Sobre a oliveira e o azeite já muito foi dito não apenas no
presente mas ao longo da história. É árvore que resiste. Matriz da cultura
mediterrânica, abraça o sul da Europa e o Norte de África.
Não são eles – azeite e oliveira – que separam. Ainda que
intrinsecamente haja um fosso abismal, suavizado hoje pela máquina que oculta e
resolve, parafraseando António Corrêa d’Oliveira e Guerra Junqueiro**,
aquele incidindo no caminho que ia da azeitona até à luz que o azeite
proporciona e este colocando em evidência padecimentos semelhantes para, a
partir do grão de cereal, se chegar ao pão.
Houve muito autores que se debruçaram sobre fenómenos de
transformação agarrando as coisas mais ínfimas. Também a tradição popular mexeu
muito nisso. Por certo que, num caso e no outro, se trata de melhor compreender
e assim viver.
Há hoje literatura técnica, muito interessante e alguma com
grafismo notável, sobre estas temáticas.
O que se passa com a azeitona e com o grão para se chegar ao
céu do azeite e do pão é lá com os lagares e fábricas em que, ao trazermos o
produto para casa, deixamos a maquia.
De mais a mais ao vegetal terá sido amortecida a propensão
para sentir dor, logo à nascença, haja razão. Ainda ontem e anteontem, aqui, à
noite, se agradeceu a fogueira. Basta olhar e ver o que acontece ali.
Em todo o caso não me esqueço da lengalenga da meninice que
só perdura em quem corta cebola espanhola à pressa: “ Eu no campo me criei/
Metida entre verdes laços/ O que mais chora por mim/ É o que me faz em
pedaços”.
* Os mamões desta oliveira são de zambulho / zambujo. O que
é bravio resiste mais?
** Há um certo contra-ponto em Afonso Lopes Viera (poema
abaixo, retirado da Internet). Era uma época, já recuada, de trabalho braçal
generalizado e com muito pouco recurso a maquinaria que desse o já então
indispensável alento, assente em vantagem mecânica aplicada ao quotidiano
rural. As aflições e as alegrias – que no essencial são as mesmas - revestem-se
hoje de outras feições.
Em casa do cavador
Vinho
é pranto, pão é a dor.
Só
há um regalo à mesa
Depois
do cansado dia
Tempera
a ceia à pobreza
O
azeite da almotolia -
Foi
feita da mesma terra
Que
eles cavaram
E
oleiros pobres vidraram
O
vaso que a mesa alegra.
Que,
em casa do cavador
Vinho
é pranto, pão é a dor.
A fotografias é de Gabriel
Ferreira e de um seu tio (o dono da árvore) que vive na França e tem
descendentes que habitam a uma noite de viagem dele, na ilha para onde foi
desterrado Napoleão Bonaparte.
O texto é de Carlos Sambade
Oliveiras, Heróis,Paz, Progresso ou falta dele.
ResponderEliminarOlhando raízes, irmãs centenárias de copas vetustas e, admirador da
amiga e dupla rachada do "herói" Rachado,faz-me recordar as Olimpíadas
da Antiga Grécia,onde em honra dos Deuses,habitantes do Olimpo
Sagrado,os helenos desavindos se esforçavam em competição honrada por
estabelecer tréguas e assim construir a paz.
Fossem as guerras do Peloponeso,ou entre Esparta e Atenas, muito
anteriores ao nascimento de Cristo o que Tucídedes nos conta é que
milhares de homens abriam o seu coração à racionalidade e aos Jogos
como forma de estabelecer pontos de diálogo e de concórdia entre eles.
Ramos de loureiro ou de coroas de oliveira subiam aos pódios e depois
aos altares para premiarem os heróis como símbolo de justiça, de festa,
de alegria e de coragem.
Também aquando da prisão de Cristo,a caminho do Calvário em tempo de
Páscoa que se aproxima aparece e fala do Monte das Oliveiras..
Através do mediterrâneo e na companhia dos romanos,por águas ou no
dorso de cavalos,burros ou camelos dos desertos do Norte de Àfrica, a
oliveira vem beijar , alimentar e alimentando-se dos torrões que são
hoje terras de Portugal.
Diz-se que a mais antiga oliveira viva se encontra lá na algarvia Tavira ou localidade sua vizinha.
Dúvidas não há que as Olgas do Sabor ou as encostas dos Lombinhos até à
altaneira Pendura há já centenas de anos que tiveram por companhia
solidárias e valentes oliveiras.
Basta olhar para a bela companheira do Rachado e admirar a sua forte personalidade e serena presença.
Através das suas raízes,feitos nervos,imaginemos quantas
alegrias,canseiras e também milhentas alegrias não terão as suas folhas
sussurrado aos ouvidos de seus donos a riqueza produzida..
Folhas perenes,que por mais que teimem em cair, mantêm-se presentes e renovadas através da lonjura dos dias.
Imaginem,ainda, oe rolos alimentados com amor de bico matrernal nos ninhos simples e de difícil equilíbrio.
E quantas vezes os seus ramos não terão servido de altar a muitas pombas de paz?
Que dizer dos lagartos,ratos,cobras,lagartixas,coelhos que lhe pediam
para dormir a sua soneca em toca sossegada? E a preocupação do homem
seu amigo,por vezes explorador dono,a levantar com muito cuidado a
relha para que suas veias não sangrassem!
E quantas lamparinas de azeite não terá alimentado a centenária oliveira que também foi menina a precisar de muitos cuidados..
Seja da Cevadeira ou nos Lombinhos a sua casa foi também terra nossa e dos outros que nos ajudou a sermos" homens-meninos".
Esteja onde estiver a bendita oliveira,verdade se diga que já lavou
muitas vezes sua cara debaixo de grandes invernadas e ventos
desassossegados e frios.
Também já "torceu muito suas orelhas" para com tão abrasivo Estio de canìculas mil.
Os gregos na sua Mitologia davam muita importância à agua e ao fogo na tentativa de explicar as origens do Mundo.
Por ora a companheira do Rachado,tal como milhares de outras suas
primas ou irmas "borreiras";"verdiais","negrinhas","bicais" ou
"maçanicas" a muitas águas tem resistido. E também ao fogo!
Oxalá que a centenária árvore do Felgar se salve,ou alguém a ajude a
salvar,do afogamento que se prevê que venha com o dilúvio do Baixo
Sabor que se aproxima quando 2013 chegar.
Se o belo exemplar não se safar, por não saber nadar,ou se a cota
324(ou será 234?) a vier chatear,então que o seu dono ou outro por si a
possa amparar até zona nobre da entrada do Felgar e aí possa continuar
a viver e a beber da água do Vale para que olhos nossos e de
forasteiros a possam cumprimentar..
E se eu fosse como Guerra Junqueiro(1850-1925), se a memória falhar
façam o G.Abílio Junqueiro 2 anos mais novo-,ao terminar seus " Os
simples" seria minha obrigação agradecer à pimpona oliveira e com
cuidado lhe pediria licença para apagar a candeia de azeite que com a
sua luz nos iluminou o rego para lavrar,porventura,escorreito rego da
escrita.
Boa Noite e poupem na luz...E ue o Bom Azeite não falte no prato.
Artur Salgado
Texto bem escrito que nos ajuda a entender melhor a natureza e a nossa terra.A Universidade de Vila Real podia e devia ajudar nestes estudos,foi para o Alentejo e Algarve a datar as árvores e Trás-os-Montes nada.
ResponderEliminarSobreiro
Excelente o texto de Carlos Sambade.
ResponderEliminarComoveu-me profundamente o texto de Artur Salgado.
Obrigada a ambos e obrigada ao Lelo por tê-los postado nos Farrapos, cuja leitura já ultrapassa em muito o milhão de leitores.
Abraço
Júlia
Na verdade, Belíssimos textos, pelo que agradeço o terem-nos partilhado.
ResponderEliminarFraterno abraço
J. Carlos