Fotos: a da esquerda ,na estação do Felgar;a da direita ,em Mós.(Professor Santos Júnior, Centro de Memória de Torre de Moncorvo). Ver:o Último Oleiro http://youtu.be/H5gaGBD0WbQ
Jose Pereira Vieira escreveu: Foi à época das industrias prósperas de Trás- Os- Montes. Creio que ainda se fabricam velas que julgo também terem tido início no início do séc.XX.
O pedacito de grade de ferro no canto superior direito, designadamente, permite-me identificar, à distância de centenas de quilómetros, o local desta fotografia em Mós, na chamada «Boca da praça». É só o visitante ir lá agora e comparar, que ainda vai reconhecer bem o que está aqui patenteado,apesar de a construção em segundo plano à esquerda ter sido arrasada por motívos que se prendem com a necessidade, que houve, de alargar o arruamento, se não me engano. Grande Santos Júnior, maior ainda pelo facto de ter captado e preservado coisas e loisas que muitos outros considera(v)am pequenas ou de menor monta. Carlos Sambade
A ironia da frase:na estação do Felgar.Nem linha ,nem estação ,nem oleiros.Carlos Sambade acrecenta outra leitura á foto de Mós.Publiquem uma foto actual com o detalhe assinalado por ele. M.
ironia das ironias é que, se bem me lembro, a foto da esq. não me parece ser na estação do Felgar uma vez que nesta não havia linha ferrea duplicada e uma composição para virar o sentido de marcha, antes só no Carvalhal e depois em Carviçais.
agora dúvida não tenho que a louça é olaria do Felgar.
já agora, quanto não valeriam na actualidade aqueles 5 talhões ou as cantaras da foto do lado ?
Recordando o Ti António Rebouta, de alcunha o Ti António Roberto..
Na tessitura da vida,sendo o "poeta um fingidor" houve mãos robustas e robertas que, para além do pão que o diabo amassou,fingiram barros misturados tal como tecedeiras fizeram,de orelos gastos, colcha nova e padeiras levedaram farinhas, a fingir que dormiam em cobertores de papa multicores.São exemplo de mãos sábias a Tecedeira Elsa Praça,a forneira e queijeira Maria, minha mãe,e o último Louceiro,razão de ser destes dizeres. O Ti António Louceiro dava novas vidas e formas a barros amassados que seriam seu sustento e saciadores de sedes de aristocratas e de povoléu de muitos suores sofridos nas travessias de muitas e minguadas vidas. Nas encruzilhadas dos Quatro Caminhos,assinalado pelo Cruzeiro,vizinho e símbolo de cenas quase bíblicas que no vídeo do Lelo podemos ver uma Maria cristã e louceira seguidora de antepassado burro de Jericó.È uma tríade:O Louceiro,sua companheira e o animal burro,o mais resistente a caminhos quase desertos e pedregosos como os arenosos das Chãs apontados por aquele símbolo bíblico. Que meditações e que caminhos da existência não terão tido o Ti Roberto que desde os treze anos deu continuidade a trabalhos de pai,avós,sendo estes seguidores daqueles humanos de Ur da Grande Meso potâmia? Quantas vezes não terá ouvido o Ùltimo Louceiro do Felgar a afirmação: " e da costela de Adão se fez Eva" e tu que foste feito à imagem de Deus foste lembra-te que serás pó! Da argila,triturada,crivada e amassada também se faz a vida de um homem! E que caminhos e que noites mal dormidas,em pardieiros a léguas de distância,não terão sido o sal da vida,em perigos suspeitos e outros bem reais.Todos os cuidados eram poucos para não desfazer em cacos o sustento desfeito contra paredes de caminhos estreitos,por onde talhão mais gordo não caberia. Para o Ti Roberto o barro não tinha segredos,embora fizesse bilha de segredo e de encher pelo cú que deixava garotos e crescidos perplexos, por pensarem ser marosca ou por pensarem que " bilha" assim é de desconfiar..Mas não! Era autêntica e um regalo admirá-la. Era a arte de sentado,em movimento,que O Louceiro balanceava a roda,estribada em patim,com pé balanceador em sincronia com mão certeira ,amassadora e apetrechada com as tabuinhas de madeira e com a alpernata de carneiro que iria ajudar na modelagem da cantarinha. Do Só até à Boca vê-se crescer corpo maior que é o Bojo.A primeira,tal como o cigarro sai nervosa,como ele disse ao Assis Pacheco,(que este escriba apenas viu com sacos repletos de livros e na companhia do Afonso Praça) ,nos idos de 86/87,em rua vizinha da sede nacional do PRD, do Ramalho Eanes.. Das muitas visitas que o honraram e de que fazia gala,mas sem prosápia,nunca regateou esforçadas simpatias e generosidade na oferta de obra pedagógica e acabada de modelar.
Era assim,consequência dos triplos esforços,por caminhos em que apenas os cascos de burro resistente e vontade necessitada do casal Rebouta, que se amanhavam vidas daquelas que o diabo amassou para alimentar O Sebastião e a Cândida e seus netos.. Nos anos setenta do século passado O Ti António ainda fazia uma pececas para vender ao povo. Lembremo-lo, revendo requeijoeiras,de bordos alguns esfacelados que minha mãe lhe encomendou para do soro aproveitar sustento acrescentado em coalhada alva e a deixar escorrer seus restos em francela enclinada. Parafraseando Guerra Junqueiro," a madeira acompanha o homem desde o berço ao caixão" diremos que para o último Louceiro a argila "muito forte" mistura-se a do Rio com a do Cabeço que é vermelha", transformando-os, assim em sangue na guelra do Louceiro,tal como para o Ùltimo Moleiro a " água era o sangue do moínho"... Do barro, da água e da argila trabalhada se renova a vida e o sustento de gerações quer do rincâo felgarense quer do seu primos alentejanos ou de Barcelos. De temperamento nervoso mas diplomata e inteligente, o Ti Roberto fazia asadas,talhões, alguidares,uns mais vidrados que outros e potes onde se poderiam guardar salpicões, queijos e azeitonas.E se fosse para guardar mel então era de lhe chamar um grande doce!Era bem capaz de fazer pífaros,assadores de castanhas e de sardinhas e cinzeiros para aparar muitas cinzas que ele produziu com seus cigarros..Habilidade não lhe faltava ao TI António.
Mais uma recordação para acalmar.Revejo-o,(ao mesmo tempo que ouço o meu velhote dizer que água em cântara de barro é mais fresca destapada ainda que de Verão)sentado à sombra de Tília,fronteira aos Correios, como se "segredasse ou fingisse", notícias em tempo de Otelices, discorrendo sobre os caminhos que a Revolução dos Cravos levava.. De relance o revejo com seus passos domingeiros,algo tardegos,em direcção ao Lar, onde o burro companheiro e a crivadeira Maria o esperavam com as berças um pouco frias. Antes de abrir o cancelo da vinha talvez ainda se sentasse na base do Cruzeiro, seu vizinho, e desse por si a pensar que formas a vida tomará e como estará seu herdeiro no Larinho.. - Oh mulher deixa lá estive com os amigos lá na Taverna do Escondidinho e depois fiquei ali a ver os rapazes a jogar à bola. -Pois mas a ceia já está fria e o lume já só é um borralho mal dá para a aquecer.. -Ainda te lembras Maria quando nos conhecemos e nem cinco escudos tínhamos para nos casar! - Não te zangues,pois de barro e de aguadeiro temos tido uma vida farta e esmagada. Por isso dias não são dias e o convívio com os companheiros lá na Taverna do Francisco Camilo ( O Escondidinho )dão outra alma a um homem. E que esteja Em Paz O Ùltimo Louceiro do Felgar.
Deixem-me recordar também o meu bisavô Canário que nunca conheci e que também era louceiro
A minha avó Teresa Canária contava-me imensas estórias de longas caminhadas pelos vários concelhos, incluindo até à Lousa. Isso é que era vida dura a sério! Muito daquilo que eu sou devo-o a ela (também ao meu avô Delfim Pardal) e muito daquilo que faço hoje tem essa influência, sobretudo quando chega a hora de nos queixarmos da vida. Comparando, isto hoje é para meninos.
Jose Pereira Vieira escreveu: Foi à época das industrias prósperas de Trás- Os- Montes. Creio que ainda se fabricam velas que julgo também terem tido início no início do séc.XX.
ResponderEliminarO pedacito de grade de ferro no canto superior direito, designadamente, permite-me identificar, à distância de centenas de quilómetros, o local desta fotografia em Mós, na chamada «Boca da praça». É só o visitante ir lá agora e comparar, que ainda vai reconhecer bem o que está aqui patenteado,apesar de a construção em segundo plano à esquerda ter sido arrasada por motívos que se prendem com a necessidade, que houve, de alargar o arruamento, se não me engano. Grande Santos Júnior, maior ainda pelo facto de ter captado e preservado coisas e loisas que muitos outros considera(v)am pequenas ou de menor monta.
ResponderEliminarCarlos Sambade
A ironia da frase:na estação do Felgar.Nem linha ,nem estação ,nem oleiros.Carlos Sambade acrecenta outra leitura á foto de Mós.Publiquem uma foto actual com o detalhe assinalado por ele.
ResponderEliminarM.
ironia das ironias é que, se bem me lembro, a foto da esq. não me parece ser na estação do Felgar uma vez que nesta não havia linha ferrea duplicada e uma composição para virar o sentido de marcha, antes só no Carvalhal e depois em Carviçais.
ResponderEliminaragora dúvida não tenho que a louça é olaria do Felgar.
já agora, quanto não valeriam na actualidade aqueles 5 talhões ou as cantaras da foto do lado ?
valem-nos estes recuerdos !
cabeço da mua.
quem disse que nao havia linha dupla engana-se pois havia sim senhora passei la tantas vezes
ResponderEliminarA legenda da fotografia do doutor Santos Júnior diz:estação do Felgar.
ResponderEliminarRecordando o Ti António Rebouta, de alcunha o Ti António Roberto..
ResponderEliminarNa tessitura da vida,sendo o "poeta um fingidor" houve mãos robustas e robertas que, para além do pão que o diabo amassou,fingiram barros misturados tal como tecedeiras fizeram,de orelos gastos, colcha nova e padeiras levedaram farinhas, a fingir que dormiam em cobertores de papa multicores.São exemplo de mãos sábias a Tecedeira Elsa Praça,a forneira e queijeira Maria, minha mãe,e o último Louceiro,razão de ser destes dizeres.
O Ti António Louceiro dava novas vidas e formas a barros amassados que seriam seu sustento e saciadores de sedes de aristocratas e de povoléu de muitos suores sofridos nas travessias de muitas e minguadas vidas.
Nas encruzilhadas dos Quatro Caminhos,assinalado pelo Cruzeiro,vizinho e símbolo de cenas quase bíblicas que no vídeo do Lelo podemos ver uma Maria cristã e louceira seguidora de antepassado burro de Jericó.È uma tríade:O Louceiro,sua companheira e o animal burro,o mais resistente a caminhos quase desertos e pedregosos como os arenosos das Chãs apontados por aquele símbolo bíblico.
Que meditações e que caminhos da existência não terão tido o Ti Roberto que desde os treze anos deu continuidade a trabalhos de pai,avós,sendo estes seguidores daqueles humanos de Ur da Grande Meso potâmia?
Quantas vezes não terá ouvido o Ùltimo Louceiro do Felgar a afirmação: " e da costela de Adão se fez Eva" e tu que foste feito à imagem de Deus foste lembra-te que serás pó!
Da argila,triturada,crivada e amassada também se faz a vida de um homem! E que caminhos e que noites mal dormidas,em pardieiros a léguas de distância,não terão sido o sal da vida,em perigos suspeitos e outros bem reais.Todos os cuidados eram poucos para não desfazer em cacos o sustento desfeito contra paredes de caminhos estreitos,por onde talhão mais gordo não caberia.
Para o Ti Roberto o barro não tinha segredos,embora fizesse bilha de segredo e de encher pelo cú que deixava garotos e crescidos perplexos, por pensarem ser marosca ou por pensarem que " bilha" assim é de desconfiar..Mas não! Era autêntica e um regalo admirá-la.
Era a arte de sentado,em movimento,que O Louceiro balanceava a roda,estribada em patim,com pé balanceador em sincronia com mão certeira ,amassadora e apetrechada com as tabuinhas de madeira e com a alpernata de carneiro que iria ajudar na modelagem da cantarinha.
Do Só até à Boca vê-se crescer corpo maior que é o Bojo.A primeira,tal como o cigarro sai nervosa,como ele disse ao Assis Pacheco,(que este escriba apenas viu com sacos repletos de livros e na companhia do Afonso Praça) ,nos idos de 86/87,em rua vizinha da sede nacional do
PRD, do Ramalho Eanes..
Das muitas visitas que o honraram e de que fazia gala,mas sem prosápia,nunca regateou esforçadas simpatias e generosidade na oferta de obra pedagógica e acabada de modelar.
Recordando o Último Louceiro de Felgar
ResponderEliminar(...)
Era assim,consequência dos triplos esforços,por caminhos em que apenas os cascos de burro resistente e vontade necessitada do casal Rebouta, que
se amanhavam vidas daquelas que o diabo amassou para alimentar O Sebastião e a Cândida e seus netos..
Nos anos setenta do século passado O Ti António ainda fazia uma pececas para vender ao povo.
Lembremo-lo, revendo requeijoeiras,de bordos alguns esfacelados que minha mãe lhe encomendou para do soro aproveitar sustento acrescentado em coalhada alva e a deixar escorrer seus restos em francela enclinada.
Parafraseando Guerra Junqueiro," a madeira acompanha o homem desde o berço ao caixão" diremos que para o último Louceiro a argila "muito forte" mistura-se a do Rio com a do Cabeço que é vermelha", transformando-os, assim em sangue na guelra do Louceiro,tal como para o Ùltimo Moleiro a " água era o sangue do moínho"...
Do barro, da água e da argila trabalhada se renova a vida e o sustento de gerações quer do rincâo felgarense quer do seu primos alentejanos ou de Barcelos.
De temperamento nervoso mas diplomata e inteligente, o Ti Roberto fazia asadas,talhões, alguidares,uns mais vidrados que outros e potes onde se poderiam guardar salpicões, queijos e azeitonas.E se fosse para guardar mel então era de lhe chamar um grande doce!Era bem capaz de fazer pífaros,assadores de castanhas e de sardinhas e cinzeiros para aparar muitas cinzas que ele produziu com seus cigarros..Habilidade não lhe faltava ao TI António.
Mais uma recordação para acalmar.Revejo-o,(ao mesmo tempo que ouço o meu velhote dizer que água em cântara de barro é mais fresca destapada ainda que de Verão)sentado à sombra de Tília,fronteira aos Correios, como se "segredasse ou fingisse", notícias em tempo de Otelices, discorrendo sobre os caminhos que a Revolução dos Cravos levava..
De relance o revejo com seus passos domingeiros,algo tardegos,em direcção ao Lar, onde o burro companheiro e a crivadeira Maria o esperavam com as berças um pouco frias.
Antes de abrir o cancelo da vinha talvez ainda se sentasse na base do Cruzeiro, seu vizinho, e desse por si a pensar que formas a vida tomará e como estará seu herdeiro no Larinho..
- Oh mulher deixa lá estive com os amigos lá na Taverna do Escondidinho e depois fiquei ali a ver os rapazes a jogar à bola.
-Pois mas a ceia já está fria e o lume já só é um borralho mal dá para a aquecer..
-Ainda te lembras Maria quando nos conhecemos e nem cinco escudos tínhamos para nos casar!
- Não te zangues,pois de barro e de aguadeiro temos tido uma vida farta e esmagada. Por isso dias não são dias e o convívio com os companheiros lá na Taverna do Francisco Camilo ( O Escondidinho )dão outra alma a um homem. E que esteja Em Paz O Ùltimo Louceiro do Felgar.
Deixem-me recordar também o meu bisavô Canário que nunca conheci e que também era louceiro
ResponderEliminarA minha avó Teresa Canária contava-me imensas estórias de longas caminhadas pelos vários concelhos, incluindo até à Lousa. Isso é que era vida dura a sério! Muito daquilo que eu sou devo-o a ela (também ao meu avô Delfim Pardal) e muito daquilo que faço hoje tem essa influência, sobretudo quando chega a hora de nos queixarmos da vida. Comparando, isto hoje é para meninos.
Nuno Cardoso