“Nota geológica – A mancha alongada do Silúrico inferior que, na nossa Carta Geológica, se estende junto da fronteira contornada a distância pelo curso do Douro, reserva uma grande surpresa quem quiser fazer uma breve digressão no flanco ocidental a chamada “serra de Poiares” e no flanco fronteiro do monte de Candedo.
Cortando transversalmente a gigantesca muralha silúrica, a ribeira do Mosteiro (ou Ribeira de Mós, como diz a Carta Geológica) despenha-se em gargantas estreitas e profundas, bem mais imponentes que as do Mondego em Penacova ou do Tejo nas Portas do Ródão. Os xistos e quartzitos, a prumo sobre essa ribeira genuinamente transmontana, por vezes em estratificação ainda bem nítida, apresentam-se dobrados, arrastados, estrangulados, como se agora se erguessem bruscamente em arremetidas de animal selvagem, para logo se precipitaram no fundo despenhadeiro em constrições de dor.
Perante aquele estranho cenário é quase inevitável, a quem quer que seja, concentrar-se em lucubrações, e agora sobre um tema de natureza literária. Os contrastes e antíteses da poesia de Junqueiro iluminam-se, ali, de claridades imprevistas, no contemplar daqueles fraguedos por onde o vale famoso tantas vezes passava de Freixo a caminho de Barca de Alva, seguindo a íngreme Calçada de Alpajares, de construção tão arrojado que o povo diz ser a obra do Diabo.
Na foz da ribeira do Mosteiro tem-se efectivamente, bem documentada ao natural, aquela edílica “encosta de sementeiras, pastos, olivedos e amendoais em flor”, de Os Simples, para logo, no estrangulamento da mesma ribeira, se ser de súbito esmagado por aquela topografia torturada, por aquele singular espectáculo de convulsões geológicas – “de tormentos de trovões de pedras”, de que fala o Poeta".
In "Guia de Portugal - Trás- os- Montes e Alto-Douro II - Lamego,
Bragança e Miranda", Fundação Calouste Gulbenkian, 3ª edição, 5º volume,
pp. 1068 e 1069.
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