domingo, 6 de maio de 2012

O Castanheiro: contrastes humanos e da natureza:

Chegados ao Santuário de Nossa Senhora do Amparo, descemo -nos e fomos cumprimentar que, estando,não estava pois tinha ido dar um passeio até ao Povo! Domingo seria Páscoa. Antes de me deslocar ao cemitério e na campa da velhota depositar lindos lírios silvestres,encontrados na berma da estrada que liga Cerejais a Sendim da Ribeira e a Vilarchão, ainda houve tempo para pedir à filhota para que tirasse uma fotografia ao belo castanheiro da Lameira do Vale.
Parecendo estar sozinho é ilusão.Há outras criaturas suas vizinhas e,também,outra há mais de cem anos que, quando ele desperta para o dia vê beijar seus pés de altar pelo sol que lhe entra pela friestas da sua capela.
Mas vejam ainda o contraste. Ele, velhote castanheiro,rodeado de ervas que ainda não foram baptizadas,vê sair do seu seio ramos verdes anunciadores de mais vidas primaveris.
O seu companheiro,não mais do que uns instantes, mas agora para a posteridade, graças ao clicar de dedo elegante de filha que nunca se picou nos ouriços do meu companheiro.
Quantos e quantos romeiros, passantes, ciganos, aldeões,cabras , ovelhas, vacas, burros e cavalos não terão pedido abrigo do sol escaldante ou pedido " pão" ao valente castanheiro?
Reparem na força das raízes que,beijando pedras suportadoras de muro e de terras barrentas que já foram de trigo e agora são de azeite!
Apetece perguntar de quem será esta criatura da natureza? Tão forte! Tão alta e de tanta fartura passada e tão generoso a matar a fome a garotada e a outros.
Que o diga S.Martinho que se querer se " emborrachava" na companhia de rapazolas tisnados,em fase de puberdade e de rebentos ainda noviços, em tempo de de magustos.
Se o Ti António Feijão Pequeno,por contraste com tão gigante castenheiro,fosse vivo, talvez nos dissesse:este castanheiro é meu e há - de ser dos meus netos e bisnetos!
E mais diria:Olhe meu senhor que este rapazinho crescidote já foi de muita gente e de ninguèm! Você não vê que parte das suas raízes vão ali beber a terreno público e alimenta - se da Lameira do Vale.Em troca de servir de muro também se alimenta da terra de cima onde agora há oliveiras que já são mulherzinhas.
E quanto mede de tronco?
Olhe meu senhor só lhe sei dizer que lá para os lados da Guarda há um primo deste que para o abraçarem são precisos uma meia dúzia de homens!Eu que sou pequeno e você que está aí de plantão junto dele e os seus braços não são muito grandes..
Talvez O Rachado,o Lucas, O Cristino e mais meia dúzia de pares de namorados o saibam medir aquando dos seus jogos de namorados e de esconde- esconde o possam dizer.
E já reparou na sua altura? Sabe que já deu toneladas de castanhas e oxalá que continue pois é homem para isso!
Que o diga a minha Maria que, no tempo delas, dia - sim - dia -não cá vinha com a cesta e levava sempre uma saqueada. Que ricas castanhas assadas acompanharam a minha jeropiga feita lá na adega! E que belos presuntos ajudou a criar tanta castanhada! Ainda lhe conto mais:mesmo depois de me aquecer a casa e as pantufas nos longos invernos que já levo, o maroto do castanheiro todos os anos nos cumprimenta com seus rebentos,folhas , flores e frutos outoniços.Outras vezes lembrando -se que está sempre a ser roubado e a mijarem -lhe ao toro para não dizer outra coisa, zangava- se e dava cá cada picadela que até os nossos calcanhares se queixavam..
è como tudo na vida!Somos feitos de contrastes.Bons e maus conforme os dias e os ventos! Mas olhe que até os porcos gostavam do valente castanheiro...
Artur Salgado

9 comentários:

  1. É o amor pela terra,pela natureza,pelas suas raízes, que transparecem nos belos textos de Artur Salgado.
    Parabéns,amigo Artur!

    Uma moncorvense

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  2. É transparece e não transparecem,claro.

    Uma moncorvence

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  3. O Artur consegue verbalizar muito bem o amor que sentimos pela nossa terra. Isto não é apenas um castanheiro imponente. É história viva, é memória viva, é testemunho de vivências, é recordação, é saudade.
    Obrigado amigo Artur.

    Um felgarense

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  4. Já disse e repito: o Artur Salgado escreve muito bem. De uma rara sensibilidade, e sempre com um toque de humor.

    Um abraço
    Júlia Ribeiro

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  5. Que texto bonito e imagem imponente! São as raízes... Parabéns, Artur!

    Aproveito para cumprimentar a Júlia, o Lelo e todos os conterrâneos!

    Abraço,

    Isabel Mateus

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  6. Este Salgado é o irmão do Paco. Estudou no Colégio de MOncorvo e se formou em história? Parabéns pelo texto.

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  7. Olá Artur Salgado!
    Que clube enorme de amigos são os nossos "farrapos dr Memórias"!
    Gostei do seu texto,mas gostei muito!
    Vou estar atenta às suas publicações.
    Com gratidão pelas suas generosas e belas palavras à "filhota" de Urros,cuja Mãe tinha um gatinho a quem confiava as máguas da sua vida.
    Parabéns!
    Irene ou se quiser Ireninha

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  8. Olá Artur Salgado!
    Não me diga ,que é aquele "rapazinho" do Colégio Campos Monteiro!
    Desculpe lá essas "mágoas", mas a idade não perdoa,e a falta de óculos...
    Com admiração da :
    Irene

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  9. Sim rapazinho com dúzia de e mais dois aninhos, admiradores do Bom Velho Dr. Ramiro e Ti Antoninho. Era pequenino mas rijinho..e depois de sair da automotora, gelados e ensonados, sem mentira digo que digo que era o primeiro ou dos primeiros a entrar para o Colégio que de tão franco e humanista quase nem fechava suas portas nem janelas...
    Um dia, no futuro se proporcionar, falaremos e recordaremos memórias de Colégio..

    Um Abraço de amizade

    Do " rapazinho" que era traquina mas respeitador.

    Artur Salgado

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