sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Um reino sem monarca : Trás-os-Montes,por Armando Sena

Existe algum reino cujo monarca não tenha sido designado? Que as leis que o regem provenham apenas da harmonia, do sentimento, da vontade de viver em paz? Cujas fronteiras nunca foram impostas e os seus limites chegam onde nos leva a saudade?
Um reino onde um dia aportamos, do qual o cordão umbilical nunca cortámos. Mas, desditoso o desígnio desse fado, mal paridas essas pedras que te formam e que não há meio de por lá fixarem os que te amam.
Crispou-se então a lealdade, esfumou-se a sensação de pertença, em desilusão encalhou o orgulho da origem?
Não, Não, Não.
Por mais cintilantes as avenidas onde hoje perdes os teus passos, por mais belas que sejam as torres que homens criaram, as pontes, estátuas e arranha-céus, sempre é a tua luz que nos atrai, as tuas cores, cheiros e matizes, a sensação de que aí fomos felizes.
Um dia, que a certeza não é um dom humano, voltaremos, colheremos amoras na beira do caminho que coberto de sombras frescas nos levará ao ribeiro. Aí sentados, invadidos pela brisa que de longe nos trás cheiros a feno e a saudade, beberemos sofregamente os momentos que nos restam, até ao por do sol. Um sol que só em ti tem essas cores, o vermelho ardente do fim de uma tarde de verão.

Então, expurgados da angústia da distância, saciados com a leveza que só um moinho ermo, onde lendas de bruxas e feitiços tinham origem, pode proporcionar, refeitos, reconstruídos, reabilitados e reconhecidos, retomaremos esses trilhos que de novo serão percorridos por aqueles que por ventura tiveram que te deixar.
Armando Sena

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3 comentários:

  1. Texto bem escrito, rigoroso e com autenticidade.
    Leitor

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  2. Um texto excelente.

    Parabéns amigo A.Sena

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  3. Obrigado Amigos. É sempre um prazer regressar aos Farrapos.
    Um abraço.
    Armando Sena

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