sexta-feira, 25 de novembro de 2016

CASTELO DE ANSIÃES, por Modesto Navarro


O NOTÁRIO DE ANSIÃES
 Texto literário sobre a Vila Amuralhada e o Castelo de Ansiães
Fico sempre preocupado perante esta questão do património. Lembro-me de estar horas e horas, a olhar as pedras do arco de D. Dínis e do que restava das muralhas, perto da chamada fonte romana, em VilaFlor, a minha bendita terra. Quando me cansava de não haver milagres de antanho a saírem de entre as pedras, entrava na rua, para lá do arco, e ficava a ouvir os longos discursos de um sapateiro anarquista. Falo disto para dizer que, perante a enormidade dos discursos oficiais sobre o património, na nossa infância e adolescência, acabava sempre a olhar para as pessoas e a tentar descobrir o que estava para lá da história oficial, dos reis magnânimos e cruéis, dos condes e dos grandes vencedores das batalhas e das lides mais internas das cortes. Conheci o castelo de Ansiães pela mão de um notário de Carrazeda de Ansiães. Torgueiro de raiz e de admiração incondicional por Miguel Torga, tinha sido delegado do Ministério Público em Vila Flor. Nessa altura, em 1968, saía da Pensão Campos e circulava pela avenida, depois de jantar, mas cedo se refugiava no quarto, a ler. Um dia, rebentou um escândalo literário em Lisboa, nas páginas do jornal A Capital, que tinha a ver com um homem daquela vila, regressado da guerra colonial. Urna estudante do Liceu de Bragança apresentara um original de contos dele a um concurso literário, ganhara o 1° prémio e o livro fora publicado com o seu nome...

MODESTO NAVARRO
Fonte: "ONDE NADA SE REPETE" - crónicas à volta do património. (excerto)

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