Uma multidão recebeu esta terça-feira o presidente da
República em Alfândega da Fé, onde ouviu um apelo para os riscos de este e
outros concelhos transmontanos ficarem sem gente e prometeu interceder para um
tratamento especial a esta região.
Marcelo Rebelo de Sousa demorou uma hora a percorrer 100
metros para cumprimentar o mar de gente que encheu a praça e que contrasta com
a realidade quotidiana de um concelho que em cinquenta anos perdeu metade da
população, restando menos de cinco mil pessoas a viverem em Alfândega da Fé.
A presidente da Câmara, a socialista Berta Nunes, lançou o
apelo ao presidente que espera convencer o primeiro-ministro, António Costa, de
que “é preciso ir mais longe” na recém-criada Unidade de Missão para as terras
que estão longe do mar por que “o chamado Interior é muito vasto”.
“Eu acho que era importante haver uma unidade de missão ou
se quiserem um grupo na unidade de missão preocupado com esta região, com os
problemas desta região, com os fundos de Bruxelas que possam vir a ser
utilizados nesta região porque é uma oportunidade única”, preconizou.
Para o chefe de Estado, “se é verdade que há outras zonas
do continente português que estão longe do litoral, estão longe de onde é mais
fácil decidir politicamente e que precisam de uma aposta prioritária,
Trás-os-Montes e Alto Douro merece um tratamento especial”.
“Não é para discriminar em relação aos outros, não pode
haver aí desigualdades, mas é para olhar para os problemas e encontrar uma
equipa que possa coordenar”, explicou.
Marcelo quer que alguém seja capaz de juntar todas as
entidades locais e regionais e “utilizar os próximos anos para tentar investir
mais nestas terras e mais nestas gentes”.
O presidente reconheceu o drama da emigração para estes
territórios, “dos velhos que ficam com pouca gente, longe nas estradas e, às
vezes, ficam longe na cabeça dos responsáveis que é pior do que ficar longe nas
estradas”.
Marcelo falava na terra do padrinho de batismo, Camilo
Mendonça, o chamado “pai” da Agricultura transmontana que projetou há 60 anos
muitas das infraestruturas agrícolas da região e o “falhado” Complexo
Agroindustrial do Cachão para escoar a produção, um “sonho” que apontou como
símbolo da “resistência” das gentes locais.
O chefe de Estado ouviu a autarca local, a socialista
Berta Nunes, alertar para “os riscos do despovoamento, envelhecimento,
emigração e a incapacidade de fixar os jovens mesmo quando eles são cada vez
mais qualificados”.
Inverter esta realidade é, na opinião da autarca,
“importante para o futuro do Interior, mas também para o país”, pois não
acredita que “seja do interesse nacional assistir ao despovoamento e
desertificação de mais de metade do território sem nada fazer”.
O presidente ouviu a autarca local, a socialista Berta
Nunes, falar do esforço que tem sido feito com o concelho a liderar há dois
anos o Índice de Transparência Municipal, e, entre outros, o investimento na
cultura mostrado a Marcelo com atuações de grupos locais, da música ao teatro.
O presidente tocou bombo com o Grupo de Bombos de
Alfândega da Fé, ouviu desgarradas de concertina, distribuiu sorrisos e beijos,
tirou “selfies” entre a multidão que o aguardou quase no final do segundo dia
do “Portugal Próximo” em Trás-os-Montes.
“Bem diferente” do anterior, que esteve na terra a
inaugurar um colégio “e fugiu, que ninguém lhe pôs a vista em cima e depois
ficou lá sozinho a discursar”, atalhou Maria da Conceição.
O mais importante para Armando Castilho é que este
presidente da República “trouxe alegria”, enquanto o jovem Xavier Penarroias,
de 15 anos, acredita que Marcelo “vai endireitar o país” para que no futuro não
“tenha de ir para o estrangeiro”.
Duas pequenas de 12 anos, Alice e Beatriz quiseram conhecer
pessoalmente o presidente porque “ele é diferente, é mais humilde, fala mais
com o povo”.
Fonte: http://observador.pt/2016/07/05/marcelo-quer-tratamento-especial-para-terras-em-risco-de-ficar-sem-gente/
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