terça-feira, 28 de abril de 2015

DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA, por José Mário Leite

Ao falar de ciência em Portugal há uma referência unanimemente incontornável: José Mariano Gago falecido inesperadamente esta semana. Muito se disse já e muito mais se dirá nos próximos tempos sobre o distinto e prestigiado cientista que foi, igualmente, o melhor e mais clarividente ministro da ciência. Toda uma geração de jovens talentosos investigadores trouxeram Portugal para a primeira linha da investigação científica europeia e mundial mercê do investimento feito em programas de doutoramento, em projetos concretos e competitivos e ainda nos vários Laboratórios Associados criados, mantidos e desenvolvidos pelo antigo ministro, nos governos de António Guterres e José Sócrates.
José Mariano Gago
Andava, aliás, a formação científica e doutoral na berlinda,  pelas mais diversas razões. Um infeliz artigo (quem os não tem?) de José Miguel Tavares veio questionar a utilidade da formação avançada e a investigação chamada fundamental (ou mais afastada das aplicações práticas como alguns preferem caracterizá-la). Defendeu o jornalista que apenas a ciência com aplicação imediata tem cabimento, nos tempos correntes, como se o espírito e método científicos fossem diferentes de acordo com a utilização que se dá ao conhecimento. Como se a tecnologia moderna se pudesse sustentar ou desenvolver sem a base científica que hoje suporta todo o desenvolvimento tecnológico. Como se fosse necessário perguntar ao comentador do Governo Sombra, onde é normal vê-lo na companhia de um moderno iPad, se ele acha que as modernas telecomunicações, que dão razão e suporte ao referido equipamento, seriam possíveis sem os investimentos anteriores em investigação fundamental. Ou que era vista como tal, há dezenas de anos, no século passado, quando foi decidido aplicar, vultuosos recursos para colocar em órbita uma bola metálica, em volta da terra a emitir um simples bip-bip em ondas rádio, antes de se despenhar no Oceano.
A nomeação de Maria Arménia Carrondo para a Presidência da Fundação para a Ciência e Tecnologia em substituição de Miguel Seabra tranquilizou e garantiu que a Ciência continuará o bom caminho iniciado há vinte anos por
Mariano Gago. Ciência e Educação Superior que o Presidente da República decidiu e bem, em final de mandato, homenagear e condecorar.
Nada melhor que esse evento para fechar esta crónica.
Por três razões adicionais:
Entre os distinguidos estava o professor Dionísio Gonçalves duplamente de parabéns pois o Instituto Politécnico de Bragança, que ajudou a fundar e a que presidiu durante vários anos  foi de novo classificado como o melhor Instituto Politécnico português ficando, inclusivé, à frente de várias universidades públicas e privadas, com especial relevo para a sua contribuição na mobilidade estudantil e envolvimento na região.
Em nome de todos os condecorados o professor e investigador António Coutinho proferiu, de improviso, um brilhante discurso, onde justificou e evidenciou a maior nobreza das atividades de Educação e Ciência, que são igualmente "os melhores motores do desenvolvimento e o seu alargamento a todos será sempre a melhor estratégia para encontrar a diversidade dos talentos necessários à resolução dos problemas de todos nós".
Falou depois sobre o insaciável desejo de compreender que anima e inquieta os educadores e investigadores e que igualmente lhes fornece o otimismo e certeza de serem capazes de resolver todos os problemas e desvendar as origens de tudo e derivar racionalmente as leis naturais que tudo governa. Terminou a sua alocução sintetizando o objetivo da Ciência muito para lá da invenção de “smart-phones”, na belíssima frase de Jacobi e que todos os que se deslocaram ao Palácio de Belém ficaram a saber que está hoje gravada em bronze no Parque Municipal de Bragança "O fim único da Ciência é a honra do espírito humano".

Fonte: 
http://www.mdb.pt/content/da-educacao-e-ciencia

1 comentário:

  1. Ler: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/reaccoes-a-morte-de-mariano-gago-1692794?page=-1

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