Fotografia: José Rodrigues |
Se a velhinha, muito velha mesmo,mãe lendária da
aldeia do Souto da Velha fosse viva diria: meus senhores saibam que muitas das
lágrimas que deixei cair por não ter casa onde me abrigasse foram parte da
fonte que ajudou a brotar tantas que engrossaram o Ribeiro dos Moinhos ou como
outros preferirão chamar de Ribeira...percorrendo quase uma légua não é água
bastante que ganhe forma de rio, embora na sua desembocadura se case
prazenteiro e sinuoso com o seu Sabor. Homenageando tal enlace amoroso , no seu
fim de principio , se estribam os Pegões no Poço dos Praça e o cilíndrico
pombal, de cujos beirais as pombas, todas as primaveras, levavam em seus bicos
lindos ramos de laranjeira florida cantando hossanas pelas riquezas que no
leito das Olgas e através dos tempos, tanta diversidade de frutos deliciaram
estomagos vazios de moleiros, pastores , jeireiros , homens do rebusco e seus
senhores aristocratas. Desde a Terra da Moura, nas faldas da Mua, na interseção
de noroeste da padroeira Senhora do Amparo e de seu parente souteiro e velhinho
padroeiro, que abundavam os castanheiros, as bebereiras, pessegueiros vários e
de rachar, nozes, amêndoas , azeitonas galegas e carrascas ,verdiais como
verdes e frondosos eram os freixos, lodões, amieiros e zambujeiros, dos quais,
pelos Reis se faziam os galheiros para a Festa dos Rapazes. E que belo quadro
etnográfico e bairrista se apresentava no Largo da Igreja Matriz ( S. Miguel
por padroeiro) de Felgar, onde garboso mancebos se desafiavam com as chouriças,
as cebolas, as romãs, as uvas quilhão de galo a pedirem meças aos pichassotes ,
de cujo cu pendiam lágrimas de mel capazes de estancar tristezas à Velhinha do
Souto da Velha. E do " inadvertido Rio de Moinhos" rogássemos aos
barqueiros de Silhades por fugidias trutas eles nos diriam: ide por aí acima
até á Fabrica dos Cobertores, do Miguel Moita e com elas havemos de fazer um
festim que até as bogas, os escalos, as enguias e os mexilhões de água doce se
esquecerão das suas camas. Mas prestai atenção: se vos apetece uns valentes
barbos aproveitai os poucos dias que os da EDP e os chineses das Três Gargantas
Fundas vos permitem. Eles comem tudo! nem uma árvore fica de pé! Peixes,
lontras , lagartos e ovelhas todos choram no lodo que inundou o seu mundo. Nem
o bezerro do Castelinho pode ser esconjurado pelo S.Lourenço nem São Cipriano
lhes vale.
Artur Salgado
Artur! Olá! No Larinho dizemos bijassotes... São os figos mais maravilhosos que existem. Nós temos uma figueira dessas numa terra encostada ao rio Sabor a que chamam A Fraga. J. Andrade
ResponderEliminarParabéns Artur Salgado me fizeste reviver palavras que eu pensava que já nem existiam como : pichassotes e zambujeiros kkk
ResponderEliminarArtur Salgado :
ResponderEliminarA imagem sinuosa, contrastante e nostálgico-sonhadora mostra um ar triste daquele que foi o Moinho dos irmãos Morgado. Se a memória de menino pastor e neto de moleiros ainda se mantiver activa, como activos se mostraram os rodízios de fazer pão ao longo dos tempos, então direi que o seu berço foi ali defronte dos Abexeiros do Ar da Casa. Como tudo neste mundo se vai transformando ,e como diz o adágio; Março marçagão, de manhã cara de burro à tarde cara de cão. A cara dos escombros mostrada bem poderia contrapor: pois é! Também eu vivi muitos Fevereiros os quais pela tarde enganou sua mãe no Ribeiro... Se o Ti António Morgado, poeta popular e vetusto e honrado Mordomo de Senhora do Amparo presenciar esta imagem que não fique com ares de má cara pois que atrás dos tempos outros virão capazes de nos resgatarem na memória as nossas vidas e dos outros que se impregnaram em forte e meigo coração.