Estas fotografias (uma delas, a mais antiga, da autoria do prof. Doutor Santos Júnior e já tornada pública pelo autor deste blogue) dão conta, de certo modo, de mudança e permanência.
Talvez
por serem mais pequenas (muito embora apresentem canelhas e janelos que podem
equivocar o visitante, como que sugerindo que não é ali), as aldeias são
alfobres a que vale sempre a pena atender. Aparentemente deixados para lá, como
parece ser o caso de Mós, em parte por não estarem na passagem e no que está a
dar, se não tiveram grandes oficinas foram espaço e tempo de oficinantes em
torno do mundo agrícola e caseiro. Houve sapateiro, alfaiate, albardeiro,
cesteiro, ferreiro, latoeiro, fora os ambulantes, tendeiros, tocadores e
comedores de tudo um pouco que foram recuando e desaparecendo das vistas.
Ceifeiros e ceifeiras com joelho mas não de joelhos, merendas a condizer, água
fresca conservada no cântaro de barro e ainda assim à sombra, tempos, azáfama e
os consequentes vagares. Nada de plástico, então. Não seríamos justos se não
referíssemos as novas existências e algumas que permanecessem, das carrinhas
que apitam e vendem víveres aos modos locais de trabalho e lazer nem todos
acantonados em redor do Lar. Construção para a sazonalidade. Pão. Algum queijo,
azeite e vinho. A maré das colchas parece ter passado em parte pela agilidade
dos dedos ser inexoravelmente menor e a universalidade do design não ter
rasgado por aqui portas novas.
A
imagem mais antiga, aqui mostrada, é dos anos 40 do século XX, reconhecendo-se
na fotografia a já falecida Beatriz de Deus (nascera em 1900) e uma sua
sobrinha que vive em Mós. As outras foram obtidas pelo autor deste texto, há
escassos dias, no mesmo local daquela.
Deve notar-se que a casa contígua à que aparece em primeiro plano na fotografia mais antiga, onde terá residido um abade e que tinha no seu interior cantarias trabalhadas e um tecto «em masseira», em castanho, já não existe, porquanto foi preciso alargar a boca da praça, ainda não há muitos anos, para facilitar a circulação de veículos de e para o outro lado do povo.
Deve notar-se que a casa contígua à que aparece em primeiro plano na fotografia mais antiga, onde terá residido um abade e que tinha no seu interior cantarias trabalhadas e um tecto «em masseira», em castanho, já não existe, porquanto foi preciso alargar a boca da praça, ainda não há muitos anos, para facilitar a circulação de veículos de e para o outro lado do povo.
Fica-se
com a ideia, não só na mirada e na miragem em torno das aldeias mas também no
que às grandes urbes diz respeito (embora nestas a dinâmica do dia a dia seja
tal que depressa as coisas entram, são assimiladas e segue-se, sabendo-se,
embora, que há gente só) que o procrastinar é o nosso fado maior. Se assim
fosse, apenas, poderíamos até beneficiar, na alma, do transporte de um certo
poder encantatório e ficar por aí. Talvez até seja isso, mas a gente, mais
tarde ou mais cedo, tende a agir, para aqui e para ali, e toca a arquitectar,
havendo lugar a rompantes, em ordem a larguezas outras, que se faz tarde.
Então, quando se dá conta, surge a cidade nova de vitalidade lassa.
Vem
aí a Selecção. E depois o Verão. Santos populares. Cair da folha. Inverno.
Recolhimento da natureza. Primavera que tudo promete e não esconde a enorme
fragilidade que em tudo há. O ciclo sempre se renova.
Carlos Sambade
Nota: Para abrir a página(ampliar as fotos), clique no lado direito do rato ;abrem as instruções, e depois clique em abrir hiperligação.
As fotografias a cores foram enviadas pelo autor do texto.
Nota:O título é da responsabilidade do editor
Trabalho de historiador/investigador que adora a sua terra.Parabéns doutor Sambade.Mós precisa de ser defendida e divulgada.
ResponderEliminarLeitor
Gostei muito do texto.Escreve quem sabe.
ResponderEliminarA.F.
A sua tia tinha-me falado da sua sensibilidade mas desconhecia as suas
ResponderEliminarqualidades de investigador e escritor.Continui a transmitir-nos o que sente e o que sabe.
M.L.
Um bom texto Carlos Sambade! A Casa onde está a placa que diz "Rua de Baixo" era dos meus avôs paternos que agora pertence ao meu tio Armando. Ainda me recordo de ver o sobrado daquela casa cheio de amêndoa.
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