Numa conversa de café, um
amigo meu convidou-me, em modos de desafio, a escrever um pequeno artigo sobre
cultura popular para ser publicado no jornal “ O Guerra –Zoelae”, perguntando-me
se eu estaria disposto a tal empreendimento. É evidente que sim, pois não tenho
preconceitos para falar do que penso ser importante e para mim preservar o
património do nosso povo é fundamental, sobretudo numa época de “globalização”
em que ele é sistematicamente destruído. Não trato as pessoas pelo seu
«estatuto» social. Para mim as pessoas têm ou não valor por si próprias, por
aquilo que valem e não pelo partido em que militam ou pela «classe» a que
pertencem. Posto isto vamos ao nosso assunto.
A Carta Europeia do
Património Arquitectónico (Conselho da Europa, Amsterdam, 1975) chama a atenção
para o seguinte: “(...) O património
está em perigo. Está ameaçado pela ignorância, pelo envelhecimento, pela
degradação sob todas as suas formas, pelo abandono”. Infelizmente isto
aplica-se também ao nosso património, quer seja oconstruído quer seja o
imaterial. É urgente preservar o que ainda vai existindo, sobretudo o
património não construído, que por isso mesmo, é mais fácil de desaparecer.
Costumo dizer que, sempre que morre um velho (ou uma idosa) desaparece
um arquivo. A vida moderna com a
globalização da cultura, o pouco tempo para se falar com os filhos e os netos, a
televisão, o desfazer da família tradicional, entre outros, despreza o “saber
da experiência feito” dos mais velhos, daqueles que ouviram histórias, contos,
lendas e outros saberes transmitidos por seus pais e avós, à lareira nas longas
noites de invernia ou no amanho dos campos. Hoje, qual novo rico, despreza-se
esta cultura dita «atrasada», «velha», «pobre», «que já não interessa».
Desprezamos esta nossa cultura genuína e substituímo-la pela cultura da
televisão, das telenovelas, da “casa dos segredos”, dos mass media,
contribuindo assim para a macdonalização da cultura. Não tenhamos dúvidas de
que ficamos muito mais pobres.
É urgente sensibilizar, sobretudo a nossa
juventude, para a recolha e preservação da cultura popular. Não para a
«mumificar» em arquivos que se irão encher de pó, mas para a «viver» naquilo
que ela tiver de interessante. Nesta sensibilização tem um papel fundamental as
autarquias, as associações culturais e, sobretudo, as escolas.

Muito mais haveria a
dizer mas, o artigo já vai longo...
Para terminar faço
daqui um apelo a todos os portugueses, a todos os «homens de boa vontade» para
que colaborem na salvaguarda do nosso património, os nossos filhos agradecem,
podem ter a certeza.
António Pimenta de Castro
Hoje, dia oito de Outubro de 2013, em plena Lisboa, seguia no amarelo da carris e viajava para a minha aldeia, Bemposta. Fazia uma visita ao lar e na minha frente as imagens em cinema virtual da minha mente passavam os velhos que lá moram e prometi a mim mesmo que na próxima visita lhe farei uma visita para poder registar as memória vivas que ali vivem. Nem de propósito esta crónica. Concordo que pouca importância tem a cor partidário, o importante somos nós, pessoas vivas que somos! O importante é fazer algo para poder perservar essas memórias vivas que são nosssas.
ResponderEliminarParabéns a Pimenta de Castro.