Vejamos
pois, tendo como fonte, exclusiva neste caso, o “Notícias de Trás-os-Montes”,
como a nossa região mudou, ainda que muitos dos temas e necessidades se
mantenham.
Grupo
Desportivo de Moncorvo -- O “Notícias de Trás-os-Montes” publica a um de Julho de 1972, em grande
destaque, a subida do Grupo Desportivo de Moncorvo à III Divisão. Ganhara o
último jogo da distrital contra o Macedo de Cavaleiros. A subida do GDM foi
abrilhantada no jardim de Moncorvo com um grupo musical que fazia a sua
estreia, “Teorema”. Tempos depois tomaram posse os novos corpos
gerentes. Vale a pena referi-los: Almiro Sota, presidente; Fausto Catalão,
vice-presidente; secretário, Eduardo Leite; segundo secretário, José Cavalheiro
Paiva; vogais, António Teixeira, Manuel Tristão e Arnaldo Gonçalves.
Vale a pena
lembrar a equipa inicial: Eurico; Sílvio (actual treinador do GDM), Amadeu,
Custódio e Morais; Favorino e Paçô; Miranda, Vaz, José Manuel e Mateus.
Mas a equipa
não funcionava bem. À quarta jornada levou 8-0 do Lourosa e ainda não tinha
ganho um jogo, nem sequer marcado um golo. À sexta jornada o GDM conseguiu
marcar um golo, ainda que tenha perdido com o Leça por 4-1.O golo do Moncorvo
foi marcado pelo Zé Manuel. O Lourosa liderava a classificação.
Na jornada
seguinte o GDM perdeu com o Limianos por 4-2. Os golos foram marcados pelo
Miranda e pelo Santos. Sílvio já não jogava no GDM.
Na 11ª
jornada o GDM continuava com um ponto apenas. Já não havia nada a fazer.
Saúde-- No segundo semestre de 72 entrou em
funcionamento, na dependência do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de
Moncorvo, o Centro de Saúde do concelho, constituído por dois médicos e
respectivo pessoal de enfermagem, pelo que deixou de funcionar a subdelegação
de Saúde que estava instalada no edifício do Tribunal. Registe-se que, na
altura, a população era superior e os médicos eram apenas dois. Vale a pena
lembrar que então o acesso à saúde tinha muito pouco a ver com as exigências de
hoje.
Comboios-- As linhas do Corgo, Tua e Sabor
acabaram por fechar. Mas o problema não é novo. Há 30 anos, pelo menos, que os
poderes se manifestavam contra o encerramento das linhas. Titula o “Notícias de
Trás-os-Montes” (29.7.72): “Trás-os-Montes opõe-se à supressão dos combóios”.
Já um colunista deste semanário, informa, meses depois, que para vencer os
primeiros 12 quilómetros do Pocinho a Moncorvo, são necessários 49 minutos,
sendo 40 para o percurso e 9 para o serviço e toma de água, o que dá 15
quilómetros à hora como velocidade.
Nos 22
quilómetros de percurso -- do Carvalhal ao Pocinho -- havia 124 curvas. É obra.
Mas as linhas acabaram. Quem as frequentou, sente nostalgia.
Emigração-- Se não fosse a emigração, a
população portuguesa teria sido em 1981 de 9660.000 habitantes, segundo o INE.
Diga-se que só em 1971 (já com a emigração em baixa) são registados mais de 151
mil emigrantes, dos quais 100.797 clandestinos.
Emprego --
Na sua edição de 21.10.72, alicerçado em fontes oficiais, o “Notícias de
Trás-os-Montes” informa que o Serviço Nacional de Emprego, através do seu
Centro de Castelo Branco, oferecia trabalho para homens (mais de 14 anos) a
sete escudos à hora e para mulheres (mais de 14 anos) a quatro escudos, podendo
fazer, homens e mulheres, mais de 10 a 12 horas diárias. O trabalho era
garantido apenas por três meses. Ou seja, para usufruir 70 escudos por dia, e
apenas durante três meses, um homem tinha que trabalhar 10 horas diárias.
Desconheciam-se as horas extraordinárias. Como hoje se quer desconhecer o que
foi este país e como neste país eram tratados os seus filhos.
Cultura -- Hoje seria um acontecimento nacional, com direito a televisões. Mas hoje seria difícil reunir em Mirandela, como foi reunida em Julho de 1972, uma mostra dos grandes nomes da pintura portuguesa. Sigamos o despacho do “Notícias de Trás-os-Montes” que nos dá conta de uma exposição em Mirandela com o patrocínio da Câmara e a colaboração da Galeria Alvarez do Porto.
Antes da
exposição, houve uma palestra sobre o “Romance Moderno e a sua evolução”, pelo
escritor António Rebordão Navarro, cujo romance “Um Infinito Silêncio”, é o
retrato de uma comarca de Trás-os-Montes (Vimioso) onde esteve colocado.
Na exposição
podiam ver-se, entre outros, quadros de Almada Negreiros, Ângelo de Sousa,
Armando Alves, Arpad Szenes, Artur Bual, Dórdio Gomes, Espiga Pinto, João
Hogan, José Rodrigues, Jorge Pinheiro, Júlio Pomar, Júlio Resende, Manuel
Cargaleiro, Nadir Afonso, Nikias Skapinakis, Noronha da Costa, Francisco
Relógio, Vespeira e Vieira da Silva.
Seria hoje
possível uma exposição desta grandeza? E quem seria a grande mente de Mirandela
que na altura foi capaz de organizar ua exposição única, não só a nível do
Nordeste Transmontano, mas a nível nacional? Gostaria de saber quem foi só para
profundamente lhe agradecer.
Arte sacra--
A reportagem é escrita por Afonso Praça na edição de quatro de Novembro de 1972
no “Notícias de Trás-os-Montes”, semanário de que o repórter era
director-adjunto. Trata-se da história do retábulo flamengo de Moncorvo.
Escreve o nosso conterrâneo: “Cerca de sete dezenas de naturais de Moncorvo ou
ali residentes, deslocaram-se a Lisboa e visitaram o Instituto Dr. José de
Figueiredo, anexo ao Museu.
A excursão foi feita a convite do
director do Instituto, dr. Abel Moura, foi organizada pelo delegado local da
Junta Nacional de Educação, dr.Horácio Brilhante Simões. Para muitos, foi uma
revelação; para outros, apenas um passeio a Lisboa; para todos uma certeza: o
retábulo está efectivamente no Instituto Dr. José de Figueiredo, entregue aos
cuidados da pintora Ana Paula Abrantes, diplomada pelo Instituto Real do
Património Artístico de Bruxelas. Pelo sim, pelo não, os moncorvenses acharam
que era melhor vir a Lisboa: é que o retábulo já foi roubado uma vez e
encontrado, meses depois, num antiquário de Guimarães. História que os jornais
contaram e os moncorvenses não esquecem...”
Após este
super lead, Afonso Praça desenvolve a notícia: “Seja como for, a referida obra
de arte recebeu, na altura, tratos de polé: dizia-se que os ladrões pretendiam
enviá-la para os E.U.A. De certeza sabe-se que foi pintada no intuito de a
disfarçar. É desde então que muita gente pensou em mandar restaurar o retábulo,
mas havia um problema: o povo não queria que o “quadro” saísse de Moncorvo. Há
três anos o dr. Horácio Simões, na sua qualidade de delegado da Junta Nacional
de Educação, fez um pedido formal ao Instituto Dr. José de Figueiredo, e no ano
passado apareceram na vila funcionários desta instituição para procederem ao
transporte da obra. Qual quê! O retábulo lá ficou, como acontecera uma vez,
perante a reacção dos moncorvenses que se reuniram junto da igreja, dispostos a
tudo. Recentemente, um carro foi a Moncorvo, carregou o tríptico e trouxe-o
para Lisboa, sem ninguém dar conta. Mas logo a notícia se espalhou pela vila,
como uma bomba. E foi então que surgiu a excursão, cuja finalidade principal
foi de esclarecimento: moncorvenses de várias profissões e categorias sociais
(professores do ensino secundário, comerciantes, trabalhadores rurais,
funcionários públicos) entraram esta manhã no Instituto Dr.José de Figueiredo
com um peso no peito. E o repórter ouviu váris vezes: “Afinal o quadro volta ou
não volta para Moncorvo?” Todos os moncorvenses sabem hoje que o quadro voltou
a Moncorvo e pode ser visto na sua igreja matriz
Pedro Castelhano (2002)
Pedro Castelhano (2002)
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1972 A 2012 SÃO 40 ANOS.O texto tem o rigor de um edital,a leitura de uma fotografia,a lucidez de um visionário,a saudade de um avô,a ternura de uma criança e uma escrita de um professor de latim.Bravo!Não há mais nos forros?
ResponderEliminarLAG
Será isso tudo o que este mcorvense escreveu , mas uma coisa é certa, professor, comerciante, funcionário, rural, doutor, ou seja lá o que for , é mais um dos que ama moncorvo e tem uma memória de se lhe tirar o chapéu. Só depois de ler estes excertos é que me vieram à memória alguns episódios relacionados com a celebre obra e o seu guardião " sr. Julio" . É na igreja de moncorvo que o tríptico de estar. Os anos sessenta e setenta m moncorvo foram muito lindos. Agora a história é outra....
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