Chegados ao Santuário de Nossa Senhora do Amparo, descemo
-nos e fomos cumprimentar que, estando,não estava pois tinha ido dar um passeio
até ao Povo! Domingo seria Páscoa. Antes de me deslocar ao cemitério e na campa
da velhota depositar lindos lírios silvestres,encontrados na berma da estrada
que liga Cerejais a Sendim da Ribeira e a Vilarchão, ainda houve tempo para
pedir à filhota para que tirasse uma fotografia ao belo castanheiro da Lameira
do Vale.
Parecendo estar sozinho é ilusão.Há outras criaturas suas
vizinhas e,também,outra há mais de cem anos que, quando ele desperta para o dia
vê beijar seus pés de altar pelo sol que lhe entra pela friestas da sua capela.
Mas vejam ainda o contraste. Ele, velhote
castanheiro,rodeado de ervas que ainda não foram baptizadas,vê sair do seu seio
ramos verdes anunciadores de mais vidas primaveris.
O seu companheiro,não mais do que uns instantes, mas agora
para a posteridade, graças ao clicar de dedo elegante de filha que nunca se
picou nos ouriços do meu companheiro.
Quantos e quantos romeiros, passantes, ciganos,
aldeões,cabras , ovelhas, vacas, burros e cavalos não terão pedido abrigo do
sol escaldante ou pedido " pão" ao valente castanheiro?
Reparem na força das raízes que,beijando pedras suportadoras
de muro e de terras barrentas que já foram de trigo e agora são de azeite!
Que o diga S.Martinho que se querer se "
emborrachava" na companhia de rapazolas tisnados,em fase de puberdade e de
rebentos ainda noviços, em tempo de de magustos.
Se o Ti António Feijão Pequeno,por contraste com tão gigante
castenheiro,fosse vivo, talvez nos dissesse:este castanheiro é meu e há - de
ser dos meus netos e bisnetos!
E mais diria:Olhe meu senhor que este rapazinho crescidote
já foi de muita gente e de ninguèm! Você não vê que parte das suas raízes vão
ali beber a terreno público e alimenta - se da Lameira do Vale.Em troca de servir
de muro também se alimenta da terra de cima onde agora há oliveiras que já são
mulherzinhas.
E quanto mede de tronco?
Olhe meu senhor só lhe sei dizer que lá para os lados da
Guarda há um primo deste que para o abraçarem são precisos uma meia dúzia de
homens!Eu que sou pequeno e você que está aí de plantão junto dele e os seus
braços não são muito grandes..
Talvez O Rachado,o Lucas, O Cristino e mais meia dúzia de
pares de namorados o saibam medir aquando dos seus jogos de namorados e de
esconde- esconde o possam dizer.
E já reparou na sua altura? Sabe que já deu toneladas de
castanhas e oxalá que continue pois é homem para isso!
Que o diga a minha Maria que, no tempo delas, dia - sim -
dia -não cá vinha com a cesta e levava sempre uma saqueada. Que ricas castanhas
assadas acompanharam a minha jeropiga feita lá na adega! E que belos presuntos
ajudou a criar tanta castanhada! Ainda lhe conto mais:mesmo depois de me
aquecer a casa e as pantufas nos longos invernos que já levo, o maroto do
castanheiro todos os anos nos cumprimenta com seus rebentos,folhas , flores e
frutos outoniços.Outras vezes lembrando -se que está sempre a ser roubado e a
mijarem -lhe ao toro para não dizer outra coisa, zangava- se e dava cá cada
picadela que até os nossos calcanhares se queixavam..
è como tudo na vida!Somos feitos de contrastes.Bons e maus
conforme os dias e os ventos! Mas olhe que até os porcos gostavam do valente
castanheiro...
Artur Salgado
É o amor pela terra,pela natureza,pelas suas raízes, que transparecem nos belos textos de Artur Salgado.
ResponderEliminarParabéns,amigo Artur!
Uma moncorvense
É transparece e não transparecem,claro.
ResponderEliminarUma moncorvence
O Artur consegue verbalizar muito bem o amor que sentimos pela nossa terra. Isto não é apenas um castanheiro imponente. É história viva, é memória viva, é testemunho de vivências, é recordação, é saudade.
ResponderEliminarObrigado amigo Artur.
Um felgarense
Já disse e repito: o Artur Salgado escreve muito bem. De uma rara sensibilidade, e sempre com um toque de humor.
ResponderEliminarUm abraço
Júlia Ribeiro
Que texto bonito e imagem imponente! São as raízes... Parabéns, Artur!
ResponderEliminarAproveito para cumprimentar a Júlia, o Lelo e todos os conterrâneos!
Abraço,
Isabel Mateus
Este Salgado é o irmão do Paco. Estudou no Colégio de MOncorvo e se formou em história? Parabéns pelo texto.
ResponderEliminarOlá Artur Salgado!
ResponderEliminarQue clube enorme de amigos são os nossos "farrapos dr Memórias"!
Gostei do seu texto,mas gostei muito!
Vou estar atenta às suas publicações.
Com gratidão pelas suas generosas e belas palavras à "filhota" de Urros,cuja Mãe tinha um gatinho a quem confiava as máguas da sua vida.
Parabéns!
Irene ou se quiser Ireninha
Olá Artur Salgado!
ResponderEliminarNão me diga ,que é aquele "rapazinho" do Colégio Campos Monteiro!
Desculpe lá essas "mágoas", mas a idade não perdoa,e a falta de óculos...
Com admiração da :
Irene
Sim rapazinho com dúzia de e mais dois aninhos, admiradores do Bom Velho Dr. Ramiro e Ti Antoninho. Era pequenino mas rijinho..e depois de sair da automotora, gelados e ensonados, sem mentira digo que digo que era o primeiro ou dos primeiros a entrar para o Colégio que de tão franco e humanista quase nem fechava suas portas nem janelas...
ResponderEliminarUm dia, no futuro se proporcionar, falaremos e recordaremos memórias de Colégio..
Um Abraço de amizade
Do " rapazinho" que era traquina mas respeitador.
Artur Salgado