sábado, 9 de junho de 2012

A propósito de uma fotografia do Prof.Doutor Santos Júnior


Estas fotografias (uma delas, a mais antiga, da autoria do prof. Doutor Santos Júnior e já tornada pública pelo autor deste blogue) dão conta, de certo modo, de mudança e permanência.
Talvez por serem mais pequenas (muito embora apresentem canelhas e janelos que podem equivocar o visitante, como que sugerindo que não é ali), as aldeias são alfobres a que vale sempre a pena atender. Aparentemente deixados para lá, como parece ser o caso de Mós, em parte por não estarem na passagem e no que está a dar, se não tiveram grandes oficinas foram espaço e tempo de oficinantes em torno do mundo agrícola e caseiro. Houve sapateiro, alfaiate, albardeiro, cesteiro, ferreiro, latoeiro, fora os ambulantes, tendeiros, tocadores e comedores de tudo um pouco que foram recuando e desaparecendo das vistas. Ceifeiros e ceifeiras com joelho mas não de joelhos, merendas a condizer, água fresca conservada no cântaro de barro e ainda assim à sombra, tempos, azáfama e os consequentes vagares. Nada de plástico, então. Não seríamos justos se não referíssemos as novas existências e algumas que permanecessem, das carrinhas que apitam e vendem víveres aos modos locais de trabalho e lazer nem todos acantonados em redor do Lar. Construção para a sazonalidade. Pão. Algum queijo, azeite e vinho. A maré das colchas parece ter passado em parte pela agilidade dos dedos ser inexoravelmente menor e a universalidade do design não ter rasgado por aqui portas novas.
A imagem mais antiga, aqui mostrada, é dos anos 40 do século XX, reconhecendo-se na fotografia a já falecida Beatriz de Deus (nascera em 1900) e uma sua sobrinha que vive em Mós. As outras foram obtidas pelo autor deste texto, há escassos dias, no mesmo local daquela.
Deve notar-se que a casa contígua à que aparece em primeiro plano na fotografia mais antiga, onde terá residido um abade e que tinha no seu interior cantarias trabalhadas e um tecto «em masseira», em castanho, já não existe, porquanto foi preciso alargar a boca da praça, ainda não há muitos anos, para facilitar a circulação de veículos de e para o outro lado do povo.
Fica-se com a ideia, não só na mirada e na miragem em torno das aldeias mas também no que às grandes urbes diz respeito (embora nestas a dinâmica do dia a dia seja tal que depressa as coisas entram, são assimiladas e segue-se, sabendo-se, embora, que há gente só) que o procrastinar é o nosso fado maior. Se assim fosse, apenas, poderíamos até beneficiar, na alma, do transporte de um certo poder encantatório e ficar por aí. Talvez até seja isso, mas a gente, mais tarde ou mais cedo, tende a agir, para aqui e para ali, e toca a arquitectar, havendo lugar a rompantes, em ordem a larguezas outras, que se faz tarde. Então, quando se dá conta, surge a cidade nova de vitalidade lassa.
Vem aí a Selecção. E depois o Verão. Santos populares. Cair da folha. Inverno. Recolhimento da natureza. Primavera que tudo promete e não esconde a enorme fragilidade que em tudo há. O ciclo sempre se renova.

Carlos Sambade

Nota: Para abrir a página(ampliar as fotos), clique no lado direito do rato ;abrem as instruções, e depois clique em abrir hiperligação.
As fotografias a cores foram enviadas pelo autor do texto.
Nota:O título é da responsabilidade do editor

4 comentários:

  1. Trabalho de historiador/investigador que adora a sua terra.Parabéns doutor Sambade.Mós precisa de ser defendida e divulgada.
    Leitor

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  2. Gostei muito do texto.Escreve quem sabe.
    A.F.

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  3. A sua tia tinha-me falado da sua sensibilidade mas desconhecia as suas
    qualidades de investigador e escritor.Continui a transmitir-nos o que sente e o que sabe.

    M.L.

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  4. Um bom texto Carlos Sambade! A Casa onde está a placa que diz "Rua de Baixo" era dos meus avôs paternos que agora pertence ao meu tio Armando. Ainda me recordo de ver o sobrado daquela casa cheio de amêndoa.

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