Coleja fica encaixada no fundo de um pequeno vale que ali se forma com as encostas das montanhas de Vilarinho da Castanheira/Pinhal do Douro, a Norte e a Este abruptamente declivosas até ali. Talvez respeitando o Douro permitiram que ali se fixassem algumas pessoas, já que corre por perto.
Sendo constituída por cerca de duas dezenas de habitações, Coleja vai renovando essas construções com algum gosto, numa mistura do tradicional com o moderno rural muito bem conseguido: o branco das casas modernas fica bem no meio do escuro do granito das mais antigas. Como atracção também podem observar a sua antiga e típica Capela.
A Senhora da Ribeira é uma zona marginal ao Douro, que a autarquia de Carrazeda de Ansiães tem sabido aproveitar como zona turística atractiva. Ali existe a Capela e também uma Quinta com esse nome, que produz muitas pipas de vinho do Porto, muitos almudes de azeite e muitas toneladas de amêndoa. Dá trabalho a várias pessoas que, nos anos 40 e 50 iam para ali trabalhar pernoitando lá, já que eram de longe, de outras aldeias vizinhas como a Lousa, e, não dava para irem a pé e virem no próprio dia.
A estrada que vai de Seixo para o Douro e serve a Senhora da Ribeira dá continuação para a Cadima, frente à estação de Freixo de Numão, sempre marginal ao rio Douro, mas só tem um ponto negativo: é demasiado estreita. Nem por isso os caçadores, os pescadores e outros turistas deixam de a percorrer, até para irem confraternizar à mesa de um dos bares da Sr.ª das Ribeira, com o rio aos pés, petiscando saborosos pratos regionais. http://www.cm-carrazedadeansiaes.pt/?seixo-de-ansiaes&cod=373
GIBBONS, John, 1882-1949 Título: Não criei musgo : retrato de uma aldeia transmontana / John Gibbons ; trad. Maria João Pacheco de Amorim Edição: Carrazeda de Ansiães : Câmara Municipal
Em «Prémios do Espírito – Um Estudo sobre Prémios Literários doSecretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo», o sociólogo RuiPedro Pinto, depois de caracterizar o clima político em que nasceram osreferidos prémios, socorrendo-se das investigações de historiadores comoJoão Medina, António Costa Pinto, Rui Ramos, Fernando Rosas ou ReisTorgal, estuda em pormenor o «caso» de 1940, ano em que o PrémioCamões foi atribuído a John Gibbons (1895-1956), pelo livro «I Gatheredno Moss» («Não Criei Musgo»). Trata-se de «uma tomada de posiçãoancorada no contexto ideológico de um regime cujos méritos visaabertamente salientar e propagandear.» Quanto ao título, é assim explicado:«Pedra rolante não cria musgo é a nossa tradução literal de ‘a rolling stonegathers no moss’. O significado seria ‘quem muda muito, de sítio ou deorientação de vida, não faz carreira, não enriquece’». Não poderia ser maisevidente a vívida preocupação do autor com o seu próprio bem-estar…A obra é mais do que um mero panfleto de escritor sem recursos em buscade sustento: em boa verdade, constituiria, tal como o famoso «Decálogo»de João Ameal, «um compêndio ideológico do Estado Novo.» Refere osociólogo, citando, primeiro, Reis Torgal e, logo a seguir, Fernando Rosas:«Constatamos uma evidente sobreposição de planos discursivos entre esteregisto do autor inglês e a ideologia salazarista da ‘valorização doruralismo, traduzida na exaltação do viver das comunidades aldeãs, comose especialmente nestas se abrigassem os mais sólidos e admiráveissentimentos de abnegação e de patriotismo, de autenticidade e de genuína pureza. A isto corresponde o antípoda duma vivência urbana que sobre sicarrega a falsa grandeza de precárias magnificências’. Reconhecemos,facilmente, nas descrições que realiza dos camponeses de Coleja com quem
contacta o arquétipo desse ‘chefe de família camponês, probo, devoto eordeiro’ tido como o espelho do homem novo do salazarismo, o ser virtuoso, suporte da defesa e da reprodução da ‘ordem nova’.»Curiosamente, o concurso destinado a premiar «a Aldeia mais Portuguesade Portugal», organizado em 1938, ano em que Gibbons assenta arraiais naaldeia duriense de Coleja no intuito de escrever o texto que lhe valerá oPrémio Camões, visa o mesmo objectivo que o livro do inglês: apresentar um modelo nacional da vida em comunidade, tendo como alvo, quer aexportação de uma visão idílica do País, quer o «mercado» interno, paragáudio da boa consciência dos situacionistas satisfeitos com o recentederrube da República, a Censura, a polícia política e a paz dos cemitérios.Com o livro de John Gibbons, publicado em 1939 e premiado no anoseguinte, ficaria a opinião internacional elucidada «sobre a nossa acçãocivilizadora», como desejavam o regime e o seu mais irrequieto eimaginativo «Chefe» da Propaganda, António Ferro? É duvidoso que assimsucedesse, até porque, em plena Guerra Mundial, o Planeta tinha, decerto, bem mais em que pensar do que na pobre aldeia duriense sem electricidadenem água canalizada descrita pelo inglês, persistente caçador de prémiosliterários e, tal como António Ferro, admirador incondicional dos «Chefes»Salazar e Mussolini http://pt.scribd.com/doc/25338513/Premios-do-SPN-Antonio-Ferro
Tenho esse livro e já o reli diversas vezes. Fico sempre impressionada pelas condições adversas que o autor teve de suportar nesse inverno tão rigoroso.
Uma aldeia transmontana pelos olhos de um inglês que assim colheu o prémio Camões. Mas a sua visão tem imenso interesse para nós todos, em especial, para quem se interessa pelo estudo da época.
Que linda era esta aldeia, onde nada faltava e reinava a alegria de viver. Não havia porcos na rua, a não ser , para a fotografia.O nome «Coleja» é de inspiração vegetal, abundante nas margens dos caminhos e encostas de socalcos. Como tudo, teve um início,foi evoluindo criando riqueza, as vinhas, os olivais, comércio ambulante e depois residente.Muita transumância e consequente manufatura de queijo e requeijão de ovelha, lã e respetivos teares. Adorava as bodas de casamentos e batizados. Com o rio Douro aos pés, não faltava o saboroso peixe. Que razões levaram John Gibbons a optar por Coleja? Vou tentar desvendar!!
Coleja fica encaixada no fundo de um pequeno vale que ali se forma com as encostas das montanhas de Vilarinho da Castanheira/Pinhal do Douro, a Norte e a Este abruptamente declivosas até ali. Talvez respeitando o Douro permitiram que ali se fixassem algumas pessoas, já que corre por perto.
ResponderEliminarSendo constituída por cerca de duas dezenas de habitações, Coleja vai renovando essas construções com algum gosto, numa mistura do tradicional com o moderno rural muito bem conseguido: o branco das casas modernas fica bem no meio do escuro do granito das mais antigas. Como atracção também podem observar a sua antiga e típica Capela.
A Senhora da Ribeira é uma zona marginal ao Douro, que a autarquia de Carrazeda de Ansiães tem sabido aproveitar como zona turística atractiva. Ali existe a Capela e também uma Quinta com esse nome, que produz muitas pipas de vinho do Porto, muitos almudes de azeite e muitas toneladas de amêndoa. Dá trabalho a várias pessoas que, nos anos 40 e 50 iam para ali trabalhar pernoitando lá, já que eram de longe, de outras aldeias vizinhas como a Lousa, e, não dava para irem a pé e virem no próprio dia.
A estrada que vai de Seixo para o Douro e serve a Senhora da Ribeira dá continuação para a Cadima, frente à estação de Freixo de Numão, sempre marginal ao rio Douro, mas só tem um ponto negativo: é demasiado estreita. Nem por isso os caçadores, os pescadores e outros turistas deixam de a percorrer, até para irem confraternizar à mesa de um dos bares da Sr.ª das Ribeira, com o rio aos pés, petiscando saborosos pratos regionais.
http://www.cm-carrazedadeansiaes.pt/?seixo-de-ansiaes&cod=373
Autor:
ResponderEliminarGIBBONS, John, 1882-1949
Título:
Não criei musgo : retrato de uma aldeia transmontana / John Gibbons ; trad. Maria João Pacheco de Amorim
Edição: Carrazeda de Ansiães : Câmara Municipal
Em «Prémios do Espírito – Um Estudo sobre Prémios Literários doSecretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo», o sociólogo RuiPedro Pinto, depois de caracterizar o clima político em que nasceram osreferidos prémios, socorrendo-se das investigações de historiadores comoJoão Medina, António Costa Pinto, Rui Ramos, Fernando Rosas ou ReisTorgal, estuda em pormenor o «caso» de 1940, ano em que o PrémioCamões foi atribuído a John Gibbons (1895-1956), pelo livro «I Gatheredno Moss» («Não Criei Musgo»). Trata-se de «uma tomada de posiçãoancorada no contexto ideológico de um regime cujos méritos visaabertamente salientar e propagandear.» Quanto ao título, é assim explicado:«Pedra rolante não cria musgo é a nossa tradução literal de ‘a rolling stonegathers no moss’. O significado seria ‘quem muda muito, de sítio ou deorientação de vida, não faz carreira, não enriquece’». Não poderia ser maisevidente a vívida preocupação do autor com o seu próprio bem-estar…A obra é mais do que um mero panfleto de escritor sem recursos em buscade sustento: em boa verdade, constituiria, tal como o famoso «Decálogo»de João Ameal, «um compêndio ideológico do Estado Novo.» Refere osociólogo, citando, primeiro, Reis Torgal e, logo a seguir, Fernando Rosas:«Constatamos uma evidente sobreposição de planos discursivos entre esteregisto do autor inglês e a ideologia salazarista da ‘valorização doruralismo, traduzida na exaltação do viver das comunidades aldeãs, comose especialmente nestas se abrigassem os mais sólidos e admiráveissentimentos de abnegação e de patriotismo, de autenticidade e de genuína pureza. A isto corresponde o antípoda duma vivência urbana que sobre sicarrega a falsa grandeza de precárias magnificências’. Reconhecemos,facilmente, nas descrições que realiza dos camponeses de Coleja com quem
ResponderEliminarcontacta o arquétipo desse ‘chefe de família camponês, probo, devoto eordeiro’ tido como o espelho do homem novo do salazarismo, o ser virtuoso, suporte da defesa e da reprodução da ‘ordem nova’.»Curiosamente, o concurso destinado a premiar «a Aldeia mais Portuguesade Portugal», organizado em 1938, ano em que Gibbons assenta arraiais naaldeia duriense de Coleja no intuito de escrever o texto que lhe valerá oPrémio Camões, visa o mesmo objectivo que o livro do inglês: apresentar um modelo nacional da vida em comunidade, tendo como alvo, quer aexportação de uma visão idílica do País, quer o «mercado» interno, paragáudio da boa consciência dos situacionistas satisfeitos com o recentederrube da República, a Censura, a polícia política e a paz dos cemitérios.Com o livro de John Gibbons, publicado em 1939 e premiado no anoseguinte, ficaria a opinião internacional elucidada «sobre a nossa acçãocivilizadora», como desejavam o regime e o seu mais irrequieto eimaginativo «Chefe» da Propaganda, António Ferro? É duvidoso que assimsucedesse, até porque, em plena Guerra Mundial, o Planeta tinha, decerto, bem mais em que pensar do que na pobre aldeia duriense sem electricidadenem água canalizada descrita pelo inglês, persistente caçador de prémiosliterários e, tal como António Ferro, admirador incondicional dos «Chefes»Salazar e Mussolini
http://pt.scribd.com/doc/25338513/Premios-do-SPN-Antonio-Ferro
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=1370357266075766905#editor/target=post;postID=4504085033585076205
ResponderEliminarTenho esse livro e já o reli diversas vezes. Fico sempre impressionada pelas condições adversas que o autor teve de suportar nesse inverno tão rigoroso.
ResponderEliminarUma aldeia transmontana pelos olhos de um inglês que assim colheu o prémio Camões. Mas a sua visão tem imenso interesse para nós todos, em especial, para quem se interessa pelo estudo da época.
ResponderEliminarConheci o livro através do blog, tenho familiares de coleja, especialmente com muito apreço a Fernanda Alentejano (no livro Fernanda Alentejana).
ResponderEliminarMuito obrigado Lelo
Que linda era esta aldeia, onde nada faltava e reinava a alegria de viver. Não havia porcos na rua, a não ser , para a fotografia.O nome «Coleja» é de inspiração vegetal, abundante nas margens dos caminhos e encostas de socalcos. Como tudo, teve um início,foi evoluindo criando riqueza, as vinhas, os olivais, comércio ambulante e depois residente.Muita transumância e consequente manufatura de queijo e requeijão de ovelha, lã e respetivos teares. Adorava as bodas de casamentos e batizados. Com o rio Douro aos pés, não faltava o saboroso peixe. Que razões levaram John Gibbons a optar por Coleja? Vou tentar desvendar!!
ResponderEliminar