
Parece anedota mas é real. Não sei a data , mas sei que se passou entre 1956 e 1961. Não começo com a célebre expressão “In illo tempore”, porque ela pertence de direito ao grande contista transmontano Trindade Coelho e contistas como ele há muito poucos.
Então vamos lá à dita estorinha : o nosso professor de Inglês na Faculdade em Coimbra era o famoso Whitcomb. “Ui, te come” para os estudantes de Germânicas, pois o número de alunos a quem ele dava nota para passar rondava os 3%. É isso mesmo, leu muito bem : três por cento. Era um medo dele, pavor mesmo, que nem queiram imaginar! Mas parece que nas patuscadas, o Whitcomb era, além de um bom garfo, um grande ponto. Comia como um galês ( segundo ele, nasceu por acaso no País de Gales) , bebia como um irlandês (um bisavô fora irlandês) e tinha o humor de português.
Pertencia ao Orfeão de Coimbra - que era na altura só masculino - e tocava violino na orquestra de câmara.
Num jantar , numa das muitas digressões do Orfeão por esse país fora, o Whitcomb, já bem bebido (ficava muito vermelhusco com o vinho e, nas piadas, muito carroceiro português), diz para um estudante de pêra um tanto rala e talvez comprida demais : “Ih, sor João Maria, com essa barbicha, só lhe faltam os cornos pra parecer um bode”. O rapaz, não menos bebido, olhou para os minúsculos olhinhos do Whitcomb, mirou-lhe a careca rosada e reluzente e respondeu com bom humor inglês : “Ih, sor prefssor, a si só lhe falta a barbicha pra ser um bode” .
Leiria, 24 de Novº de 2011
Júlia Ribeiro