Partimos
de Mogadouro no dia 22 de Abril, já pela nova IC5, rumo a terras de Miranda do
Douro, para compor mais uma reportagem para a Epicur. Os dias anteriores foram
um pouco chuvosos, pelo que receávamos um tempo bastante cinzento, senão mesmo
com aguaceiros. Ao longo do novo percurso pelo Planalto Mirandês, olhando para
a nossa esquerda, avistávamos a Serra da Sanabria (já em Espanha), coroada com
uma linda camada de neve. É sempre um espectáculo lindo de se ver. Fomos disfrutando
do belíssimo Planalto Mirandês, até chegarmos a Vale de Mira, onde nos foi
proporcionada uma bela e pausada panorâmica da cidade mirandesa.
Chegados
a Miranda do Douro, percorremos as estreitas e históricas ruas, onde pudemos
constatar que o património edificado está muito bem conservado. Para além de
ser o único concelho do país onde se fala a língua mirandesa, esta cidade
fronteiriça tem um centro histórico perfeitamente conservado, não adulterado e,
como se diz num folheto da Câmara Municipal local: ”e acima de tudo um centro histórico vivo, onde por trás de cada fachada
se vive, há comércio, há gente, há pulsar, há progresso e há modernidade”. Em
Miranda do Douro preserva-se todo o património: desde o artesanato à
gastronomia e mesmo à própria língua mirandesa, como se refere no supracitado
panfleto, o mirandês: ”não é Português
nem Castelhano, e muito menos uma mistura das duas línguas. Em Miranda sempre
se falou assim, e agora volta-se a escrever o Mirandês, que sobreviveu ao tempo
e às mudanças da vida moderna”.
...as ruínas do paço Episcopal |
Dando
um passeio pela cidade, destacamos, entre outros, os seguintes locais a serem
visitados (quase obrigatoriamente): as ruínas do velho castelo (a povoação medieval
de Miranda do Douro cresceu, sobretudo ao longo do século XIII. D. Dinis teria
construído o castelo e também promoveu a construção das muralhas desta “vila
nova”. O castelo propriamente dito, terá explodido num dia de Maio de 1762, em
que Miranda enfrentava as forças espanholas, daí só restarem ruínas); A Sé
Catedral (onde está o célebre Menino Jesus da Cartolinha); as ruínas do paço
Episcopal, o Museu da Terra de Miranda (localizado
no centro histórico de Miranda do Douro o Museu da Terra de Miranda integra um
conjunto de diversos espaços de cultura e de património relevantes da cidade.
(…)
...por serem os portugueses os olhos que a vêem |
Além da exposição permanente o Museu dispõe recorrentemente de exposição
temporárias e de um serviço educativo com forte interacção com as comunidades),
como se diz num folheto do Museu; a rua da Costanilha com casas que datam
desde o século XV; junto ao supracitado Museu e a paisagem do rio Douro no
excelente miradouro da Sé Catedral. Deste miradouro avista-se a célebre “Pedra
Amarela”: “espanhola por estar na margem
de lá, portuguesa por serem os portugueses os olhos que a vêem com maior
proveito[1]”. Nesta Pedra, há
uma cor amarela, onde está bem impressa o número 2, feito pela Natureza. Diz a
tradição que quem não vir este 2 (que se vê perfeitamente da Estalagem de Santa
Catarina, ou do miradouro da Sé) e estiver solteiro, casa, mas for casado e não
o vir, é porque está a ser…enganado.
A sala de jantar tem uma decoração sóbria... |
Convidados
a degustar a excelente gastronomia mirandesa, não escolhemos a “posta”,
sobejamente conhecida, antes preferimos o bacalhau. Não só porque estava a
decorrer a tradicional “Semana Gastronómica do Bacalhau”, mas também por ser um
prato de excelência, não só para os portugueses mas, sobretudo para os “nossos
irmãos” do outro lado da fronteira. De facto, os espanhóis vêm, sobretudo ao
sábado, comprar e degustar a nossa gastronomia. O local escolhido, não podia
ser melhor: a Estalagem de Santa Catarina. Porquê? Como diz o folheto da
própria Estalagem: “A Estalagem de Santa
Catarina (com a denominação “Pousada Santa Catarina até 2002) encontra-se
estrategicamente situada. Da entrada observa-se a cidade histórica. O interior
e varandas vivem intensamente a natureza. A paisagem é deslumbrante…o rio
Douro, as arribas e seus penedos, a albufeira lá no fundo, o planar do voo das
águias e abutres ali mesmo, de frente. Situada em pleno Parque Natural do Douro
Internacional, terra dos famosos “Pauliteiros de Miranda” e gaitas de foles,
Miranda conserva uma língua própria e oferece um conjunto de festividades
populares, danças e costumes peculiares, tradições e costumes únicos no país”.
A equipa da Epicur foi principescamente recebida
pelos seus donos, Sr. António M.V. Granjo e sua esposa a Srª Eng.ª Jesuína
Maria Neto Granjo.
A
sala de jantar tem uma decoração sóbria, um ambiente requintado, música
tradicional de bom gosto, que torna agradável o ambiente com os móveis
originais e uma vista verdadeiramente deslumbrante. A sala é decorada com
lindos azulejos de Júlio Resende, datados de 1952.
A
refeição foi assim servida, entradas:
Alheira e chouriça assadas, queijo da região, salpicão, paté de atum e presunto
da região. Os vinhos escolhidos
foram da região: o primeiro foi um tinto DOC de 2006 Reserva, denominado “Ribeira
do Corso”, CVRTM (Comissão vitivinícola regional de Trás-os-Montes), produzido
pela Cooperativa Ribadouro (de Sendim) e o segundo vinho degustado foi outro
vinho tinto, curiosamente também de Sendim (Miranda do Douro), DOC, produzido e
engarrafado por José Francisco Lopes Preto (VQPRD). Gostámos bastante dos dois
vinhos provados. Prato: escolhemos
um bacalhau de cebolada delicioso a que o meu amigo Antero Neto chamou, com
toda a propriedade, um verdadeiro festival de sabores. Como já se referiu os
espanhóis todos os sábados visitam Miranda do Douro e comem ou a “posta”, ou o saboroso
bacalhau, como só os portugueses o sabem fazer. De destacar o serviço impecável
e simpático do empregado de mesa Sr. Victor Porto. A receita para este prato
foi-nos dada pelo Chef Armandino
Pires, nascido em Duas Igrejas (concelho de Miranda do Douro e que,
curiosamente, foi meu aluno quando fui docente de História em Sendim). Eis a
receita: a posta de bacalhau deve ser demolhada, e posteriormente frita; fazer
uma cebolada; colocar a cebola num recipiente de ir ao forno, sobrepor a posta
de bacalhau e nova camada de cebola. A cobrir, leva um creme (uma espécie de maionese,
feita pelo Chef); e finalmente, levar
ao forno até gratinar. Empratar com batata cozida, fatiada às rodelas (que
foram ao forno a altas temperaturas), decorar com coulis de pimentos e salsa. Uma verdadeira delícia. As sobremesas são variadas, com destaque
para a Bola Doce, que é uma das sobremesas mais tradicionais de Miranda do
Douro. Receita: massa de pão, adicionar ovos, margarina e azeite (de
preferência transmontano). Essa massa tem que se dividir em sete partes (a primeira é a maior na medida
em que vai forrar o tabuleiro). Entre cada camada, junta-se açúcar e canela
(misturadas), por fim a última camada deve polvilhar-se só com açúcar. Levar ao
forno (de preferência a lenha) com o tempo a gosto. Parabéns ao Chef Armandino Pires, estava tudo
excelente. Comendo mirando os azulejos de Júlio Resende, o Douro lá ao fundo e
a Sé, foi um banquete abençoado pelos deuses. Os telefones da Estalagem de
Santa Catarina são: 273431255 e 273431005. Para acabar o dia em beleza,
aconselho-os a dar um passeio no “Cruzeiro Ambiental”, onde podem observar a
fauna e a paisagem deste Douro sem igual e no final degustar um bom vinho do
Porto. Boa viagem e visitem Miranda do Douro, o Planalto Mirandês e, em suma,
este lindo Trás-os-Montes. Cá ficamos à vossa espera!
[1] José Saramago, Viagem a
Portugal, página 9, Editorial Caminho, 2ª Edição, Novembro de 1985.
Bom texto e belas fotos.Como nem sempre temos acesso á revista podiam publicar neste blog ou no do dr. Antero. Podiam começar por Moncorvo.Botem lá.
ResponderEliminarLeitor
Gostei de saber que a velha posada não morreu,mudou de nome e melhorou a qualidade.Bem-hajam
ResponderEliminarestou muito feliz pela pousada estar a trabalhar mas eu desejava contactar o chef armandino pires como consigo
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