quinta-feira, 28 de julho de 2016

LINHA DO SABOR

 – um pouco da sua história no ano em que completaria o seu centenário


“Em 15.VIII.1899 deslocou-se ao Pocinho o Ministro das Obras Públicas, decidindo por Portaria de 30.IX.1899 que fosse elaborado “com a possivel urgencia, o projecto do programma para a construcção, por concurso publico... de uma ponte sobre o rio Douro, na estrada real n.º 9, nas proximidades da estação do Pocinho”.
A decisão de se abrir concurso público perante o Conselho de Administração dos Caminhos de Ferro do Estado, “para a construção e exploração durante dez annos, de duas pontes sobre o rio Douro, no Pocinho e no Pinhão”, sendo que a do Pocinho, “alem de ligar entre si os dois troços da estrada real n.º 9, será construida de modo que possa ser aproveitada para o caminho de ferro do Pocinho a Miranda”, ocorre a 26.II.1901.” (Carlos d’Abreu e Emilio Rivas Calvo).
Sempre me intrigou o facto de a linha do Sabor ter parado em Duas Igrejas e não ter continuado até Miranda do Douro. E nunca percebi muito bem porque é que esta via que se pretendia estruturante “ignorava” os principais centros urbanos da região que servia (com excepção de Torre de Moncorvo). Repare-se no que se escrevia, a este propósito, em 1914, no jornal “Republica”: “os ultimos trabalhos de campo do snr. engenheiro Wanzeler que tem andado a fazer a rectificação do estudo do caminho de ferro do Pocinho a Miranda do Douro, empurram êste para as povoações raianas da margem do rio, deixando, a grande distancia, o centro do concelho de Mogadouro (…)”. “Para tudo isto chamamos a atenção do senhor ministro do Fomento, lembrando-lhe que fazer um caminho de ferro que a ninguém serve, deixando, a 9 quilómetros, a séde dum importantissimo concelho, é um erro absolutamente imperdoavel, para não dizermos um crime”
Contudo, olhando agora, à luz de estudos efectuados que revelam a ideia que lhe presidiu à sua construção, compreende-se melhor a benevolência da medida.
Efectivamente, esta linha cujo primeiro troço entre o Pocinho e Carviçais foi inaugurado em 17 de Setembro de 1911, foi gizada ab initio para fazer a ligação entre o porto de Leixões e Madrid, criando assim um corredor ferroviário entre a via larga do Porto/Pocinho, afunilando depois entre Pocinho e Miranda do Douro, voltando à via larga no campo espanhol.
A Câmara Municipal de Miranda do Douro peticionava ao Parlamento, em Junho de 1888 que: “em Zamora, a menos de 40 kilometros de nós, a linha férrea, que já bem há espera a linha portugueza, a que tem de se ligar…”
De permeio, estavam previstos nós de ligação às principais localidades do Nordeste. A opção por Torre de Moncorvo não seria à partida muito aceitável, dada a dificuldade de execução do troço e a elevada inclinação (a mais acentuada do país, se não estou em erro). Mas tal justificava-se pela existência do rico jazigo ferrífero.
Os restantes troços da linha foram concluídos nas seguintes datas: Carviçais - Lagoaça: 06/07/1927; Lagoaça - Mogadouro: 01/06/1930; e Mogadouro - Duas Igrejas: 22/05/1938
 A História confirma que a ligação a Espanha nunca foi concluída, condenando o projecto, como fatalmente acabou por suceder, pois as distâncias às sedes dos concelhos de Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro e Miranda do Douro esvaziou a linha de sentido, cedendo lugar aos autocarros que, através da rodovia, serviam de forma mais eficaz as populações rurais do Nordeste.

Antero Neto

Nota:as duas primeiras fotografias são da estação de Mogadouro;a terceira ,da estação de Vilar do Rei;a última,da estação de Moncorvo.
Nota do editor: post publicado em 12/02/2011

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5 comentários:

  1. Bom trabalho de investigação .No ano do centenário os concelhos que eram servidos pela LINHA DO SABOR deviam organizar debates,recolha de tudo que foi publicado,filmes ,videos...100 anos não são 100 dias, e a linha do Sabor ,enquanto existiu foi muito importante para o desenvolvimento da região.

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  2. A linha do sabor foi o IP2 e o IP4, daquele tempo.

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  3. Entre 1911 e 1927, Carviçais foi a plataforma de desenvolvimento do nordeste.

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  4. Excelente trabalho de pesquisa. Eu não sabia desse propositado empurrão da linha para a raia , mas sempre estranhei as enormes distâncias a que ficavam das vilas respectivas as estações de Freixo, Mogadouro e Miranda. Só agora tive a explicação.

    Agradecida
    Júlia

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  5. Excelente documentário. Fotos lindíssimas.

    Cumprimentos
    P.Sousa

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