sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Pequenas Memórias - “FORA DO ALCANCE DAS CRIANÇAS” (III), por Júlia Barros Ribeiro

“Grande é a poesia, a bondade e as danças ... Mas o melhor do mundo são as crianças “
Fernando Pessoa

Pouco depois do 25 de Abril, talvez por fins de Maio ou princípios de Junho , fui convidada pelo Prof.Rogério Fernandes , então Director- Geral do Ensino Básico, para Directora da Escola do Magistério Primário de Leiria. Pedi um tempo para pensar, porque uma Escola do Magistério era um mundo diferente do de todas as outras escolas . (Mas isto é outra história). Após aturada reflexão, consciente de que o cargo era político, mas atendendo a que o Ensino Primário era então o único que chegava a todas as crianças do país, decidi aceitar a tarefa.
Além da formação dos futuros professores do Ensino Primário, havia a supervisão das Escolas Anexas, onde decorriam os quatro anos de escolaridade que constituiam o Ensino Primário .
Um dia, uma das professoras entrou no meu gabinete e mostrou-me uma revista pornográfica que havia tirado das mãos de um garoto da 1ª classe. Era pornografia da pesada. Ela explicou: “ Começaram as aulas na semana passada e já é a quarta revista porca que lhe tiro. Eu dou conta, porque ele anda a mostrá-las aos outros. Olhe que o miúdo ainda não tem 7 anos. Que acha que devo fazer? “ .“Vamos dizer ao menino que não traga mais revistas para a escola e temos de chamar os pais”.
Chama-se o menino; eu, com a revista na mão, começo a dizer : “ Pedro, tu ... “ O miúdo interrompe e, todo contente, diz: “ Você também gosta da revista? A minha pessôra gosta muito. Tira-mas e mete-as na gaveta”. A professora até ia tendo uma síncope.
Eu voltei a falar: “Espera, Pedro. Diz-me só onde é que tu achas estas revistas que trazes para a escola?”
“Estão lá muitas em casa, debaixo da cama do meu pai e da minha mãe” . O Pedro foi para a sala de aula e, ainda nesse dia, eu disse à mãe do Pedrinho , entregando-lhe as revistas : “ Minha senhora, pornografia, tal como os remédios, SEMPRE FORA DO ALCANCE DAS CRIANÇAS”.

Júlia Ribeiro

19 Agosto 2011

13 comentários:

  1. Entre finos , a versão do meu tio (75 anos) .
    "No meu tempo não tínhamos acesso a revistas pornográficas, provavelmente circulava num mercado paralelo clandestino como hoje a droga. Havia uma revista, a cores ,papel de qualidade, ,que se vendia nas lojas que tinha postais e souvenirs para turista ,A PIN.UP. Trazia fotos de modelos em fato de banho ,biquíni e topless artístico. O Amílcar, o pai era rico e liberal ,tinha dinheiro para estas extravagância, tinha a colecção completa. Nós pedíamos-lhe uma para nos masturbarmos nas casas de banho do colégio. Tudo muito discreto .A iniciação sexual era nas casas de passe com o apoio dos colegas mais velhos, eram os nossos padrinhos de baptismo. Tinha 15 anos quando apanhei a primeira blenorragia(esquentamento, na nossa gíria) e 17 quando dei o primeiro beijo. A homossexualidade era um pecado grave punido com a expulsão do colégio e que nos levava directamente ao inferno, dizia o senhor padre nas aulas de moral. Alguns, quando regressavam de férias, aproveitavam as festas nas aldeias ,que entre copos, bugigangas, rifas - Oh! Freguês compre uma rifa ké para me estrear - vermelhinha ,pó, larangina C, pirolitos, codornos com chouriço,poeira e tiro ao canhão, havia sempre uma ou duas putas que “varriam” a feira.Tudo se passava em bichas disciplinadas ,excitadas e divertidas a trás de um cabeço mas com medo que começasse o fogo de artificio e fossem descobertos. A melhor, no dizer dos entendidos, era a festa da N.S. do Amparo no Felgar. Uma vez na vila ,escreviam versos de amor à namorada que tinha ficado em casa a ler um romance clandestino da Corin Tellado". Assim era a educação sexual no tempo do meu tio(e do meu pai,que não falava destas coisas.
    Noitibó

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  2. A estória da Julinha e o comentário de Noitibó são DELIRANTES !Bem hajam por contribuírem para o bom funcionamento do meu fígado…Permitam-me também uma achega :
    Na sala de professores em intervalos entre as aulas, em grupos de amigos ou em almoços e jantares de confraternização com predominância de docentes, são as estórias passadas na sala de aula o principal tema de conversa ,pelo insólito,pelo inesperado, pela comicidade de certas situações.
    Esta aconteceu com uma amiga minha, professora primária ,por sinal nossa conterrânea. Dando aulas numa zona periférica de Lisboa, muitos problemas de ordem social se lhe deparavam com frequência. Como muitas outras vezes tinha feito ,competente e responsavelmente, um dia escreveu umas notas dirigidas ao encarregado de educação de uma das alunas ,pedindo a sua comparência na escola, a fim de ,com ele, encontrar a melhor forma de resolver a dificuldade de aprendizagem da miúda.
    Esperando uma resposta, no dia seguinte perguntou à criança que lesse o que o pai tinha escrito .A menina, envergonhada, nada disse .Ao ter conhecimento que o indivíduo era vendedor ambulante ,deduziu a professora que a ausência de resposta se deveria ao facto de ser analfabeto. Fez a pergunta de outra maneira:”O que é que o teu pai disse sobre o que eu escrevi?”A miúda…nada. A professora insistiu ,e a aluna continuou muda.”Então ,filha – pediu carinhosamente a minha amiga – conta lá o que disse o teu pai” Finalmente a criança, corando violentamente ,gaguejando envergonhada ,desabafou:”O meu pai di ..-disse… prá se…senhora pro…professora… ir pró c……!”

    Uma moncorvense

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  3. Olá, Sra. Directora:
    Eu era aluna-mestra nesse tempo. Há quanto tempo! Já lá vão quase 40 anos ... Já tenho 2 netos.
    Essa cena passou-se na sala em que fazíamos a prática pedagógica com a professora Julieta. Foi demais!! Então o miúdo a querer oferecer-lhe revistas pedagógicas, ai que me enganei, revistas pornográficas e a Directora do Magistério não aceitou. Isso não se faz.
    Ainda um dia destes, isto é, em Julho do ano passado, eu e mais duas moças (!!) do meu tempo, falámos destas cenas e de outras , como daquela vez em que fomos pela cidade distribuir comunicados em resposta aos aos comunicados nojentos daqueles fascistas todos e que agora andam agarrados ao tacho.

    Um abraço muito grande
    Alcina

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  4. As piquenas são a sério ou são manaqins?
    Não conheço a vossa avozinha q escreve estas piquenas memorias mas é uma avozinha do caraças. À munto q não me ria tanto. Professora Julia não se zange com o q eu disse, eu axo q é uma pessoa munto porreira.

    Antonio , no Luxemburgo á 34 anos

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  5. Apesar da crise ... ou se calhar para não cairmos todos em depressão ( excepto aqueles que já puseram os muitos milhões a recato nas ilhas Caimão, nas Bermudas ou sabe o Diabo onde ), vamos contando umas estorinhas.
    Hoje já me ri com os comentários e claro que não me zango com alguém que está no Luxemburgo há 34 anos!! Fique por aí, António, que por aqui isto está uma desgraça.

    Abraços
    Júlia

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  6. Apesar da tristeza de ter perdido a minha mãe,há 2 meses,já me ri com o texto da Julinha e com os comentários!!!Isto faz bem à crise.
    Certamente tem mais textos para nos alegrar.
    Tenho na minha posse um dos seus livros que foi oferecer à minha mãe, em Moncorvo, que ela me deu e pediu para guardar.
    Ficou muito sensibilizada e não queria que o livro "levasse caminho".Ficará para o meu filho do meio, que só em livros, tem milhares!!(por isso, é que não foram para as ilhas Caimão etc...
    Um beijo para si e para o Lelo.

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  7. António, as piquenas são uma alegoria, uma mensagem. o quadro é um desafio à nossa imaginação. Para mim é bem claro; quanto mais te baixas mais te vêm o rabo. É a passividade dos portugueses perante a crise. Outros dizem que é uma mensagem sibilina a Ângela Merkel pois segundo a tradição foi assim que a Alemanha perdeu a guerra. Na outra foto a piquena diz ao mundo que mãos femininas não servem de sutiãs ,venham mãos grandes,calejadas…sussurra .
    Maneta

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  8. E vendedor ambulante disse:... "ir pró c……!”
    Homem experiente,educado nas ruas, sabe qual é a resposta às crises ,chatices e outras aldrabices.Cheira-me que isto se passou no Porto ,terra do portugês vernáculo.

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  9. REQUERIMENTO

    Exmº Senhor Reitor da Universidade Lusófona

    Campo Grande, 376,

    1749 – 024 Lisboa

    reitoria@ulusofona.pt

    A signatária é Guilhermina Condon Pito, profissional da prostituição, Condon da parte da mãe e Pito da parte do pai, mais conhecida por Guilhermina Pito, “Pitinho” para os amigos, moradora na rua das Pegas, nº 69, Coina, concelho do Barreiro, distrito de Setúbal.

    Saiba V. Exª que a minha profissão ao longo de mais de 30 anos de trabalho árduo, sem horário, de busca e de total entrega a longas e profundas experimentações e ensaios que considero científicas, significa o culminar de um trabalho que não deixa de ser académico e de ensino e pesquisa permanente, de grande relevância para um ramo de investigação como é a área do conhecimento científico da Sexologia. Trabalhei com equipas jovens e até veteranas, de forma isolada e em grupo, o que me conferiu o domínio do conhecimento e a possibilidade de ensinar numa perspectiva teórico-prática, com recurso a suporte audiovisual, sempre que necessário, e uma participação activa do aluno ou alunos envolvidos, conforme o caso. Adquiri, por isso, conhecimentos necessários ao diagnóstico, classificação, avaliação e intervenção de todo o tipo na área da sexualidade. Tenho um domínio completo em todos os instrumentos de intervenção e na avaliação dos mesmos nesta área.
    Desta forma, venho requerer a V. Exª se digne reconhecer, através da atribuição de créditos, a experiência e competência profissional que fui adquirindo ao longo da vida, tendo por base o Decreto-Lei 74/2006, atribuindo-me o Doutoramento em Sexologia.

    PEDE DEFERIMENTO

    Coina, 9 de Julho de 2012

    A requerente

    Guilhermina Condon Pito

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  10. Começou por se chamar Aguabona por mor das boas águas que por lá corriam e hoje a freguesia limitada a norte pelo pomar de Coina e pela E.N. nº 510-1, a este pela via rápida e a oeste pelo rio Coina já é paragem do comboio da Fertagus que ostenta bem alto o nome de Coina.

    Nossa Senhora dos Remédios é a padroeira das suas festas que ocorrem no mês de Julho mas o nome desta vila ficou pela primeira vez no ouvido dos portugueses a partir de 1975 quando Artur Gonçalves lhe dedicou o Vira da Minha Terra com a seguinte letra e a música no link:

    http://www.youtube.com/watch?v=qXAXjwgiSi8

    "Ai vamos à Coina rapaziada,
    vamos a todas não escapa nada
    ai não escapa nada, vamos prá moina,
    rapaziada vamos à Coina

    Fica juntinho ao Barreiro a terra dos homens de Coina,
    Seja do Minho ao Algarve todos lá passam pela Coina,
    Rapazes venham à Coina porque hoje é dia de festa,
    Foi na Coina que eu nasci, não há Coina como esta.

    Ai vamos à Coina rapaziada,
    vamos a todas não escapa nada
    ai não escapa nada, vamos prá moina,
    rapaziada vamos à Coina

    Tem a mata a rodeá-la com sombra amiga para nós
    é a mais linda da Coinas ó Coina dos meus avós
    Foi da Coina que eu vim, terra de alegria e som
    Se ainda não foste à Coina vai à Coina que é bem bom"

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  11. Isto das equivelências do Sr. Relvas, dótor da mula ruça, dá pano para munnnntas mangas... E ainda está pra duraaaaar. Em anedotas e em coisas a sério.
    A D. Guilhermina Condon Pito tem todo o direito de riquerer a sua equivelência ou não? Não está na lei? Não é tudo legal? Se não é, também se faz já uma nova lei.
    Vergonha é que esse aldarbão não tem nenhuma. Vejam na revista VISÃO os milhares de euros que esse menistro gastou à Câmara de Tomar só em chamadas de telemóvel. E depois vêm todos eles a obrigarem-nos, a nós, a pagar a crise. PIGS.

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  12. Luís Afonso Guardado disse: Enterraram as piquenas?Agora a sério;grande texto. Tenho que ler a obra desta escritora.Pergunta: os governos de Guterres e Sócrates ,da maneira como nos f.. não são pornografia?

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  13. Sem usar palavreado obsceno, o pais está a saque..cada um rouba o que mais pode. Era necessário um 24 de abril agora..sem cravos. Em alternativa o povo deveria pegar nas enxadas, acertar lhes o passo e fazê los cavar os campos de manha à noite a pão e agua..Esses políticos de merda o que sabem fazer é encher os bolsos e o povo que se "lixe", estao a acabar com tudo..sistema de saúde educação, valores, ..para mim dá e sobra...e os nossos filhos? Nao estou a conhecer o meu pais nem a gente de bem que lá vive..nao entendo tanta passividade...

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