A Amélia, no
dizer da minha mãe, não havia nem poeta nem pintor que tivessem imaginação e
talento para descrever tanta beleza e encanto…Casaram-na ainda menina, por via dos
devaneios e das paixões que suscitava aos rapazes da aldeia…Gostava de andar
descalça, lavar a roupa na ribeira, de rir, cantar e dançar como as demais
raparigas.
A autora |
Constou-se
que um jovem lhe encheu o sorriso e o sonho, mas sina ou a má sorte
roubaram-lhe essa ilusão… Era rico e poderoso o seu marido …Vestiu-a da mais
fina seda, calçou-a com sapatos de marfim...No palácio que habitava, comia com
talheres de prata que mal sabia manejar… De tanto a querer e amar, até uma
poltrona que diziam ser em oiro o esposo lhe comprou. Da janela do seu quarto,
a Amélia, sentia a vida passar… Teve filhos que cresceram, fizeram-se homens
sem que ela desse por isso e partiram para terras do fim do mundo, como se o
mundo tivesse princípio ou fim…
Davam-lhe
chá de pétalas de rosas para que a Amélia sorrisse, mas a Amélia não sorria e
nem o chá de violetas lhe roubou a solidão…Uma noite, não me lembro se era
Janeiro ou Agosto, abriu a janela e foi tal o seu sorrir, que o grito ecoou
através das montanhas mais altas e pelos vales mais profundos de toda a nossa
região…
Falava-se
que, ainda a aldeia dormia, se ouvia o trinar de um passarinho e que o seu
canto era tão suave e doce como o de uma canção de embalar.
Um dia, e só
naquele dia, viram na campa da Amélia um rouxinol aninhado que, ao romper da
madrugada, lhe fazia companhia…
Irene Garcia
Massa (Ireninha) Urros
Nota: À
memória da Amélia, que num momento de desespero e solidão no passado mês de
Novembro ou Dezembro, encontrou na morte a solução para uma nova vida.Baseado em factos reais, em que as
circunstâncias da sua morte estão explícitas neste pequeno texto, tendo apenas sido
alterados os nomes e locais, o que é compreensível e aceitável.A Amélia
partiu, mas a “A RAPARIGA QUE FICOU”será sempre recordada (em especial pela sua
filha que tanto amava) e por todos aqueles que em tempos passados lhe
conheceram o sorriso. Para quem
ler esta história/homenagem, agradeço um minuto de reflexão...Bem –hajam.Irene Garcia Massa
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Lindo!!!
ResponderEliminarMuito subtil e oportuno, não fosse hoje, o Dia Internacional da Mulher...( ontem,hoje e sempre).
Beijinho.Parabéns.
Branca
Olá IRENINHA!
ResponderEliminarMais um bonito texto!
Parabéns a ti, pelo teu lindo texto e por tudo o que ele representa.
Parabéns pela tua fotografia, sempre bonita!
Beijinhos,
Tininha
Bonita homenagem a alguém descontente com a vida.
ResponderEliminarE bonita a menina da fotografia ...
Abraço amigo.
Uma moncorvense
Olá Ireninha!
ResponderEliminarParabéns pelo lindo texto, muito sofrido pela parte da mulher que partiu e da mulher que ficou.
Já a menina da fotografia tem um sorriso feliz (assim até as máquinas fotográficas se deliciam em fotografar, tal é o à vontade com a câmara).
Um grande beijinho seja feliz.
Belinha
Olá Ireninha.
ResponderEliminarTexto triste, mas real para o dia mundial da mulher.
O amor gera a legria e também tristeza, mas é com alegria que se faz abrir os corações.
É com o coração aberto e cheio de alegria que se encontra o caminho para a felicidade.
Por vezes o egoismo gera desiquilibrios e transforma o amor, que era alegria que é ouro em tristeza, que é fogo e tudo consome.
A tristeza que é matreira e paciente abre o caminho daquela que espreita e termina com tudo que é belo neste mundo.
Neste dia da mulher, como em todos os dias, que se abram os corações à alegria e se coloque a tristeza numa cela, porque a vida é bela.
A beleza do amor gera alegria e paixão, por isso que se coloque a tristeza no caixão.
O amor tem a arte de deixar viver e amar ou de matar.
Como diria Ovidio, o amor é uma arte.
Que o teu texto permita a todas as "Amélias" a descoberta da arte de amar e que o ouro seja alegria e não tristeza, solidão e desespero.
Que o rouxinol faça a suas serenatas na janela do quarto de todas as mulheres, para acordarem com a alegria do seu sorriso de menina no rosto de mulher.
Que a tua mensagem possa tocar os corações e evitar fins tão tragicos.
Manuel Sengo
Viva, Irene:
ResponderEliminarA realidade consegue ser sempre mais incrível que a nossa imaginação.
Uma vida demasiado triste e uma morte demasiado trágica. Creio que catártica para a escritora.
Belíssimo texto: breve, em escrita límpida e linguagem contida.
Abaço
Júlia
Belo texto e excelentre homenagem a um acontecimento triste mas real de uma Amélia que também sorriu de forma única e sincera enquanto se balanceava no parapeito da janela. Depois, também o grito, abafado e primero o dela, estridente dos que lhe eram mais próximos. Para além da descrição aveludada que o texto nos dá, por ele temos o dever de meditar em quantas mais Amelias há - de vidas cheias mas tão vazias - sempre capazes de subir a um parapeito de uma janela e dalí sorrir. Nem que seja por uma última vez.
ResponderEliminarEm contos anteriores da autora, debrucei-me sobre a qualidade artística da mesma. Não quero deixar de o fazer novamente, através da leitura deste texto, dizendo, mais uma vez, que a autora é uma prodigiosa evocadora do passado, uma grande escritora da "memória". Mas este texto, que mais uma vez prestigia a sensibilidade, inteligência e a alma de artista da autora, contém em si uma inesgotável fonte de interpretações, e reveste-se de uma inquietude inquietante, sobre o sentido da vida, do amor e da nossa própria existência. Neste texto, a vida e a morte, confrontam-se. O amor e a procura de felicidade, tão depressa são símbolos de vida como de morte, silêncio e solidão. Estes "desacertos" humanos, são um espaço ideal para "redesenhar-mos" a nossa vida, que deve ser sempre de esperânça e de luta pelo encontro com a felicidade, motivo primordial da vida humana. Muitas vezes,como foi a vida de Amélia, esses "desacertos" humanos, vão pouco a pouco desenhando a morte. Quadro implacável; quando mesmo terrível, mas quadro que não podemos esquecer, e nos relembra, que muitas Amélias existem. O "Dia Internacional da Mulher", foi sábiamente escolhido pela autora, para publicar este texto, já que ilustra como as mulheres ainda sofrem de "prisões" e maus tratos múltiplos. Temos que dizer BASTA a este comportamento masculino, redutor da dignidade da mulher. Amélia, a menina feliz, sem rédeas, menina do mundo inteiro, sonhou um dia com o amor e felicidade. Só que Amélia pensava que o amor era assente no respeito, livremente assumido pela liberdade, e pelo absoluto de cada um. Amor e liberdade, são direitos invioláveis dos sentimentos humanos. Mas quanto a estes aspectos, pode-se aduzir literalmente, que este texto, recorda-nos e alerta-nos que na maioria das vezes, esta vivência da Amélia é o esteriótipo de muitas mulheres. O vínculo amoroso deve ser em si mesmo absoluto, e em si mesmo constituir uma liberdade. Nada mais nocivo nem de mais oposto à sua essência, existência, vivência, do que a ilusão de que o amor não está à mercê da sua intrínseca fúria de autodestruição. O amor constroi-se com delicadeza, ternura, envolvimento e respeito. Esta é a grandeza do seu desígnio, ou a precariedade do seu destino. Amar é uma arte de bem querer e fazer. A Amélia, que partiu, não resistiu, como tantas, ao desamor,à desilusão, sentimentos que por si só, a riqueza material não compensa. Esta foi a Amélia que ao abrir a janela sorriu tão alto...tão alto, porque à maneira dela, encontrou na morte a liberdade e felicidade. A Amélia, que ficou, é doce, meiga, bela, crédula e sonhadora. Esta é a Amélia que está e perdura na memória de quem com ela privou. Solidariedade, humanidade, devem ser as prioridades da sociedade, para que , sempre que for necessário, estejamos perto para "estender a mão" a quem quase está para "cair". Parabéns Irene, pelo modo como "sagrou" a Amélia. Só uma alma sensível o faz como sendo um dos seus. São precisos estes testemunhos, com esta substância e carácter para que de "passo em passo" o mundo se humanize e entre-ajude.
ResponderEliminarQueridas amigas:
ResponderEliminarEscrevi este pequeno e breve texto,em que as palavras foram contidas,tal é o conteúdo forte que encerra,com os olhos marejados de lágrimas de dor revolta e mágoa..Hoje e só hoje,ao responder-vos ,elas,as lágrimas ,teimosas,obstinadas,não cessam de cair..
Dediquei-o à "Amélia"que conheci vagamente...A "Amélia":simpática ,bonita ,culta,inteligenteque escondia no seu bonito sorriso toda uma vida vazia,uma vida sem sentido,imposta
pela própia vida.
A "Amélia"é hoje uma estrela que brilha no firmamemto e que com o seu brilho,irá certamente,iluminar a vidade tantas "Amélias"que como ela,
no recato dos seus lares,choram em silêncio as desilusões das suas tristes vida.Bem-Hajam.
Com amizade e consideração da vossa amiga:
Ireninha
Meu amigo Manel:
ResponderEliminarQue o rouxinol embale a sepultura da tua querida e saudosa Mãe ,que um dia partiu feliz ao encontro do seu estimado esposo.
Abençoada Mulher que troxe ao Mundo o Homem grande que tu és!
Abençoada terra,a nossa,que um dia te viu sujar os cueiros!
Felizes dos que contigo compartilham e vivem o dia a dia da vida:a tua querida esposa e os teus amados filhos.
Muito obrigada.
Com um beijo de amizade da vossa amiga
Ireninha
Queridos amigos!
ResponderEliminarPeço desculpa pelos meus comentários,mas às vezes a Net e a falta de óculos que me "recuso " a usar pregam-me estas partidas...Ficou a mensagem que vos quis transmitir e estou certa ser entendida.
Com um beijo de amizade
Irene
Olá Ireninha!
ResponderEliminarPois olha, gostei tanto do teu texto como dos belo comentários que motivou.ada!Todos eles, belíssimos texos! Fico à espera do próximo.
Beijinhos para todos,
Tininha
Aqui estou mais uma vez para te dedicar umas palavrinhas à tua nova publicação, realmente és duma sensibilidade que me comove. porque tocas fundo e sentes os problemas dos outros.És muito humana, razão essa que nos brindaste com um novo texto muito bem escrito e sentido. Admiro-te, porque da maneira como te conheço sei que és uma pessoa muito bonita por dentro e sinto muita vaidade por ser tua amiga.
ResponderEliminarQuantas Amélias não existem neste mundo? Sofredoras, mas caladas. O Mundo está constituído por pessoas sofredoras que aguentam como as nossas Mães e Avós, por parecer mal, mas felizmente hoje as pessoas acordaram e ninguém nos garante que existe uma nova vida depois desta, por isso dão o grito do " Ipiranga" e soltam-se das amarras de momentos tormentosos e infelizes, outras como a nossa "Amélia" entram em conflito com o Mundo e com elas próprias o sentido que dão à vida é esquecer para sempre, mas não há que condenar, porque o desespero muitas vezes leva-nos a circunstâncias que nem nós compreendemos, por isso querida amiga, louvo-te por isso, pela bonita homenagenm que fizeste a uma Mulher que tanto sofreu. Um beijo da tua amiga de Coimbra.
Olá a todos!
ResponderEliminarCá estou eu de novo só para vos dizer:
Sinto-me abençoada por ter amigos e amigas Fantásticos!!!
Gostava de vos reunir a todos à minha volta e gritar-vos bem alto:
MUITO OBRIGADA!
Da vossa amiga
Ireninha
Lindo o texto e a foto. bjis- Letinha
ResponderEliminarOlá minha querida Létinha:
ResponderEliminarMuito obrigada!Desejo-lhe do coração que tenha uma Páscoa feliz na companhia de todos os que lhe são queridos.
Com um beijo de sincera amizade da sua amiga de sempre
Ireninha