15/07/2014 - 15:28
Volume reúne contribuições de investigadores
internacionais numa área que tem sido "o patinho feio" da arte
rupestre.
O coordenador do programa de conservação de arte rupestre no
Parque Arqueológico do Vale do Côa, António Pedro Batarda Fernandes, é o
co-editor de um volume sobre conservação de arte rupestre ao ar livre que a
editora Routledge, líder mundial em publicações académicas de ciências sociais,
acaba de publicar.
O livro de 278 páginas Open-Air Rock-Art
Conservation and Management: State of the Art and Future Perspectives (“Conservação
e Gestão de Arte Rupestre ao Ar Livre: O Estado da Arte e Perspectivas Futuras”,
numa tradução literal) reúne as contribuições de diversos investigadores
internacionais especialistas em conservação de arte rupestre ao ar livre.
Este campo específico, de estudos sobre arte rupestre ao ar
livre, tem recebido relativamente pouca atenção, em contraste com a extensa
pesquisa que tem sido desenvolvida sobre a preservação de arte rupestre em
ambientes protegidos como cavernas e abrigos rochosos. António Batarda, que
co-edita o volume com Timothy Darvill, arqueólogo e professor da Bournemouth
University, em Inglaterra, nota ao PÚBLICO que os sítios arqueológicos de arte
rupestre ao ar livre eram até há pouco tidos como “o patinho feio”. “É muito
pouca a literatura que existe sobre conservação de arte rupestre ao ar livre.
Quando cheguei ao Parque Arqueológico do Vale do Côa, em 2000, ela estava
reduzida a newsletters e fóruns de discussão mais ou menos
obscuros”, diz.
O Vale do Côa é “O santuário de arte rupestre ao ar livre na
Europa, com O maiúsculo”
António Batarda Fernandes, arqueólogo
O volume agora publicado corresponde a uma vontade de
“trazer para o mainstream” esta área de estudos e resultou de uma
proposta feita pelos dois co-editores à Routledge que teve como ponto de
partida os papers apresentados numa sessão por eles organizada
durante o Congresso da Associação Europeia de Arqueólogos de 2010.
O livro apresenta quase duas dezenas de casos, da Austrália
aos Estados Unidos. Um dos capítulos, assinado por António Batarda Fernandes, é
dedicado ao Vale do Côa – um dos dois sítios arqueológicos de arte rupestre ao
ar livre no mundo onde se está a estudar a relação entre as variáveis
meteorológicas (radiação solar, precipitação, humidade, etc) e o grau de
degradação nas rochas gravadas consoante a sua orientação cardial (painéis expostos
a norte ou a sul).
Os métodos e filosofias de conservação de arte rupestre ao
ar livre continuam a ser matéria de amplo debate, por vezes, até entre
arqueólogos que trabalham no mesmo local.
O Vale do Côa é “O santuário de arte rupestre ao ar livre na
Europa, com O maiúsculo”, diz António Batarda Fernandes ao PÚBLICO, pela
quantidade ímpar de gravuras e rochas gravadas que sobreviveram – cerca de mil
rochas gravadas, metade das quais datam do Paleolítico Superior. O arqueólogo
nota que quando as gravuras de Foz Côa foram descobertas, em 1994, apenas
existiam “um ou dois sítios” de arte rupestre ao ar livre desse mesmo período
pré-histórico. Actualmente, existe já uma dezena.
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