Resumo do livro: Esta obra monumental reúne, contextualiza, traduz e interpreta mais de mil documentos medievais do distrito de Vila Real, permitindo ao leitor uma descoberta das origens dos vila-realenses.Instrumento basilar para a historiografia medieval, apresenta, no primeiro de quatro volumes, um conjunto de 364 documentos foraleiros em latim concedidos às povoações de Vila Real desde o reino suevo até D. Afonso III.
Prefácio:
A história regional e local traz nova luz à história geral, pois consegue betumar os seus interstícios. Como sublinha Francisco Ribeiro da Silva, é na era da globalização que faz mais sentido estudar os pequenos lugares, as vilas, as regiões, porque sempre foi e continua a ser nesses espaços periféricos que vivem e interagem os homens e as mulheres em todos os lapsos históricos (Silva 2003: 3-4). Quanto melhor conhecermos os lugares, as vilas e as cidades de cada região, melhor conheceremos o país na sua totalidade.Há algumas décadas, A. H. de Oliveira Marques constatava que escasseavam, no âmbito da historiografia portuguesa, abordagens de conjunto sobre as origens e as evoluções históricas das regiões e dos distritos portugueses (Marques 1988: 64-66). Essa lacuna na investigação historiográfica portuguesa tem uma razão de ser. A escolha de um objecto de estudo centrado num vasto espaço geográfico (região ou distrito) exige uma preparação multidisciplinar, e só um investigador exímio é capaz de levar a cabo uma tarefa tão ciclópica. Este feito foi conseguido pelo Padre Dr. João Parente, na obra Idade Média no Distrito de Vila Real, que prefaciámos. O autor dominou na perfeição saberes tão díspares como: a edição de texto, o latim medieval, o português arcaico, a história de arte, a lexicografia, a informática, entre outros.Graças a várias pesquisas apuradas nos Arquivos Nacionais exumou toda a documentação medieval, exarada durante vários séculos para uma vasta zona geográfica que abrange actualmente o distrito de Vila Real. Recolheu, editou e traduziu, a documentação que está gravada em latim medieval, para que todos a pudéssemos ler e apreciar.O Padre Dr. João Parente oferece ao público em geral e aos transmontanos em especial uma obra capital para o conhecimento histórico, linguístico e artístico de uma zona geográfica importante de Trás-os-Montes, incluindo grande parte da região duriense. A sua obra, ao editar um extenso corpus foraleiro medieval, vem preencher uma lacuna na investigação fundamental sobre a região do Douro e outras zonas do distrito de Vila Real na Idade Média.
Trata-se, na verdade, de uma vasta e rigorosa obra sobre a Idade Média no distrito de Vila Real. É a obra de uma vida e perdurará para muitas e muitas outras. Será a partir de agora um estudo incontornável, uma obra de referência para o conhecimento histórico, linguístico e artístico do distrito de Vila Real. Será tal como as “Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança…” do Abade de Baçal, uma obra histórica de referência para o supracitado distrito.Todas as pessoas nascidas, criadas, fixadas no torrão vila-realense podem a partir de agora consultar as origens dos lugares onde nasceram, onde vivem, onde trabalham. No fundo, conhecer os lugares que habitamos é entender as gerações que nos precederam e a nossa própria.A obra Idade Média no Distrito de Vila Real é constituída por quatro tomos. O Tomo I oferece um corpus de 364 documentos foraleiros em latim concedidos às povoações do distrito de Vila Real, desde o reino suevo até D. Afonso III. O Tomo II contém 597 documentos em latim e português arcaico, abrangendo os reinados de D. Dinis a D. João I. O Tomo III tem 129 documentos em português antigo dos reinados de D. Duarte a D. Manuel I. O Tomo IV aborda circunstanciadamente o património arquitectónico e religioso do distrito de Vila Real, com o estudo detalhado dos monumentos medievos do mesmo distrito, dando uma datação de contexto, através dos documentos que a eles se reportam, ainda que indirectamente. Apresenta também um utilíssimo glossário com os termos mais específicos da documentação foraleira medieval, e ainda os igualmente indispensáveis índices toponímico, antroponímico e temático.Neste trabalho, foi executada uma edição interpretativa dos documentos medievais, bem como uma tradução dos textos latinos, tarefa de enorme dificuldade, mas concretizada com mestria por este exemplar latinista. A tradução reveste-se de grande utilidade, quer para os historiadores da Idade Média, quer para o público em geral que pretendam entender, apenas, os conteúdos da documentação fundacional dos antigos concelhos e povoações.Instrumento basilar para a historiografia medieval portuguesa, a presente obra colmata uma enorme omissão que existia na investigação fundamental, tanto no domínio da edição textual e, sobretudo, no da tradução de textos foraleiros latino-portugueses como também no âmbito historiográfico.José Marques, há anos atrás, chamava a atenção dos historiadores para a carência de informação sobre a totalidade dos forais ou aforamentos colectivos de outorga régia ou senhorial que levasse ao conhecimento cabal das origens do municipalismo no distrito em análise.«A análise do número de forais, de origem régia ou senhorial, outorgados no século XIII, e onúmero de concelhos a que deram origem, permite considerá-lo como o século de ouro do municipalismo, conceito que mais se impõe quando se examinam com atenção as cláusulas dos seus forais, através das quais podemos descobrir as grandes linhas e as preocupações orientadoras da vida dos municípios transmontanos.» (Marques 2000: 30)Com a notável edição levada a cabo pelo Padre Dr. João Parente é possível a partir de agora estudar com minúcia as cláusulas de todos os forais do distrito de Vila Real e produzir monografias para todas as localidades deste distrito transmontano, aproveitando os documentos da fundação e da evolução dos lugares, desde o alvar da nacionalidade até ao limiar da modernidade, seguindo o trilho dessas localidades ao longo de mais de cinco ou seis séculos.A investigação realizada pelo Padre Dr. João Parente com rigor científico e seriedade intelectual é um incomensurável contributo para várias áreas do saber no domínio das humanidades, domínios esses que vão desde a historiografia, passando pela edição de texto, pela história de arte e pela história regional e local. Vários serão os públicos que poderão usufruir desta monumental obra sobre a história do distrito de Vila Real.
Maria Olinda Rodrigues SantanaProfessora Associada com Agregação da Universidade de Trás-os-Montes
16-12-2009
ResponderEliminarFALEMOS DA NOSSA GENTE
Padre João Parente: agora, falemos de forais
Um grande Código de documentos medievais de toda a região de Vila Real é o que anda a organizar o Padre João Parente, historiador, investigador, escritor, autodidacta e coleccionador. “Sou um aproveitador de ocasiões. Se me aparece uma coisa qualquer, se gostar, agarro, mesmo a sério e não largo.”
Foi com esta frase, dita com toda a convicção, que começou a conversa com o Padre João Parente numa destas últimas noites, em sua casa.
Quando andava a investigar sobre o castro de S. Bento, caiu-lhe nas mãos o foral daquele lugar, dado por D. Sancho I. Mais tarde obteve o segundo foral, dado por Afonso II, que foi a confirmação do primeiro.
Daí veio o seu entusiasmo pela busca de forais da região. No início pensava que havia apenas meia dúzia de forais da zona. Começou a procurar na Torre do Tombo. Mas neste momento já tem transcritos mais de mil documentos medievais do distrito de Vila Real. Este trabalho tem levado este investigador a vários arquivos, mas de um modo especial à Torre do Tombo, em Lisboa e também a Braga, ao Arquivo Distrital, onde se encontram os livros da diocese, também muito valiosos.
CONTINUA
Depois de nos dizer como chega à informação, fala com entusiasmo dos achados que tem feito e também das dificuldades com que se tem deparado para ler os documentos antigos, alguns com as letras a desfazerem-se pelo decorrer dos anos, pelos danos que apresentam, pela caligrafia, por causa das abreviaturas e letras que desapareceram. Até D. Dinis escrevia-se em latim, mas um latim “macarrónico”, diz-nos. E depois disso também não se escrevia melhor. Era um português medieval. Mesmo no século XVI aparecem documentos muito difíceis de ler com linhas muito compridas, quase sem separação das palavras.
ResponderEliminarTrata-se de um trabalho muito cansativo, afirma esse vila-realense, que ao longo da sua vida não se tem cansado de procurar mais e mais sobre a história antiga e a maneira de viver dos povos da região. Esta investigação dura há dez anos e tem-se virado também para outro tipo de documentos, tais como compras e vendas, doações, relatos de desacatos e escaramuças entre vizinhos, etc. Este trabalho abrange documentos da Idade Média até D. Manuel, época onde já não entra.
Este grande conjunto de documentos constituirá o Corpus de documentos medievais do distrito com vários volumes. Só o índice toponímico terá mais de uma centena de páginas. Depois, quem quiser pode utilizar este material para dar curso à investigação apurada e sistematizada, sobre os diversos assuntos. O seu objectivo é fazer um levantamento do material que for possível. A partir daí será mais fácil a outras pessoas darem seguimento ao estudo dos documentos dessa época.
Por exemplo um dos volumes será sobre as igrejas românicas. Mas ali vai também, escrever-se sobre pontes, fontes, imagens, cruzeiros, pelourinhos, vias de comunicação, tudo o que pertença à Idade Média. Sem detalhe, mas dando pistas para o trabalho de investigadores, no futuro. Uma preocupação do Padre João é fazer uma “adaptação ambiental”, procurando cronologicamente situar os documentos na história, relacionando-os com outros factos da mesma época.
O documento mais antigo que possui é a demarcação da diocese de Braga do ano 569, com a criação da diocese de Lugo, na Galiza, no tempo dos suevos. Não há ainda previsão para a publicação desta grande obra, mas tudo está bem orientado, no sentido de, dentro de alguns meses, se poder consultar e estudar este vasto conjunto de documentos, cujo estudo e transcrição vêm ocupando as horas livres deste historiador, que possui já uma vasta obra de investigação e levantamento de muitos aspectos da vida cultural, patrimonial e histórica de toda a região.
Sem esquecer, evidentemente, a sua obra maior de recolha e estudo de milhares de moedas romanas, como é de todos sabido. Certos da importância deste gigantesco trabalho, ficamos a aguardar que o seu autor nos dê a conhecer essa obra que se reveste da máxima importância para o conhecimento da vida e dos povos desta vasta região.
O foral
Trata-se de um privilégio que o rei, um bispo ou mesmo um nobre dava a um lugar, como forma de fixar as pessoas em zonas despovoadas (…)
http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php?action=getDetalhe&id=6878
Traga Mundos escreveu:Disponível na Traga-Mundos - livros e vinhos, coisas e loisas do Douro, em Vila Real...
ResponderEliminarPara quando uma obra como esta do distrito de Bragança? O abade Tavares e o Padre Rebelo já não estão entre nós.Temos um que canta outro que reza e outro que rouba(dizem na vila e li aqui)
ResponderEliminarLeitor