Há, para este autor, fases na vida do escritor e poeta
nascido em Freixo de Espada à Cinta, designadamente a do polemista (Pátria, A
Velhice do Padre Eterno, A Morte de D. João), a do “repouso lírico” de Os Simples
e a da “reconstrução espiritualista” das Orações (à Luz, ao Pão).
Para Leonardo, Junqueiro é, durante grande parte da sua vida,
um “optimista imanentista e naturalista”, acredita no “valor infinito da
ciência”, só deixando de o ser pela “experiência da dor pessoal”. Da filosofia
interessava-lhe a metafísica, tinha em preparação o tratado “Unidade do Ser” em
que caberia um “panteísmo espinosista, penetrado da vida com que o
evolucionismo naturalista o poderia encher” .
Em suma, para o filósofo do Porto, o Junqueiro eterno é o de Os Simples,
“pela sua bondade comunicativa, pela sondagem até ao infinito de cada alma, até
ao ponto onde começa o outro mundo,
tanto mais eterno quanto mais se desprende de si e se entrega ao “fervor dos
humildes”, chegando o filósofo ao ponto de afirmar que quase toda a outra
produção do escritor e do poeta é “como a escória saída da fusão espiritualista
da sua alma”, algo que “sobrenada” e dessa forma é visto mais facilmente.
Há em Os Simples uma certa alma, a de um certo povo e também
a alma da terra que se faz, no mínimo, paisagem. Aqui, quanto mais se dá o
afastamento do “intelectualismo” mais se nota a aproximação de uma “simpática
vibração” em que “o Poeta irá viver mentalmente a vida dos simples, mas com a
contradição na alma, num permanente esforço de só querer sentir com eles e como
eles, adormecendo o pensamento”.
Leonardo vai debruçar-se sobre vários aspectos de Os Simples,
a saber: a Moleirinha (o envelhecimento no sossego do dever cumprido), o
Cadáver (a cinza em associação com o princípio), as Ermidas (pontos do Alto em
direcção ao mistério que em boa parte a infância sempre encerra), o Pastor “de
rebanhos de almas pelo azul profundo”, o Cavador (a dureza do trabalho), os
Pobrezinhos (obsessão um tanto estranha de um “economicamente homem de
cabedais”), o Campo Santo (luar, luar), enfim, Canção Perdida “no espaço,
pedindo lembrança e companhia”.
Coimbra, Leonardo, Guerra Junqueiro – Nota prévia, organização
e fixação do texto de Paulo Samuel,
Porto, Lello Editores/Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do
Porto, 1996.
Texto e foto enviados por Carlos Sambade
Ana Diogo :
ResponderEliminarGostei muito deste recordar de Junqueiro, tão esquecido!
Manuel Queijo Queijo :
ResponderEliminarMuito bem.