País de sacanas e safardanas
Retrato do artista quando jovem.Foto Leonel Brito. |
de mistura
de usura e óleo bento
animais perfumados
de anéis e arreios
por demais
escuros e iguais
sacanas e safardanas
que nos governam
e nos enterram
de silêncios promíscuos
e também palavras
em sintaxe de mendigo
com alma sem abrigo
e consciência ao léu
que não há inferno nem céu
sacanas e safardanas
o que fazeis deste país
que também é meu?
Toada de Castro Vicente
Era uma vez em Castro Vicentede almas negras com fumo de maldição.
As mulheres sofriam em silêncio
e as crianças não nasciam em Castro Vicente.
Das ruínas do castro fugiam os corvos
crocitando negros até ao Rio
e as cobras invadiram as pedras
e sugaram o leite das crias
dormentes e amargas ao anoitecer.
Era uma vez em Castro Vicente
com padre temente que o sino caísse
no silêncio da terra amaldiçoada.
As pedras vertiam sangue e as cobras
falavam a língua rascante do Oculto.
Fugiam as aves do céu em peste.
Até em Castro Vicente o padre chorava.
Veio o Bruxo quando o Diabo já chegara.
E pela primeira vez em Castro Vicente
um Bruxo foi santo ungido de urtigas
e ossos ressequidos com danças de freira
vestida de sambenito, ave livre do Planalto.
E as crianças começaram nascer
no tempo em que se anunciava o fim do Mundo.
Era uma vez e aconteceu em Castro Vicente
no dia em que o Diabo se esqueceu do Oculto.
Nota do editor:
O dia 23 de abril foi proclamado em 1995, pela organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), como Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, e tem por base as datas de nascimento e de morte do dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare (1564-1616) e de nascimento do escritor espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616).
Teresa Martins Marques :Excelentes poemas de Rogério Rodrigues. Obrigada Lelo Demoncorvo
ResponderEliminarPoemas intensos, de luta e revolta. Desassossegos da vida presesente! Parabéns Rogério Rodrigues. Obrigada Leonel Brito.
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