveria a dizer mas, o artigo já vai longo...
Para terminar faço daqui um apelo a todos os portugueses, a todos os «homens de boa vontade» para que colaborem na salvaguarda do nosso património, os nossos filhos agradecem, podem ter a certeza.

António Pimenta de Castro                   

1 comentário:

  1. Hoje, dia oito de Outubro de 2013, em plena Lisboa, seguia no amarelo da carris e viajava para a minha aldeia, Bemposta. Fazia uma visita ao lar e na minha frente as imagens em cinema virtual da minha mente passavam os velhos que lá moram e prometi a mim mesmo que na próxima visita lhe farei uma visita para poder registar as memória vivas que ali vivem. Nem de propósito esta crónica. Concordo que pouca importância tem a cor partidário, o importante somos nós, pessoas vivas que somos! O importante é fazer algo para poder perservar essas memórias vivas que são nosssas.
    Parabéns a Pimenta de Castro.

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