Shakespeare para os dias de hoje.
Neste Romeu e Julieta só há mulheres, e há
mais família do que amantes.
No
ano em que se celebram os 400 anos da morte de William Shakespeare, a obra do
dramaturgo inglês reafirma a sua resistência ao tempo e ao espaço. As suas
peças abrangem todo o espectro de emoções humanas e Shakespeare reinventa-se
uma e outra vez através do trabalho de sucessivos artistas, em várias línguas e
várias linguagens. Dando conta disso mesmo, o festival Glorioso Verão,
co-organizado pelo Teatro Nacional D. Maria II e pelo São Luiz Teatro
Municipal, começa esta sexta-feira e decorre até 13 de Agosto.
A
programação, elaborada pelos directores artísticos do D. Maria II e do São
Luiz, Tiago Rodrigues e Aida Tavares, inclui, por um lado, espectáculos que
fazem parte do repertório de cada um dos teatros e, por outro, projectos novos
ligados a este autor. “Quisemos uma mistura de estéticas e expressões
diferentes, juntando textos de criação com novas abordagens”, explica Aida
Tavares. O festival vai ocupar várias salas do D. Maria II e São Luiz com
teatro, cinema, música e leituras encenadas e estende-se, também, ao largo do
Teatro Nacional de São Carlos e às ruínas do Convento do Carmo.
O
Ciclo de Filmes Shakespeare, que exibirá Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth e Rei
Lear, marca o início do Glorioso Verão. Espectáculos como António e Cleópatra e
By Heart, encenados por Tiago Rodrigues e hOtelo, encenado por Pedro Lacerda,
são algumas das reposições. Em estreia estarão o recital If food be the music
of love, dirigido por Nuno Vieira de Almeida, Cimbelino, com encenação de
António Pires, e Trocava a minha fama por uma caneca de cerveja, criação e
interpretação de Rui Neto e Teresa Sobral. Serão, também, apresentados os
trabalhos finais da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, Sonho de uma
noite de Verão e Shake, Shake, Shake, meu amor.
João
Grosso orienta uma leitura encenada de Macbeth e a coreografia Romeu e Julieta,
de Rui Horta, leva a Companhia Nacional de Bailado ao D. Maria. Haverá, ainda,
o lançamento do livro Muito barulho por nada, com tradução de Sophia de Mello
Breyner Andresen, e uma oficina para os mais pequenos, dirigida por Cláudia
Gaiolas.
Segundo
Tiago Rodrigues, “montar, adaptar e inspirar Shakespeare” é o lema do festival,
que pretende mostrar que a obra do dramaturgo continua actual. “Shakespeare não
pertence ao passado, é uma ferramenta para nos pensarmos no nosso tempo”, diz o
director artístico do D. Maria II, exemplificando com Ricardo III e António e
Cleópatra, que aludem à política e ao amor em termos que não estão obsoletos no
século XXI, respectivamente.
William
Shakespeare é “uma fonte de inspiração para várias artes”, mas chegou mesmo a
inscrever-se na história do Teatro Nacional D. Maria II. Em 1964, quando
ocorreu o grande incêndio que destruiu a quase totalidade do edifício, era
Macbeth, “a peça maldita de Shakespeare”, que estava em cena. Mas a influência
do dramaturgo, e também poeta, não se confina entre paredes. Uma “biblioteca de
inspiração” para Tiago Rodrigues, Shakespeare vai além das suas próprias
personagens. Os seus textos, que frequentemente falam de reis e rainhas,
continuam a atrair todo o tipo de público pela universalidade dos temas
abordados. “Shakespeare é erudito mas, ao mesmo tempo, instintivo e, por isso,
atinge a nossa sensibilidade de forma epidérmica”, diz o encenador.
Os
palcos portugueses não esqueceram Shakespeare e, de acordo com Aida Tavares, o
autor inglês tem “toda a importância no teatro contemporâneo português, porque
ele próprio é uma escola de teatro”. E, entre as múltiplas adaptações mais
clássicas ou contemporâneas, Shakespeare vai-se mostrando maleável nas mãos de
quem o adapta ao longo dos tempos. “Pertence a todos os povos e a todas as
línguas”, reitera Tiago Rodrigues.
É
rara a geração que desconhece a trágica história de Romeu e Julieta ou a
maldade de Macbeth e assim será por muito tempo. Shakespeare é um autor que
“excita a imaginação e pede para ser visto com frescura”. E voltaremos a
encontrá-lo, repetidamente, porque há sempre uma frase ou uma cena à espera de
nos agarrar como se fosse a primeira vez.
Texto
editado por Inês Nadais
Fonte: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/shakespeare-nao-tem-prazo-de-validade-no-glorioso-verao-1737617
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