Foto de Leonel Brito |
Julgo não errar afirmando que uma das primeiras leis
promulgadas em Portugal e abrangendo a totalidade da população do território
(cristãos e judeus) respeitou à divisão política e administrativa do país que
ficou repartido por 7 regiões, uma das quais recebeu a designação de
Trá-los-Montes, designação que, no mínimo, será tão antiga como a
nacionalidade.
Igualmente primitiva e usada pelos nossos primeiros reis no
quadro legislativo e cultural é o topónimo de Além-Douro.
E se a história definiu esta realidade é porque a geografia
antes a criara. Trata-se, pois, de uma realidade indiscutível, como diria
Miguel Torga.
Estranhamente, ao cabo de mais de 8 séculos de história
nacional, em nome da eficácia administrativa, um poder político (legítimo, é
certo mas por natureza efémero) alterou esta realidade e procedeu à criação de
3 unidades político-administrativas, denominadas Comunidades Intermunicipais:
CIM-Douro; CIM- Alto Trás-os-Montes e CIM-Alto Tâmega.
Passados que são poucos anos de funcionamento, eu estou
plenamente convencido que os objectivos de eficácia administrativa não foram
conseguidos. Esta minha convicção é partilhada por muita gente, que disso me
tenho apercebido.
Pelo contrário, os problemas derivados da divisão
político-administrativa anterior agravaram-se e muitos dos laços de coesão
territorial que existiam estão-se quebrando e com isso é a nossa própria
identidade de Trasmontanos – Durienses que fica diminuída. Vejamos alguns
exemplos, no que respeita ao concelho de Torre de Moncorvo, que integra a
CIM-Douro:
· Em termos
eleitorais, pertence ao círculo de Bragança!
· Em matérias
referentes à justiça, integra a comarca de Bragança, ultimamente reorganizada!
· Na cobrança de
impostos, a secção de Finanças está sob jurisdição da Direcção de Bragança!
· No que respeita
ao ministério da Administração Interna e às forças de segurança (GNR), está
hierarquicamente dependente de Bragança!
· Em termos
sanitários, pertence à Unidade de Saúde do Nordeste! Mas se for um doente
transportado pelo INEM vai parar ao Hospital da Guarda!
· Em questões de
assistência social, trabalho e emprego, a ligação a Bragança mantém-se!
· No panorama
escolar a superintendência cabe à Direcção regional sediada no Porto.
· Tal como em
matéria de turismo, não obstante a uniformização sinalética de promoção da
marca Douro ultimamente colocada.
· O mesmo no que
respeita à Cultura, em determinados aspectos.
Sim: em termos de Cultura, deve dizer-se que todos os
documentos de arquivo das repartições públicas do concelho e da própria Câmara
Municipal devem ser encaminhados para o Arquivo de Bragança, que detém,
inclusivamente a superintendência do Arquivo Histórico Municipal de Torre de
Moncorvo!
· Em termos
desportivos é quase ridícula a actual situação de federações sediadas aqui e
acolá, disputando campeonatos com equipas do litoral, quase sempre em situação
de inferioridade. Quanto desejaria que as equipas da minha terra disputassem um
campeonato de Trás-os-Montes e Alto Douro!
Afinal que ganhámos nós (e os outros) em termos de eficácia
administrativa com a extinção dos Distritos e a criação das Comunidades
Intermunicipais?
Que justificação pode ser apresentada para explicar o
retalhamento da região de Trás-os-Montes e Alto Douro em 3 Comunidades?
Que utilidade tem para nós a CIM? Que lógica existe na
ligação deste concelho à CIM-Douro?
Como explicar o paradoxo de pertencermos a uma Comunidade e
sermos representados na Assembleia da República por deputados eleitos por um
círculo diferente?
Como podemos criar laços e fortalecer a nossa ligação a uma
Comunidade se a quase totalidade dos serviços a que os cidadãos deste concelho
têm de recorrer estão fora dessa mesma Comunidade?
Mas, se a actual divisão polítio-administrativa baseada nas
3 CIM é, em meu entender, estranha, inútil e mesmo paradoxal, tendo em conta a
geografia, a história e a eficácia administrativa, imperioso se torna
aprofundar os laços de coesão territorial, em defesa da nossa identidade
Trasmontana e Duriense, estabelecendo um quadro político-administrativo baseado
na realidade indiscutível que á a região de Trás-os-Montes e Alto-Douro.
Considerando as razões apresentadas e outras que seria
fastidioso enumerar,
Proponho que esta Assembleia se pronuncie contra a divisão
de Trás-os-Montes e Alto-Douro, manifestando o seu desejo de fusão das 3 CIM
existentes em uma única visando desde logo a criação de uma verdadeira Região
Administrativa, a qual deverá ser referendada o mais breve possível e discutida
na próxima campanha eleitoral para a Assembleia da República.
Mais proponho que desta deliberação se dê conhecimento a todas
as Câmaras e Assembleias Municipais de Trás-os-Montes e Alto Douro, bem como à
Presidência da República, à Assembleia da República e ao Governo.
António Júlio Andrade
Esta Proposta, apresentada em Maio pp., ganha hoje uma
oportunidade flagrante pois acabámos de ter eleições legislativas onde o DOURO,
em si, não tem qualquer representação. Com efeito os eleitores de Torre de
Moncorvo, Carrazeda de Ansiães e Freixo de Espada à Cinta tiveram de votar nos
deputados de Bragança, que o mesmo é dizer da Associação de Municípios do Alto
Trás-os-Montes. Os de V. N. Fozcôa, Moimenta da Beira… votaram em deputados que
representarão a Guarda… Os de S. João da Pesqueira, Lamego, Armamar e outros
concelhos… votaram em deputados do círculo de Viseu!...
Grande disparate! Grande obra de um tal Relvas! –
J. Andrade
Nota: fotografias
escolhidas pelo editor.
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