José Mário Leite //CULTURA POR CAUSA CULTURA POR ACASOPúblicada na edição 3541 |
A dramática morte de Amadeu Ferreira conduziu à convocação de eleições para os corpos dirigentes da Academia de Letras de Trás-os-Montes a que presidia.
A nova direção, na sua primeira reunião, em Bragança, ciente da enorme herança recebida das carismáticas presidências que a antecederam, resolveu arregaçar as mangas e começar a trabalhar. Sendo a sua atividade baseada no voluntariado dos associados que têm, na sua maioria, outras ocupações profissionais e residem, muitos deles, fora da região, foi deliberado fazer-se representar, no distrito de Vila Real pelo presidente, António Chaves e no distrito de Bragança, pelo vice-presidente, o que muito me honrou.
Informei que era minha intenção iniciar tal tarefa com a apresentação de cumprimentos a todas as Câmaras Municipais começando pela capital do distrito e continuando a partir do sul do distrito onde iria estar durante um curto período de férias. Aproveitaria para indagar junto do poder político quais as possibilidades de cooperação entre as autarquias e a Academia. Sabia bem que o período de férias tem as suas contingências próprias da época e estava, obviamente, a contar com algumas dificuldades não só de agendamento mas também de obter a atenção necessária dos autarcas brigantinos. Foi, por isso mesmo, uma enorme e agradável satisfação constatar a forma afável e de genuíno interesse com que fui recebido nos Paços do Concelho, pelos respetivos autarcas. Todos os que me receberam me brindaram com disponibilidade e empenho para promover a literatura e os autores transmontanos e assim contribuir para a divulgação e enriquecimento das línguas portuguesa e mirandesa.
A falta de tempo não me permitia programar reuniões em todas as Câmaras. Das que estavam na minha agenda houve apenas uma onde não consegui apresentar-me. Estou certo que a culpa não terá sido dos responsáveis políticos. Mas isso não me compete a mim avaliar. Relato apenas o ocorrido.
– Bom dia! É da Câmara Municipal? Eu queria marcar uma curta audiência com os senhor presidente da Câmara.
– Um minuto. Vou passar ao gabinete de Apoio.
– Concerteza...
– Quem é que quer falar com o Presidente?
– Sou José Mário Leite, vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes e queria apresentar, pessoalmente, cumprimentos ao sr. Presidente. Amanhã ou depois...
– O Presidente não está amanhã nem depois. Pode ser com o vereador da Cultura, depois de amanhã?
– Pode. Diga-me a que horas.
– Não lhe posso dizer agora. Primeiro tenho de lhe perguntar.
– Quando posso telefonar de novo para saber?
– O sr. não precisa telefonar. Eu ligo-lhe a informar...
– Mas eu não me importo de ligar...
– O senhor não entendeu o que eu lhe disse? – ríspida! – O senhor não liga. Eu tenho aqui o seu numero registado e sou eu que lhe ligo, depois.
Nesse dia não liguei. E no seguinte só telefonei às dezasseis menos um quarto, receoso de ver gorada a marcação. Atendeu-me a telefonista que, simpaticamente me informou que a pessoa com quem tinha falado no dia anterior já não estava. “Saímos às quatro” informou. “Mas ainda não são quatro horas...” balbuciei. “A hora de saída agora é às quatro” reforçou. Tentei falar com outra pessoa mas já não estava ninguém, nem no secretariado do presidente nem do vereador, nem nenhum dos titulares. “Ligasse mais cedo” “Garantiram que me ligavam...” “Se lhe garantiram que ligavam, vão ligar. Tem de esperar...”
Cá estou eu à espera. Desde meados de Agosto!
A nova direção, na sua primeira reunião, em Bragança, ciente da enorme herança recebida das carismáticas presidências que a antecederam, resolveu arregaçar as mangas e começar a trabalhar. Sendo a sua atividade baseada no voluntariado dos associados que têm, na sua maioria, outras ocupações profissionais e residem, muitos deles, fora da região, foi deliberado fazer-se representar, no distrito de Vila Real pelo presidente, António Chaves e no distrito de Bragança, pelo vice-presidente, o que muito me honrou.
Informei que era minha intenção iniciar tal tarefa com a apresentação de cumprimentos a todas as Câmaras Municipais começando pela capital do distrito e continuando a partir do sul do distrito onde iria estar durante um curto período de férias. Aproveitaria para indagar junto do poder político quais as possibilidades de cooperação entre as autarquias e a Academia. Sabia bem que o período de férias tem as suas contingências próprias da época e estava, obviamente, a contar com algumas dificuldades não só de agendamento mas também de obter a atenção necessária dos autarcas brigantinos. Foi, por isso mesmo, uma enorme e agradável satisfação constatar a forma afável e de genuíno interesse com que fui recebido nos Paços do Concelho, pelos respetivos autarcas. Todos os que me receberam me brindaram com disponibilidade e empenho para promover a literatura e os autores transmontanos e assim contribuir para a divulgação e enriquecimento das línguas portuguesa e mirandesa.
A falta de tempo não me permitia programar reuniões em todas as Câmaras. Das que estavam na minha agenda houve apenas uma onde não consegui apresentar-me. Estou certo que a culpa não terá sido dos responsáveis políticos. Mas isso não me compete a mim avaliar. Relato apenas o ocorrido.
– Bom dia! É da Câmara Municipal? Eu queria marcar uma curta audiência com os senhor presidente da Câmara.
– Um minuto. Vou passar ao gabinete de Apoio.
– Concerteza...
– Quem é que quer falar com o Presidente?
– Sou José Mário Leite, vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes e queria apresentar, pessoalmente, cumprimentos ao sr. Presidente. Amanhã ou depois...
– O Presidente não está amanhã nem depois. Pode ser com o vereador da Cultura, depois de amanhã?
– Pode. Diga-me a que horas.
– Não lhe posso dizer agora. Primeiro tenho de lhe perguntar.
– Quando posso telefonar de novo para saber?
– O sr. não precisa telefonar. Eu ligo-lhe a informar...
– Mas eu não me importo de ligar...
– O senhor não entendeu o que eu lhe disse? – ríspida! – O senhor não liga. Eu tenho aqui o seu numero registado e sou eu que lhe ligo, depois.
Nesse dia não liguei. E no seguinte só telefonei às dezasseis menos um quarto, receoso de ver gorada a marcação. Atendeu-me a telefonista que, simpaticamente me informou que a pessoa com quem tinha falado no dia anterior já não estava. “Saímos às quatro” informou. “Mas ainda não são quatro horas...” balbuciei. “A hora de saída agora é às quatro” reforçou. Tentei falar com outra pessoa mas já não estava ninguém, nem no secretariado do presidente nem do vereador, nem nenhum dos titulares. “Ligasse mais cedo” “Garantiram que me ligavam...” “Se lhe garantiram que ligavam, vão ligar. Tem de esperar...”
Cá estou eu à espera. Desde meados de Agosto!
Fonte: Mensageiro de Bragança( http://www.mdb.pt/content/cultura-por-causa-cultura-por-acaso )
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