Vinhos, azeites, enchidos, queijos – os produtos de
Trás-os-Montes e Alto Douro preparam-se para entrar em força nos mercados de
Angola e do Brasil, num projecto de internacionalização impulsionado pela Rota
do Azeite. O primeiro passo será a abertura, prevista para Agosto, de um
supermercado com a marca PITER (produtos de identidade territorial) em Luanda.
O espaço, explicou ao PÚBLICO Jorge Morais, presidente
executivo da Rota do Azeite, incluirá, para além do supermercado onde 90% dos
produtos são da região, uma cafetaria, uma agência de viagens e um centro
empresarial com gabinete de consultoria nas áreas de contabilidade e serviços
jurídicos, que apoiará os empresários que queiram investir em Angola. Tudo
possível graças à parceria com um sócio angolano, ligado ao sector do turismo e
à área alimentar, que arcou com todo o investimento – 2,5 milhões de euros
nesta fase inicial.
A ideia é que a partir daqui surja uma rede destes
supermercados em todas as províncias de Angola, e que depois esta se alargue a
outros países de África Austral, sempre com o mesmo sócio, com o qual existe um
contrato de exclusividade para este alargamento.
Mas se o projecto angolano é o que está mais avançado, muito
em breve também o estado de São Paulo, no Brasil, receberá os produtos de
Trás-os-Montes e Alto Douro. No caso brasileiro a abordagem foi diferente,
afirma Jorge Morais. “O Brasil era para ser o projecto-piloto da nossa
estratégia de internacionalização. Mas fomos confrontados com a burocracia
brasileira a nível do licenciamento de alguns dos produtos”.
Se o vinho ou o azeite não representam problema, o mesmo não
acontece com produtos como os queijos ou os enchidos – e é preciso não esquecer
que um dos grandes trunfos da região é, precisamente, a alheira de Mirandela e
todos os produtos de fumeiro. Para além do custo de licenciamento de cada
rótulo, incomportável para produtores de menor dimensão, há ainda o problema
dos prazos longuíssimos necessários para obter esses licenciamentos.
Apesar disso, através de parcerias com empresas importadoras
já estabelecidas no Brasil, o projecto vai avançar, e prevê a colocação dos produtos
de Trás-os-Montes e Alto Douro em 250 lojas da região de São Paulo. A grande
aposta do PITER é a diáspora, e sobretudo a diáspora transmontana. Acontece que
o presidente da Associação de Padarias do Estado de São Paulo é um
transmontano. “Foi esse o canal que nos permitiu chegar às padarias
portuguesas, que são 24 mil. Vamos agora abrir um concurso para, entre estas,
escolher 250 que possam funcionar como postos de venda e showrooms”, explica o
responsável da Rota do Azeite, sublinhando que existe também uma parceria com
um banco português que financiará as padarias interessadas.
O grande objectivo é a promoção dos produtos de
Trás-os-Montes e Alto Douro não só nestes dois países, mas noutros que estão a
ser estudados. Mas “à boleia” dos produtos transmontanos poderão ir outros, de
diferentes regiões. Segundo Jorge Morais, existe já uma parceria com A Poveira,
empresa de conservas da Póvoa do Varzim, sendo que a única condição para que as
conservas possam fazer parte deste pacote é utilizarem azeite transmontano.
O mesmo acontece com a parceria estabelecida com os
fabricantes de chocolate da Casa Grande, que estão neste momento a desenvolver
um bombom com o azeite de Trás-os-Montes. Outro produto em estudo é um
chocolate com mel do Moxico, Angola, cuja cooperativa é presidida pelo sócio
angolano da Rota do Azeite.
Para além dos produtos de maior visibilidade, a Rota do
Azeite – que une 15 concelhos da região e integra as Rotas do Douro, juntamente
com a do Vinho do Porto e das Vinhas de Cister – vai ainda comercializar em
Angola, Brasil e outros futuros mercados, azeitonas, amêndoa e outros frutos
secos, cogumelos e ervas aromáticas. Parceira fundamental de todo este processo
é a Confraria de Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro, entidade
que certifica a qualidade dos produtos, através da atribuição de um selo da
Confraria, depois de uma avaliação feita por prova cega.
Para além dos projectos em curso, a PITER está já a preparar
a presença em feiras internacionais em 2015, apostando em quatro ou cinco
países europeus, e tem entre os seus planos a organização de um festival anual
da Alheira de Mirandela em Luanda.
Retalho português em Angola
Há muito que Portugal marca presença no mercado de retalho
angolano. O Grupo Teixeira Duarte está no negócio da distribuição alimentar
naquele país desde 1996, aproveitando a liberalização do comércio, antes
controlado e detido pelo Governo. Através da sua empresa, a CND, detém a
grossista Maxi e as lojas Bom Preço.
Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/produtos-de-trasosmontes-entram-em-forca-em-angola-e-brasil-1663560
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