Sinopse: Não há uma sem duas, nem duas sem três, como dizo ditado. A edição do primeiro volume de Prolegómenos – Crónicas de Barroso saiu em 2007; o segundo em 2009; cumprindo o prescrito popular, surge agora o terceiro volume. Se a rubrica sugere uma ideia de preâmbulo ou prefácio, onde o autor fala da terra, do tempo, da paisagem e de todos os que nela vivem, decisiva é a oportunidade de exprimir e clarear a essência de um Portugal profundo, intemporal, como deve ser a literatura digna desse nome.
Bento da Cruz é um virtuoso da escrita. Criou um estilo próprio, inconfundível, que resguarda a técnica para dar lugar ao rigor, à melodia, ao ritmo, à fantasia e à sensibilidade.
Tal como o apelido de família, «da Cruz», parece resultar da casa mãe erguida na encruzilhada de quatro antigas vias romanas, ao fundo da aldeia de Peireses, também a sua escrita é um encontro singular de múltiplas e variadas influências, e contextos artísticos, que desmontam todas as tentativas de classificação académica simplista.
A língua portuguesa é, para Bento da Cruz, um atalho de liberdade, onde o despretensiosismo e a simplicidade da melodia dão lugar à sonoridade da expressão que emociona o leitor. Há, na pena do autor, uma boa quota-parte das virtudes literárias que ele próprio destaca em Camilo: «Ninguém escreveu com mais elegância, mais pureza, mais harmonia, mais propriedade, mais fluência, mais graça. Tinha como ninguém o dom de fazer rir e o dom de fazer chorar, ao sabor das emoções. […] Os livros de Camilo Castelo Branco são o tesouro da língua portuguesa. A reserva.»
Em Bento da Cruz, mais moderno, a vários títulos, descobre-se esse mesmo registo, o mesmo tesouro.
Bento Gonçalves da Cruz nasceu na aldeia de Peireses, do concelho de Montalegre, em 22 de Fevereiro de 1925. Num contacto directo com a vida do campo, viveu ali até aos 15 anos, altura em que ingressou na Escola Claustral de Singeverga, onde permaneceu durante 6 anos e se familiarizou com os grandes escritores da antiguidade, principalmente com os latinos.
Abandonou a vida claustral, mas prosseguiu os estudos, licenciando-se em Medicina pela Universidade de Coimbra. Regressou então ao município de Montalegre, onde montou consultório de clínica geral e estomatologia.
Em 1963 publicou o romance Planalto em Chamas, o primeiro de perto de duas dezenas de obras literárias enaltecidas pela crítica, algumas delas distinguidas com prémios literários nacionais de referência. Fundou em 1974 o jornal Correio do Planalto, de que ainda hoje é director.
Foi deputado à Assembleia da República.
É patrono da Escola Secundária Bento da Cruz, em Montalegre.
Está representado em várias antologias e é hoje reconhecido como um dos mais destacados escritores portugueses contemporâneos.
António Baptista Lopes :A obra de Bento da Cruz e de outros importantes autores transmontanos esta disponível na Ancora Editora.
ResponderEliminarTenho de felicitar a Âncora Editora por publicar as obras de Bento da Cruz e outras de cariz antropológico e etnográfico que versam as terras do Barroso, Trás-os-Montes e Alto Douro. Monumental, imperdível, os dois volumes de Pires Cabral sobre regionalismos. Sugiro, por isso, que consultem o escaparate (online) desta editora.
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