O mundo infantil é, por
vezes, cruel e competitivo. A violência sobre ele mesmo, sobre os outros e
sobre os animais faz parte do mundo rural, também violento, em que os pais
batem nos filhos e nas mulheres. As crianças vivem num espaço concentracionário
onde a sexualidade é bruta e animal e são precisos rituais, liturgia e mitos.
Em todo o mito há sempre uma componente sacrificial. Aqui o imolado é o Miúdo, jovem pastor surdo e
desajeitado que acaba exposto, durante a
noite, num jazigo do velho cemitério da
aldeia. Em Trás-os-Montes , não
encontramos o Reino Maravilhoso de Torga, mas o isolamento como um espaço entre
a violência e a resignação. Só os cães são dóceis e obedientes, enquanto têm
dono. Todos querem partir. As crianças estão confinadas a uma geografia
diminuta e a um tempo repetitivo. Por vezes, a crueldade sem sentido que
percorre as páginas do romance, a necessidade de se sustentarem em forças
ocultas, sejam objectos, sejam sonhos lembra o Deus das Moscas de William Golding.
Vem este arrazoado a
propósito do romance de Tiago Patrício que ganhou o Prémio Revelação Agustina
Bessa-Luís, cuja apresentação por José Mário Silva e a prof. Anabela Mendes,
decorreu no passado dia 26 na FNAC do Chiado, com uma presença representativa de
originários de Carviçais onde o autor viveu até aos 19 anos. Esta aldeia de
Moncorvo é pródiga em
talentos. Basta recordar Vitor Rocha (Postigo Cerrado, Na Andadura do Tempo) , escritor tão injustamente
esquecido, e António Sagué.
O livro de Tiago Patrício,
editado pela Gradiva, um cosmopolita assumido, um traga-mundos, farmacêutico
como Fialho de Almeida, com 32 anos, mas
a frequentar Literatura e Filosofia na Universidade Nova de Lisboa, é, para
mim, uma das mais agradáveis surpresas, em termos de ficção, deste inquietante
2012.
Rogério Rodrigues
Foto de Rui de Carvalho
Para quando a apresentação deste livro na nossa Biblioteca?Pelo Rogério Rodrigues,pois claro.
ResponderEliminarCom a banda de Carviçais a fazer uma arruada(é assim que se diz?)pela vila ,orgulhosa do seu Patricío(Tiago).
M.C.
Tenho de ler o livro do Tiago Patrício. Sem falta. Vai ser já o próximo.
ResponderEliminarEntretanto, parabéns ao autor.
Um abraço
Júlia Ribeiro