O mundo comporta os
planos A, B e C. Muitos dos que têm ideias finam-se por excesso de velocidade e
correlativa falta de força, bebida desregulada sem ter, sequer, de se saber o
motivo, ainda que outros caiam pelo vencer puro e simples do quotidiano. Agora,
porém, é o bom tempo que dá mostras de si.
Rebenta a natureza que
do sol faz corpo. Muita flor que bordeja caminhos vai, por certo, escapar ao
herbicida que, já não sendo assim tão barato, é preciso canalizar para o âmago
das culturas tradicionalmente salvaguardadas e limpas do que não preste. Assim
se pensa.
Com a força de cada
primavera a vida acontece de modo unânime, ainda que haja situações que
permanecem em modo de espera e outras a fazerem barragem ao que se apresente
claramente invasivo. Até que chegue o jardim francês.
Há espécies protegidas
e outras que vêm do princípio do mundo e se dão bem juntas e a tender sempre
para o mesmo.
Tudo o que é efémero
sai que nem borboleta, dura por vezes o instante do pequeníssimo voador que aprecia,
incerto, o modulado quente do digital.
O corte de ramos tardio
faz da amendoeira chão florido. Já a oliveira não dá tanto pasmo, talvez por
prender de estaca. Ambas hão-de fornecer bom lume quando forem encaminhadas
para a hora da lenha cortada e, se for caso disso, convenientemente rachada.
Primeiro é a folha de serra, as mais das vezes a motor, depois as cunhas e a
marra, ou então o rachador, que dão forma ao produto pronto a ser consumido com
alguma chama e fumaça dirigida. Nem de mais nem de menos.
Cantam aves à compita
procurando assentar o lugar do ninho tendo em vista os predadores que, com o
tempo, foram incorporando no instinto e na memória geral da espécie.
Tudo aquilo em que se
investe é de primeira qualidade até que ceda lugar, pelo barulho que espanta
mas que já causou mais admiração do que causa, ao desencanto e ao desalento.
Assim, plante-se, então, o que cresça, construa-se o que permaneça.
Entra o sol no “digital
point” e não deixa que tarde se faça. Há o rumor das “selfies”.
Tem quinze anos. Já
quase não se tem nas patas. O seu fígado está no chão e, por isso, tem de lhe
ser ministrado, com frequência, um determinado “cocktail” de químicos. Houve
quem visse uma senhora, à saída da missa do convento, quase indo para o
Larinho, a cuidar dele. Não se sabe se o acolheu. É muito dado. Não se conhece
o jeito dessa pessoa que foi vista. Sabe-se que se desloca em veículo ligeiro
de cor negra. Não há assim tantos carros pretos.
Não gostaríamos que os
dias do Joca chegassem ao seu termo à trouxa mocha, sabe-se lá à procura de
quê.
A água empoçada e funda
é o lugar de todos os abismos e um animal não pode aí acabar por falta de
forças.
Procuramo-lo na medida
em que ele nos possa querer procurar e encontrar.
Dá para perscrutar o
alcance do trágico, na contemporaneidade que tem escapado a desideratos
inomináveis, olhando as pequenas coisas que quase parecem postas no lugar para
nos treinarmos e, dessa forma, robustecermos, para o que der e vier, todo o ser
em nós. E nos outros que, por ali, calhe de haver, passando.
Uma coisa é a procura e
outra é o encontro.
Se o Joca chegar aos
dezoito anos, com novo dono que nele aplique estima, já não é nada mau para uma
vida de cão. Isto se a senhora do carro preto não se viu obrigada a dar-lhe
adequado suporte final. Ou se, entretanto, não foi resolvido, algures, que
animais tão dados possam chegar perto da força de vontade de pessoas que os
estimem. Assim, todos querem que durem o mais possível e em perfeitas
condições. Se não todos, bem alguns.
O que prende
encontra-se essencialmente protegido do desconforme e dessa forma cria o
sentido de libertação.
Carlos Sambade
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