quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

EXPULSÃO POR DEFENDER A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, por Teresa Martins Marques

O FIO DAS LEMBRANÇAS (6)
Seminário de Vinhais - 2011
(Excerto da biografia que escrevo sobre Amadeu Ferreira)
«Não era habitual o bispo falar directamente com os seminaristas, em conversa pessoal e comigo era a primeira vez que tal acontecia. Em qualquer caso fiquei com a ideia de que ele tinha andado a informar-se sobre mim, e, sobretudo, que tinha recebido queixas a meu respeito. Na medida em que eu tinha sido autorizado a dar explicações a alunos fora do seminário, justamente pela direcção do seminário, pelo reitor e pelo vice-reitor, a atitude do bispo constituía um ataque frontal à direcção do seminário e um alinhamento pelas posições mais retrógradas, nomeadamente do vigário-geral, cónego Ângelo Melenas, com quem me tinha incompatibilizado nas aulas.»
O bispo chamou Amadeu em privado e dessa conversa relato os termos em que o meu biografado a contou:
Seminário de Vinhais 1953
- “Você anda com uma vida que não pode continuar assim! Você tem de mudar de ideias e mudar de vida. Os professores queixam-se de que você não aceita nada, tem ideias ateias, ninguém sabe se você acredita em Deus ou não acredita em Deus.
Eu só sabia que o caminho da renovação da Igreja passava pela Teologia da Libertação.
- Portanto, tem que mudar de vida. Você anda para aí a dar explicações a raparigas, isso não pode ser. Um seminarista não pode fazer uma coisa dessas. Isso não é bom, isso faz-lhe mal, dá-lhe maus pensamentos. Ainda se ao menos você substituísse as raparigas por rapazes! Você é um rapaz esperto, mas tem umas ideias malucas, você parece que já é ateu, está sempre contra os professores, contesta tudo, nós não o queremos cá assim. Portanto, vai ter de mudar de vida !”
Amadeu não se deixou intimidar e muito menos convencer e respondeu taxativamente ao bispo:
- “Eu não mudo nem de vida nem de ideias!”
«Expliquei que tinha de pagar os estudos aos meus irmãos. Ele não quis saber. Aliciou-me dizendo que, se eu quisesse seguir outro caminho, podia mandar-me para Roma para acabar o curso de Teologia. Fazia lá o doutoramento ou se não quisesse Roma, em Lovaina ou em Paris. Lembro-me bem de serem estes os três sítios mencionados. Eu disse que não, que não queria sair de Portugal, que queria estar ali e que não ia mudar de ideias nem de vida, porque precisava daquela vida para ajudar os meus irmãos e quanto às ideias eram as ideias que me pareciam certas. Soube mais tarde que o bispo terá feito propostas semelhantes a outros colegas meus, o que não abona muito em relação à sua intenção de as cumprir, ideia que tive desde a primeira hora.»

E Amadeu foi expulso. Faltavam cinco meses para terminar o curso de Teologia.

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