quarta-feira, 9 de julho de 2014

O SR. PADRE REBELO – O HOMEM, O COLEGA E O MESTRE, por António Pimenta de Castro

   “Mestre, meu Mestre”, revejo-te na poeira do tempo e nas palavras que dizem saber de ti. Sossego as tuas mãos trementes na memória de um perfil gregoriano, atento à vida e aquém do que ela te oferecia. Ávido do Saber e da alma genuína das gentes transmontanas. Do teu olhar, qual janela para além do infinito, sinto a angústia da existência. Como se fosse ontem. Como se fosse agora…[1]
   
                                                                         António Alberto Barbosa Areosa
                   
Padre Rebelo e Leonel Brito .Felgar 1979
            Tive o privilégio de conhecer o Sr. Padre Rebelo, logo no ano em que fui colocado a leccionar, pela primeira vez, na então denominada, Escola Secundária de Torre de Moncorvo no, já longínquo ano lectivo de 1984/85. Vinha eu da cidade de Beja, onde fui docente na Escola Secundária da referida cidade alentejana. Torre de Moncorvo, só a conhecia de passagem. No início desse ano lectivo, tudo era novo e estranho para mim. Quando entrava na sala dos professores, não conhecia nenhum colega, pelo que me encostava no meu “cantinho”, a ler um livro ou simplesmente num silêncio algo acanhado. Num belo dia, ao reparar na minha atitude um pouco envergonhada, um senhor, já de certa idade, dirigiu-se a mim e começou a “meter conversa”, nitidamente para me ajudar a adaptar á minha nova escola. Esse Senhor era o Sr. Padre Rebelo. A partir dessa altura, em quase todos os intervalos escolares, o Sr. Padre Rebelo passou a ser a minha companhia. Pouco tempo depois éramos amigos e, com o decorrer dos anos, a nossa amizade tornou-se cada vez mais profunda. Jamais me esquecerei desta sua atitude generosa, tão importante para mim. Foi ele que, nessas conversas na sala dos professores, na biblioteca escolar, no seu escritório no Asilo Francisco Meireles, ou simplesmente no café, me iniciou no estudo da cultura Transmontana e Alto Duriense. Foi ele que me incutiu o gosto pela defesa do património cultural, artístico, histórico e arqueológico da nossa região. O Sr. Padre Rebelo foi registando em letra de forma, ao longo de toda a sua vida, tudo o que foi encontrando de interesse em Trás-os-Montes e Alto Douro e mostrava-me esses registos, quase todos eles repletos de anotações, feitas à mão, nas margens do texto. O Sr. Padre Rebelo gostava de partilhar os saberes, não os guardava egoisticamente só para si. Que diferença de outros que se auto intitulam investigadores e pensam que são donos exclusivos do património cultural…com ele, aprendi que a cultura deve ser partilhada.
 Por tudo isto, fiquei marcado para sempre pela sincera amizade desta incontornável personagem da cultura transmontana. Era um homem de bem, de uma simplicidade invulgar, com uma ironia fina e uma cultura assombrosa. Demonstrando a abertura do seu generoso coração e uma indesmentível amizade, quantas vezes desabafou comigo. Para além da partilha de saberes, contava-me das invejas de que era alvo, das incompreensões de que era vítima, e dos falsos amigos que o rodeavam, mas a esses, conhecia-os ele muito bem… O Sr. Padre Rebelo foi um verdadeiro Mestre para mim, bem como para as muitas gerações que com ele tiveram o privilégio de conviver, pelo que nunca mais o esquecerei. Como muito bem escreveu o meu amigo e escritor Rogério Rodrigues:”Mas será sempre reconhecido como um homem justo que, através dos caminhos complexos da simplicidade, atingiu a harmonia. Chamem-lhe perfeição, chamem-lhe proximidade com Deus. Eu chamo-lhe plenitude. (…) Hoje, à distância destes anos todos compreendo que a tolerância não se prega, antes se pratica. Foi esta a mensagem que o padre Rebelo nos deixou (…)[2]. Ou, como o reconheceu o Dr. Mário Soares, então Presidente da República: “ (…) ao serviço da comunidade como padre, historiador, etnólogo e docente, especialmente de português, deixando atrás de si uma obra importante, que emana de um homem de recta consciência”[3]. Ou, ainda como deu testemunho o seu antigo aluno, Dr. Álvaro Leonardo Teixeira: “Ele foi o professor de Português que me ensinou a amar a língua, o gosto pela literatura e por escrever”[4]. Penso que estas palavras, ditas por pessoas que o conheceram bem, traduzem magnificamente a personalidade a cultura e a sabedoria do Sr. Padre Rebelo. Era um homem profundamente estimado.   


            Penso que é urgente reunir e publicar, tudo o que ele escreveu e reuniu ao longo da sua vida. O que não é fácil, diga-se, na medida em que, para além dos opúsculos, separatas e livros que publicou, há um imenso espólio, que é difícil localizar e muitos outros textos dispersos em vários jornais e revistas, que é preciso reunir. Mas é uma tarefa que urge realizar, sobretudo para aqueles que se dizem seus discípulos. É tempo de passar das palavras aos actos…Recordando a sua memória, dir-lhe-ei apenas: Obrigado por tudo o que me ensinaste e, no sítio onde estiveres, meu bom amigo Padre Rebelo, que o Criador te dê a Luz, tu mereces! Por tudo o que fizestes, Bem Hajas! Paz à tua Alma!
 Joaquim Manuel Rebelo nasceu em Vila Nova de Foz Côa, no dia 13 de Março de 1922. Seu pai, Manuel António Rebelo, natural da aldeia do Poço do Canto, concelho da Meda, era soldado da Guarda Nacional Republicana. Sua mãe, D. Maria Cândida Leocádio, era doméstica e natural de Vila Nova de Foz Côa. O pai do Sr. Padre Rebelo conheceu a sua futura esposa, quando estava colocado no posto da Guarda Nacional Republicana, em Vila Nova de Foz Côa. O Sr. Padre Rebelo tinha só um irmão (falecido ainda à poucos anos), chamado João dos Santos Rebelo, natural de Freixo de Numão (como o pai era soldado da GNR, era colocado em vários localidades, daí o Sr. João dos Santos Rebelo, ter nascido nesta terra do concelho de Vila Nova de Foz Côa). Este seu irmão foi funcionário do Tribunal e vivia, ultimamente, já reformado, na cidade de Coimbra, daí o Sr. Padre Rebelo se deslocar tantas vezes à Lusa Atenas e, quando era internado, o ser no Hospital dos Covões, onde, aliás, viria a falecer.
Os “Rebelos”, da família do Sr. Padre Rebelo, são da Meda, mais concretamente da aldeia do Poço do Canto. Segundo me disse o ilustre causídico e poeta Sr. Dr. Manuel Pires Daniel, parente do Sr. Padre Rebelo e que habita em Vila Nova de Foz Côa, os “Rebelos” têm origem muito remota, em Espanha, na zona de Leão, e o nome Joaquim é muito comum entre estes “Rebelos”.
O pai do Sr. Padre Rebelo, como militar que era, foi colocado, depois, no posto da Guarda Nacional Republicana em Torre de Moncorvo, fazendo-se acompanhar de toda a família. Quando vieram para Moncorvo, teria o jovem Joaquim Manuel Rebelo, cerca de 5 ou 6 anos. Habitaram sempre, na zona antiga da vila, sobretudo na Rua do Poço, que dá para a rua dos sapateiros.
Joaquim Manuel Rebelo frequentou a escola primária em Torre de Moncorvo, na escola da Corredoura, tal como o seu irmão João.
Seu pai viria a falecer na cidade de Bragança, onde se encontrava hospitalizado, com a, infelizmente célebre, pneumónica. O pai do Sr. Padre Rebelo está sepultado no cemitério de Bragança (embora residisse em Moncorvo), no talhão dos militares, por a família não ter posses para transladar o seu féretro para Torre de Moncorvo. Com esta morte, a família Rebelo entrou em sérias dificuldades económicas. O jovem Joaquim Manuel Rebelo teria cerca de 11 anos quando o seu pai faleceu, por volta de 1933.
Em Outubro de 1934 entrava para o seminário de Vinhais. Frequentou, depois, o seminário de Bragança, onde concluiu o curso de Teologia, com 15 valores, em Junho de 1945. Foi ordenado sacerdote (recebeu a Ordem ou sacramento), nesta mesma cidade de Bragança, a 26 de Agosto de 1945, pelo bispo D. Abílio Augusto Vaz das Neves[5]. A sua “Missa Nova” foi celebrada em Torre de Moncorvo, na sua belíssima Igreja Matriz, no dia 9 de Setembro de 1945.
A 25 de Outubro de 1945, foi nomeado pároco da freguesia de Múrias, concelho de Mirandela, onde deixou muitos e bons amigos. Seguidamente, em 11 de Agosto de 1949, foi nomeado pároco das freguesias de Castêdo da Vilariça e Vide, já no concelho de Moncorvo. Daqui em diante, o Sr. Padre Rebelo, jamais sairá, como sacerdote, do concelho de Moncorvo. Em 2 de Agosto de 1950, é nomeado pároco do Felgar, concelho de Moncorvo, cargo que ocupará até 9 de Dezembro de 1974. Ele vai “marcar”, com o seu dinamismo esta freguesia, assim como será marcado por ela, ao longo de toda a sua vida. Esta paróquia vai ficar-lhe para sempre no coração, a que não é alheio o facto de ter gasto nela os melhores anos da sua vida, como jovem sacerdote. Aqui vai realizar uma obra extraordinária. Restaura a Igreja (restauro que foi quase uma construção) e construiu a residência paroquial. Fará uma obra memorável junto dos mineiros da Ferrominas, apoiando-os nas suas necessidades materiais e espirituais. Nesses tempos difíceis, os operários da Ferrominas tinham no seu pároco um verdadeiro amigo, que os apoiava, intercedendo por eles, sempre que era necessário. Foi um contributo, que evidencia o carácter humanista deste sacerdote, sensível aos problemas destes mineiros, na altura quase indefesos, do ponto de vista laboral. Nesta freguesia, dinamiza a Acção Católica, tornando-a uma das boas secções, desta organização católica, da Diocese.     
É aqui, no Felgar, que vai começar a recolher e a pôr em letra de forma, muitas tradições (como a Encomendas das Almas, jogos tradicionais, provérbios, etc, etc, etc.) que fazem parte do património cultural de Trás-os-Montes e Alto Douro. Desta sua recolha, “ A Encomendação das Almas”, vão os seus e meus amigos, Rogério Rodrigues e Leonel de Brito fazer uma excelente filmagem (este seu trabalho serve de guião às respectivas filmagens), que, recentemente reeditada, chegou às nossas mãos e que muito apreciei. Neste tempo, começa a fazer relações de amizade e a participar em tertúlias culturais, com outros intelectuais da região, como por exemplo, o Professor Doutor Adriano Vasco Rodrigues, o Dr. Santos Júnior, o Dr. Armando Pimentel (dos Estevais de Mogadouro), o Dr. Casimiro de Moraes Machado, de Mogadouro e o padre Mourinho, de Miranda do Douro, mais propriamente pároco da aldeia de Duas Igrejas, onde fez uma obra notável, entre muitas outras, com os pauliteiros e cultura mirandesa.
 Fixou residência no Felgar, freguesia que mal conhecia, pois como ele próprio disse: “De facto não conhecia Felgar, pois, apenas aqui estivera uma ou duas vezes quando estudante”[6]. 
Sua mãe viveu sempre com ele, desde que se ordenou. A D. Maria Cândida Leocádio, foi viver com o Sr. Padre Rebelo e com uma empregada, para o Felgar, onde viria a falecer no dia 18 de Setembro de 1973. A sua mãe encontra-se sepultada, actualmente, no cemitério de Moncorvo, na mesma campa do seu filho Sr. Padre Rebelo.
Foi ainda nomeado pároco do Souto da Velha, anexa a Felgar, de 1 de Agosto de 1954 a 9 de Dezembro de 1974. Finalmente, a 10 de Dezembro de 1974, foi nomeado pároco da freguesia do Larinho, também do concelho de Moncorvo, cargo que tomou posse em 1/1/1975.
Foi nomeado capelão do Asilo Francisco Meireles de Torre de Moncorvo, onde passou a viver, em 10/12/1974, tomou posse a 1/1/1975, cargo que ocupou até falecer. Foi nomeado capelão do Carmelo da Sagrada Família, de Moncorvo, a 10/12/1974, cargo que tomou posse a 1/1/1975.  
A par da vida sacerdotal e social, o Sr. Padre Rebelo começou a exercer a actividade docente, desde o ano lectivo de 1964/65, no Externato Nossa Senhora de Fátima, em Carviçais. Mas a escola que o haveria de marcar, como pedagogo e como brilhante professor de português, foi a Escola Secundária de Torre de Moncorvo. Antes de ser docente nesta escola, o Sr. Padre Rebelo leccionou na Escola Industrial de Moncorvo, então dirigida pelo grande escritor A. Pires Cabral.
A viver no Felgar, o Sr. Padre Rebelo começou a ser uma figura notável de Moncorvo. Contudo, desde que fixou residência no Asilo Francisco Meireles, perto da vila, a sua presença era mais assídua na urbe moncorvense, sendo habitual vê-lo, em amena cavaqueira, na Praça da vila, qual autêntico ágora da aristocrática vila transmontana. Aí, junto ao café que existe na Praça, à sombra de uma árvore, abrigando-se da canícula do Verão, ou à porta de um estabelecimento comercial, quando fazia mau tempo, todos os dias, sobretudo à tarde, lá estava ele, rodeado por um círculo de amigos e paroquianos de todas as classes sociais, a contar histórias, a dar conselhos, ou simplesmente a cavaquear. De certo que a Serra do Reboredo inspirou a sua alma sensível, ao ponto de lhe chamar a «virgiliana mata».
O Sr. Padre Rebelo era um orador notável. De facto, tinha o dom da palavra, quer da palavra sagrada, quer da palavra profana e, sempre que celebrava missa no Carmelo da Sagrada Família, a igreja deste convento enchia-se só para o ouvir falar.
O interesse do Sr. Padre Rebelo pela cultura começou bem cedo. Ficou-lhe bem assinalada na memória uma visita que fez ao douto Abade de Baçal, quando era seminarista, teria ele 16 ou 17 anos. Nessa visita, o sapiente Abade ter-lhe-ia dito uma frase que lhe ficou retida na memória: “Os Párocos se não pensam nos livros, pensam necessariamente na porcaria (…) Esta frase, e a obra monumental do Abade, assim como os exemplos dados, entre outros, pelos ilustres padres bragançanos – José de Castro, Firmino Martins e José Augusto Tavares, no campo da história, etnografia, arqueologia, epigrafia, folclores, etc, despertaram em mim o desejo de os tomar por mestres, e levaram-me a dedicar os pouco ócios da minha vida sacerdotal ao estudo e à recolha de tudo o que se relacionasse com o modo de viver e pensar do povo de Trás-os-Montes e Alto Douro, sobretudo do Nordeste[7]”.
E o Sr. Padre Rebelo tem uma extensa e interessante obra publicada e, sobretudo recolhida e não publicada. Como ele escreveu a respeito da publicação do seu último livro “A Terra Transmontana e Alto Duriense”: “Mas, o que, aqui, se refere é apenas uma pequeníssima amostra da grande quantidade de materiais (orações, quadras populares, jogos de roda, provérbios, etc.) que fui juntando ao longo dos anos[8]”. Todo esse trabalho de recolha foi, como ele referiu:”Foi feito com amor. Custou tempo…”[9].
O Sr. Padre Rebelo foi membro das seguintes Sociedades Científicas:
·       Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, do Porto, desde 24 de Outubro de 1967;
·       Sociedade de Língua Portuguesa, Lisboa, desde 23 de Janeiro de 1958, tendo-lhe sido passado o Diploma, em 5 de Junho de 1975:
·       Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, desde 1986.

Reconhecendo o seu profícuo trabalho e o seu mérito intelectual, na preservação do património humano e histórico da região e a dedicação de toda uma vida a Moncorvo, sua terra adoptiva, o Sr. Padre Rebelo foi homenageado pela Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, sendo seu presidente o Eng. Aires Ferreira, com o título de Cidadão Honorário de Torre de Moncorvo, em 20 de Fevereiro de 1995. O referido diploma de Cidadão Honorário de Torre de Moncorvo, foi-lhe entregue pelo Sr. Presidente da República, Dr. Mário Soares, em sessão solene, no Cine-Teatro de Moncorvo, no referido dia 20 de Fevereiro de 1995.
            Era a consagração pública realizada pela Câmara Municipal de Moncorvo, mais do que merecida, a que presidiu o mais alto magistrado da nação.
            Também a Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado, lhe prestou uma merecida homenagem, atribuindo o seu nome à biblioteca da sua escola, hoje sede do Agrupamento de Escolas de Moncorvo e também a publicação de um livro intitulado “Subsídios Para Uma Biografia de Joaquim Manuel Rebelo (Sr. Padre Rebelo)”, da minha autoria, com a Edição da Escola Dr. Ramiro Salgado e o apoio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, publicado em 2006. 
            De entre a sua vasta bibliografia, destacamos: “Achega Para o Estudo Do Romanceiro de Trás-os-Montes e Alto Douro”; “Pequeno Subsídio Para Uma Paremiologia Teológica”; “Quadros de Folclore de Trás-os-Montes e Alto Douro”; “Resenha Histórica de Torre de Moncorvo”; “A Encomendação das Almas Nos Conselhos de Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta”; “O Jogo da Cabra Cega”; “Construir-se-á, Desta vez a Sé de Bragança?”; “Para a História da Imprensa em Trás-os-Montes e Alto Douro”; “Uma Visita que não se fez – O escritor Argentino Dr. Jorge Luís Borges pensou visitar Torre de Moncorvo”; “O Culto dos Mortos no Nordeste de Trás-os-Montes e Alto Douro”; “Convento de São Francisco de Torre de Moncorvo”; “A Terra Transmontana e Alto Duriense” e o prefácio da “Monografia da Senhora da Teixeira” do Padre J. Tavares (Abade Tavares), para além de muitos outros[10].
            A nível eclesiástico, ocupou inúmeros cargos dento da Igreja, que estão referidos, ao pormenor, no meu citado livro.
            Para além de inúmeros Congressos, Colóquios e outros eventos culturais, o Sr. Padre Rebelo, escreveu nos seguintes jornais e revistas: “O Comércio do Porto” (diário da cidade do Porto); “A Torre” (quinzenário de Torre de Moncorvo); “Mensageiro de Bragança” (semanário de Bragança); “Novidades – Página Literária” (diário da cidade de Lisboa); “A Voz de Penela” (Quinzenário de Penela); “Boletim do Grupo de Amigos de Bragança” (revista publicada na cidade de Bragança); “Revista de Etnografia” (revista publicada na cidade do Porto); “Lúmen” (revista publicada em Lisboa); “Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa (revista); “Trabalhos de Antropologia e Etnografia” (revista publicada no Porto); “Tellus” (revista publicada em Vila Real); “Diário de Lisboa” (diário, publicado em Lisboa); “Diário Popular” (diário, publicado em Lisboa); “Vários jornais da Escola Secundária de Moncorvo; Revista “Lucerna” (cadernos de arqueologia do Centro de Estudos Humanísticos (revista anexo da Universidade do Porto); “O Fozcoense” (quinzenário publicado em Vila Nova de Foz Côa); “Brigantia” (revista publicada em Bragança); “A Voz do Nordeste” (quinzenário publicado em Bragança); “O Cardo” (quinzenário publicado em Bragança); “Terras e Gentes” (Boletim da Associação de Municípios (Meda, Vila Nova de Foz Côa e S. João da Pesqueira e “Terra Quente” (quinzenário publicado em Mirandela).
            Em síntese e para finalizar, vou transcrever o que escreveu, o jornalista e escritor Moncorvense Rogério Rodrigues (que foi seu colega no ensino secundário em Moncorvo), sobre o Sr. Padre Rebelo, no jornal “A Voz do Nordeste”, no já longínquo ano de 1992, que eu subscrevo totalmente: “(…) Presença discreta de Deus, discreto tem passado pela vida; padre como ofício, mas sobretudo padre por missão, arredado dos bens temporais, ainda que homem do seu tempo; formiga persistente na procura das raízes transmontanas, dos filamentos mais sensíveis às expressões nodosas de existências seculares, o padre Rebelo é sempre, em todos os que o conhecem, uma referência de afecto, um quotidiano de fluir tolerante, como se em voz sussurrada pedisse desculpa à vida por mais cada dia que passa.
            Convivemos ambos como professores do secundário em Moncorvo, sob a direcção de António Manuel Pires Cabral. Antes do 25 de Abril. Quando eram maiores as margens da utopia e na maré das recusas, jovem que eu era, jovens que nós éramos, arvorava-mos uma ingenuidade intolerante. Pensava-mos, eu e outros companheiros de ensino, que poderíamos transformar o Mundo sem que as pessoas se transformassem. Puxava-mos da recusa, ostentava-mos a resistência, mas o padre Rebelo era um oásis nesta procura de caminhos, no caos e nos labirintos em que habitávamos. Excessivos, íamos então procurá-lo a casa.
            Hoje, à distância destes anos todos, compreendo que a tolerância não se prega, antes se pratica. Foi esta a mensagem que o padre Rebelo nos deixou, quando o provocávamos, quando por ventura o feríamos por afecto.
            Era pároco no Felgar (…), fazia enterros e baptizados, não levava dinheiro, era a expressão incómoda da fé para um agnóstico como eu. Nunca me tentou converter, antes me fez compreender, pelo seu comportamento face à vida, que o homem se define pelo bem e pela solidariedade com os outros. (…) Hoje, ao fim de sete décadas, o padre Rebelo vive num modesto quarto do Asilo Francisco Meireles, capelão, entre velhos e crianças, onde a serra começa e o olhar se expande.
            Como o Abade de Baçal e o cónego Tavares procura os fundamentos da “alma” transmontana. Não terá, por certo, as honrarias mundanais de um púlpito de catedral, nem as sinecuras que abundam lhe irão bater à porta; muito menos será glorificado pelos grandes do momento e abençoado pelo efémero. Mas será sempre reconhecido como homem justo que, através dos caminhos complexos da simplicidade, atingiu a harmonia. Chamem-lhe perfeição, chamem-lhe proximidade com Deus. Eu chamo-lhe plenitude. Bem haja, nesta hora de crepúsculo em que o Homem se procura[11]”.
            Pelo que foi dito, penso que é da mais elementar justiça, que Torre de Moncorvo deve promover uma memorável homenagem ao Sr. Padre Rebelo.
            O Sr. Padre Rebelo faleceu em 19 de Junho de 1995, pelas 10 horas e 30 minutos, na freguesia de São Martinho do Bispo, concelho de Coimbra (no Hospital dos Covões), com 73 anos de idade, vítima de uma embolia pulmonar. Quis ser sepultado no cemitério de Moncorvo, na campa juntamente com a sua mãe. O funeral realizou-se no dia 20 de Junho de 1995. Juntos dormem, em terra moncorvense, o sono eterno.
            Quanto a mim, resta despedir-me do amigo leitor, com os olhos rasos de água de saudades deste meu querido amigo.
            A ti, meu bom amigo Padre Rebelo, quero agradecer-te, uma vez mais, a sabedoria que partilhaste comigo, o ajudar-me a “abrir os olhos” para a cultura transmontana, mas sobretudo a tua doce amizade, a tua mão amiga, a tua camaradagem desinteressada, a lição da tua humildade. Foi bom ter sido teu colega. És um Amigo que jamais esquecerei! E, no lugar onde estiveres, que Deus te dê a Luz, tu mereces. Até um dia, meu Amigo…

                                                                             Por: António Pimenta de Castro       

[1] - Em “Duas Palavras”, no Livro “Subsídios Para Uma Biografia de Joaquim Manuel Rebelo (Sr. Padre Rebelo), página 13, o livro supracitado, é da autoria de António Pimenta de Castro, Edição da Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado e com o Apoio de Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, Torre de Moncorvo, 1ª Edição, 2006. 
[2] - No artigo Joaquim Rebelo, Padre, 70 anos de idade, Voz do Nordeste, 1992.
[3] - Palavras do Presidente da República, Dr. Mário Soares, na homenagem ao Padre Rebelo, em 20 de Fevereiro de 1995, em Torre de Moncorvo.
[4] - Álvaro Leonardo Teixeira, no 1º Encontro de Professores de Português do Douro Superior.
[5] -Informação que me foi fornecida pelo irmão do Sr. Padre Rebelo.
[6] - Entrevista ao “Mensageiro de Bragança”, em 27/04/1963.
[7] - Joaquim Manuel Rebelo – “O Culto dos Mortos no Nordeste de Trás-os-Montes a Alto Douro”, pág. 3, Torre de Moncorvo, 1967.
[8] - Joaquim Manuel Rebelo – “A Terra Transmontana e Alto Duriense”pág 5, Torre de Moncorvo, 1995.
[9] - Joaquim Manuel Rebelo –“A Terra Transmontana e Alto Duriense”, pág.6, Torre de Moncorvo, 1995.
[10] - Todas estas publicações, estão assinaladas no ano e onde foram publicadas, no meu livro “Subsídios Para Uma Biografia de Joaquim Manuel Rebelo (Sr. Padre Rebelo), Edição da Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado, com o apoio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, Torre de Moncorvo, 2006.
[11] -Rogério Rodrigues, “Joaquim Rebelo, Padre, 70 anos de Idade”, artigo publicado pelo jornal A Voz do Nordeste”, em 1992. 

6 comentários:

  1. Fatima Conceição .
    Campos Sr. Padre Rebelo professor padre amigo dos pobres época minha infância no asilo Francisco Meireles.

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  2. Só conheci o Padre Rebelo através da leitura de algumas das suas obras e isso me enriqueceu. E muito mais rica estaria, se o tivesse conhecido pessoalmente.
    Obrigada aos Colegas Pimenta de Castro e Beto Areosa por tanta e tão preciosa informação.

    Júlia Ribeiro

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  3. Eduardo Capela :
    Tive o prazer de conhecê-lo. Foi meu professor e apesar da diferença de idades ficamos muito amigos. Um grande senhor. Saudades padre Rebelo.

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  4. Mila Ferreira :
    Padre Rebelo um grande senhor, foi ele que me batizou, foi meu professor de português, lembro-me dele com muita saudade.

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  5. Fernanda Branquinho :
    homem com H grande guardo uma foto dele com mta estima ,foi o padre que me casou...

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  6. A maior prova de tudo o que foi dito sobre este conimbricence, que sempre considerou Torre de Moncorvo como a sua terra, é a memória que guardamos dele. Alguém, um dia disse: "Somos aquilo que deixamos nos outros" - e, realmente, o que o Padre Rebelo me deixou foi o seu ser, mais enquanto professor que enquanto sacerdote, e explico porquê: quando fui para a então Escola Secundária de Moncorvo, em 1988, os rapazes "menos motivados para as atividades escolares" eram, normalmente, inseridos nas turmas de mecânica e de eletricidade e considerados por muitos como intratáveis. A verdade é que às aulas do padre Rebelo, praticamente ninguém faltava, e ele próprio considerava essas as melhores para se trabalhar... vá-se lá saber porquê! É com um brilho nos olhos, sempre que as conversas sobre esse tempo surgem, que os seus antigos alunos recordam esse mestre e o exemplo que lhes foi sendo dado. Os resultados escolares nem eram assim tão importantes... E realmente o exemplo passou, porque também o autor deste artigo, permanece na minha memória, e acredito que também de muitos outros alunos dessa escola, como um verdadeiro mestre a e amigo! E viva o Boavista... Obrigado!

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