Vestígios Históricos
Quando a casa foi comprada já se encontrava em ruínas.
Com a demolição do telhado e da parede interior foi surgindo a necessidade de demolir as paredes exteriores, devido à insegurança que apresentavam. O mau estado era patente nas argamassas que não passavam de pó e não davam estabilidade a uma estrutura que tinha séculos e que terá sido muito descuidada ao longo desse tempo. A demolição efectuada pelo construtor foi acompanhada pelo arqueólogo do município e a sua equipa de trabalho. Numa parede exterior foi encontrada uma "ara romana", objecto de vários estudos e muito valorizada devido à raridade dos seus motivos.
Na parede interior, outrora parede exterior, limite da casa, com 90 cm de largura e com um portado feito com enormes pedras de granito, encontrámos um armário fora do comum. Estava protegido com uma armação de madeira que suportava duas portas que davam acesso aos dois compartimentos. Após a retirada das madeiras apareceu uma construção única que se via estar fora do contexto, que não pertencia à parede nem à casa como a estávamos a encontrar: tinha a frontaria trabalhada e a esquina interior cortada, tinha na divisão inferior dois círculos do mesmo tamanho e um mais pequeno cavados no granito. As interrogações com este achado começaram muito antes da demolição, mas foi com a retirada de todas as madeiras que apareceu em toda a sua grandeza. Estava implantado 1m acima do nível da sala e a parte superior estava coberta pela divisória do sótão; só foi possível apreciá-lo na, na sua totalidade, já na fase de demolição. Formam um conjunto de 9 pedras que se suportam umas às outras; quando a parte cimeira é colocada, esta dá estabilidade às subjacentes.
Numa fase anterior às obras a casa é motivo de curiosidade e é visitada por dois arqueólogos, o arq. Machado Lopes e esposa, que concluem tratar-se de um "altar" do culto judaico e emitem parecer nesse sentido. Tratava-se de um"aron ha kodesh", "armário da Lei", lugar para guarda da "Torah" (Livro da Lei). Após a retirada das divisões de madeira verificámos que estava situado no meio da parede, orientado para o centro da sala.
Este achado vem dar outra interpretação histórica à presença judaica no Sabugal, onde não havia qualquer referência a esta presença. Ao considerar esta referência judaica os especialistas são levados a concluir que a sua origem é do período de convivência pacífica entre os seguidores do judaísmo e do cristianismo,possivelmente século XIV, porque no largo do castelo existia a igreja de Santa Maria, que foi destruída em 1910, pelos republicanos. À posteriori podemos concluir que esta casa seria das mais antigas existentes na vila, que terá resistido às sucessivas destruições. Na demolição encontramos diversas quotas de piso que poderiam ter diversas interpretações e um estudo mais aprofundado. Quem conhecia a casa sabia que para nela entrar tinha de subir 4 ou 5 degraus que davam acesso à varanda/marquise e ao quarto entre paredes (à entrada) e que para entrar na sala, após a segunda parede, tinha de descer 3 (três) degraus. É estranho ter de subir para depois descer..... No espaço entre paredes encontramos uma quota do antigo morro do castelo, mais alta que o actual largo. A casa original possuía grandes dimensões e neste momento pertence a dois proprietários, tendo duas entradas (norte e sul) e um quintal/pátio virado para sul. Na parede exterior, do século XV, virada a norte, também encontramos uma marca de cristãos-novos, marca singular e única da qual ainda não vimos reprodução. No nosso entender é compreensível a presença judaica no Sabugal porque estamos numa zona de fronteira e também de passagem. Com a perseguição exercida pelos reis católicos sobre os judeus de Espanha, estes tiveram de fugir e o mais fácil foi passar a fronteira porque em Portugal eram bem recebidos. No lado de Portugal, depararam com uma zona possivelmente desertificada que apresentava condições propícias à sua instalação, senão de forma permanente, pelo menos de forma provisória. Este é um assunto que será objecto de estudo por alguns entendidos na matéria. Fonte: http://casa-do-castelo.net/ |
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