sábado, 2 de junho de 2012

Moncorvo -zona quente na terra fria

AS CONTAS DO GUARDA-RIOS
No Peredo vimos a escola primária, um «salão» de amêndoa, uma pequena taberna, algumas casas de habitação. O resto do tempo passámo-lo, eu e o Lelo, a conversar com residentes. Ao almoço, oferecido por uma família dos conhecimentos do meu companheiro, entrámos no menu da época: salpicão, alheiras, grelos, batatas, queijo e vinho (o que constituía um festim apreciável, porque a população pobre resume-se muita vez a uma dieta de batatas e grelos).
Ataquei o Sr. José Correia, guarda-rios, com a pergunta sacramental:
«Quanta gente vive na aldeia?»
José Correia pôs-se a fazer contas de cabeça: a bem dizer conhece o Peredo casa por casa, família por família. Concluiu com a informação de que tinha cerca de 200 habitantes antes da emigração, estando hoje com 120. Entretanto, para demonstrar que as estatísticas eram assunto dele, pegou num papel e numa esferográfica e começou apontar os emigrantes, velhos e novos, homens e mulheres, famílias completas (o que tem sucedido mais no Peredo do que noutras aldeias).
«Então?»


«Bom» – matutou José Correia –, «tenho aqui 91, e alguns a gente não se recorda.»
Antes havíamos falado em mais de 200 emigrantes só na França, o que terá sido exagero. Apesar do que – acrescentaria o guarda-rios com absoluta convicção – homens de 30 anos é difícil subsistirem no Peredo, dos 25 aos 40 «não há mais de cinco pessoas».
A emigração não estaria a correr pelo melhor, disse ainda José Correia. Este ano já ficaram na aldeia «uns cinco ou seis».
Emigrantes, alguns deles, com a sua casa de banho montada. Uns doze até ao momento. Sem água canalizada, que terá de vir de Urros.
Idos os emigrantes, muita coisa se alterou no Peredo, a velha aldeia repovoada em 1530 por oito famílias espanholas de Freixeneda. Entre as alterações, uma sintomática: ninguém praticamente coze ali pão. O pão trazem-no os padeiros do Escalhão ou de Mirandela. Mas no Peredo existe uma moagem (do regedor)!
 Do Peredo anda muita juventude a estudar. Não apenas na escola primária – também na escola secundária de Moncorvo (aboletada essa juventude na vila servindo-se das duas carreiras diárias de camioneta) e inclusivamente na Universidade. O Peredo contaria hoje de 20 a 30 alunos universitários: disse-mo pessoa fidedigna, e espantou-me com isso. Registo o número tal e qual, sem encontrar para ele uma explicação correcta.



Moncorvo, Zona Quente na Terra Fria , texto de Fernando Assis Pacheco,fotografias de Leonel Brito. Jornal República , Março de 1974
In TORRE DE MONCORVO , Março de 1974 a 2009. De Fernando Assis Pacheco ,Leonel Brito, Rogério Rodrigues. Edição da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo

10 comentários:

  1. Este senhor guarda rios, era o meu avô, e o verdadeiro nome é José Ferreira, Correia era uma alcunha, por ser ele a levar o correio. Muitos parabéns pelo seu excelente trabalho de recolha, pela sua iniciativa, muitos parabéns mesmo, cumprimentos CFerreira

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  2. Cátia Ferreira disse: Na foto em que partem a amêndoa, reconheço a que olha para a máquina, é minha tia, Conceição. Só corrigir que o guarda rios era José Ferreira, Correio era uma alcunha, era meu avô.

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  3. Olímpio Rodrigues disse: Julieta Abrunhosa, São Gil e Idalina Gil.

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  4. Leontina C Branco disse:è a Ricardina...acho em vez da são.

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  5. Ondina Lazaro disse:não é a são leontina!!

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  6. Leontina C Branco disse: ois foi o que eu disse..que era a Ricardina..( acho eu)..en~m vez da São.as outras são de certeza a Julieta e a Sra Idalina.

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  7. Leontina C Branco disse:Nem estou a vera que São se refere o Olimpio...

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  8. Ondina Lazaro disse_ a são do zé será sempre a são do zé correio :

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  9. Leontina C Branco disse:então é mesmo a minha tia Ricardina.Acho mas também não tenho a certeza.

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  10. Vitória Lázaro disse:Leontina! É a tua prima São filha da tua tia Amélia vizinha da tua mãe, de certeza...

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