ESTRANHA FORMA DE VIDA (4)
(Excerto da biografia que escrevo sobre Amadeu
Ferreira)
O padre professor de História não era formado
em História, mas sim em Direito Canónico, em Roma. Tinha como característica
sentar-se na secretária da sala de aula e o método era sempre o mesmo - leitura
dos manuais e praticamente não fazia comentários. Este era, aliás, o abstruso
método geralmente praticado em que o sentido e a interpretação e o
questionamento não tinham lugar. «Começavam as aulas e, com frequência, éramos
chamados à lição. Abriam a caderneta e o nome que aparecesse era chamado para
dizer a lição. Os professores tinham uma caderneta com os nomes dos alunos onde
anotavam tudo o que era relevante em relação ao aluno: comportamento, notas dos
testes, prestações orais nas aulas, faltas, etc. Dizer a lição era,
normalmente, repetir o que tinha decorado ou responder a perguntas que o
professor fazia. Na disciplina de Latim tinha que traduzir o texto que tinha
sido marcado. Tratando-se de História, tinha que repetir a lição do livro do
José Mattoso. «Impressionava-me muito que alguns colegas tivessem uma memória
tal que conseguiam repetir a lição sem falhar uma palavra, o que não era o meu
caso, embora também não fosse adepto do método. Este método era tão seguido que
o professor marcava a lição a estudar para a aula seguinte por linhas e não por
temas ou capítulos. Lembro-me de que, por vezes, regateávamos com o professor
por uma meia página ou umas linhas .»
Quando se queria elogiar um aluno nesses tempos era comum referir-se que tinha boa memória. «Dizer a lição era ir à frente de todos os alunos, virado para a sala e começar na primeira linha marcada e terminar na última. Teria tanto melhor nota quanto melhor repetisse a lição. O método repetitório era fixado com um rigor extraordinário a tal ponto que não se admitiam interpretações, saltos. Era preciso repetir, palavra por palavra, do princípio até ao fim. Às vezes uma pessoa ia repetindo uma lição, enganava-se e voltava atrás para apanhar o comboio e corrigia as coisas. Depois o professor dava a lição e usava o mesmo método. Tinha o livro à frente, lia o livro, repetia o livro, embora de vez em quando lá contasse uma ou outra história.»
Eram estes os métodos completamente mecânicos e irracionais usados pelos professores. «O método repetitivo era tão presente que nós usávamos todas as situações para exercitar a memória. Eu exercitava a conjugação dos verbos latinos e gregos, ou as declinações, quando me deslocava em fila de um local para o outro, dentro do edifício, normalmente na ida para a capela, que ficava ao lado do edifício principal e havia que atravessar o recreio. Os padres, nessas ocasiões, recomendavam rezar o terço, mas nunca segui essa prática.» Amadeu não reconhece nem poderia reconhecer competência a estes professores e aos seus métodos pedagógicos inconcebíveis. Eram pessoas que tinham lido os livros, que conheciam mais ou menos os conteúdos. O seminário, enquanto instituição, não se preocupava em preparar esses professores, que ficavam entregues a si próprios, ao seu engenho ou às suas limitações. Essa situação permitia reproduzir um modelo, que não tinha condições de se regenerar. Com efeito, a maioria dos professores não tinha uma formação específica para dar as matérias de que eram incumbidos. Além disso, as disciplinas de Humanidades não eram consideradas importantes, talvez com excepção do Latim. Eram disciplinas preparatórias das de Filosofia e de Teologia, consideradas essenciais para se ser padre.
É uma aberração pedagógica o que Amadeu conta em seguida: «Lembro uma vez em que o Manuel João, conseguiu repetir o livro sem falhar uma só palavra.» Esse dia foi a coroa de glória de aluno e professor. Depois de tanto tentar, de tanto pregar, ao longo de anos, o professor conseguiu finalmente que um aluno lhe
papagueasse o livro sem falhar nada. Sorte assim!
Quando se queria elogiar um aluno nesses tempos era comum referir-se que tinha boa memória. «Dizer a lição era ir à frente de todos os alunos, virado para a sala e começar na primeira linha marcada e terminar na última. Teria tanto melhor nota quanto melhor repetisse a lição. O método repetitório era fixado com um rigor extraordinário a tal ponto que não se admitiam interpretações, saltos. Era preciso repetir, palavra por palavra, do princípio até ao fim. Às vezes uma pessoa ia repetindo uma lição, enganava-se e voltava atrás para apanhar o comboio e corrigia as coisas. Depois o professor dava a lição e usava o mesmo método. Tinha o livro à frente, lia o livro, repetia o livro, embora de vez em quando lá contasse uma ou outra história.»
Eram estes os métodos completamente mecânicos e irracionais usados pelos professores. «O método repetitivo era tão presente que nós usávamos todas as situações para exercitar a memória. Eu exercitava a conjugação dos verbos latinos e gregos, ou as declinações, quando me deslocava em fila de um local para o outro, dentro do edifício, normalmente na ida para a capela, que ficava ao lado do edifício principal e havia que atravessar o recreio. Os padres, nessas ocasiões, recomendavam rezar o terço, mas nunca segui essa prática.» Amadeu não reconhece nem poderia reconhecer competência a estes professores e aos seus métodos pedagógicos inconcebíveis. Eram pessoas que tinham lido os livros, que conheciam mais ou menos os conteúdos. O seminário, enquanto instituição, não se preocupava em preparar esses professores, que ficavam entregues a si próprios, ao seu engenho ou às suas limitações. Essa situação permitia reproduzir um modelo, que não tinha condições de se regenerar. Com efeito, a maioria dos professores não tinha uma formação específica para dar as matérias de que eram incumbidos. Além disso, as disciplinas de Humanidades não eram consideradas importantes, talvez com excepção do Latim. Eram disciplinas preparatórias das de Filosofia e de Teologia, consideradas essenciais para se ser padre.
É uma aberração pedagógica o que Amadeu conta em seguida: «Lembro uma vez em que o Manuel João, conseguiu repetir o livro sem falhar uma só palavra.» Esse dia foi a coroa de glória de aluno e professor. Depois de tanto tentar, de tanto pregar, ao longo de anos, o professor conseguiu finalmente que um aluno lhe
papagueasse o livro sem falhar nada. Sorte assim!
Fonte: Facebook de Teresa Martins Marques
https://www.facebook.com/teresa.martinsmarques?ref=ts&fref=ts
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