quinta-feira, 6 de março de 2014

Ainda sobre as amêndoas cobertas de Moncorvo…

Arte ,Sabor e Douro.Foto L.b.
Desde que em 1886 apareceram na Exposição Universal de Paris e na Feira Internacional de Filadélfia, onde foram celebradas pela crítica da especialidade, [são os factos documentados], não mais deixaram de fazer parte da tradição doceira dos moncorvenses. Eram usadas como guloseima, na época pascal e nas boas bodas, embrulhadas em tule para oferta ou espalhadas pelas mesas para consumo imediato.
Apresentam-se no mercado em três tipos: «bicudas brancas» quando são só cobertas de açúcar, «morenas» se também levam chocolate e canela (ou só chocolate) e «peladinhas» quando o grão é revestido apenas por uma ligeiríssima camada de açúcar. Até há bem pouco tempo também se aproveitava alguma amêndoa amarga para cobrir, a «amara», que era utilizada para atenuar o efeito de uns "copitos a mais" (!).
Escalde os grãos, descasque-os e, em seguida, torre-os no forno em latas apropriadas. Finda esta operação, espalhe-os numa bacia de cobre redonda assente num alguidar de barro cheio de rescaldo e, pouco a pouco, remexa-os, cuidadosamente, com os dedos adedalados, regando-os de açúcar em ponto, com ou sem aromas, a intervalos de colheradas de sopa. Era assim que a minha tia Rosa - ilustre doceira moncorvense - as fazia. Os "confétis", os biquinhos que se partiam, ficavam para mim e para os meus companheiros. Que bem sabiam com uma golada de licor de canela! Até com aquela xaropada gaseificada – o pirolito, para o saque de mais um berlinde! [Diziam que o licor de canela da Ti Antoninha Biló era o melhor! Talvez!]
Fico-me por aqui... Antes que o aroma destas delícias inofensivas, destas doces delicadezas de sabor amendoado, desmoralizantes da lealdade fingida às dietas dos argumentos remendados, me activem imoderadamente a circulação e promovam apetites mais descuidados e bem mais ferozes.
António Monteiro
In:https://www.facebook.com/antonio.monteiro.140?fref=ts

1 comentário:

  1. Um texto simples , claro e bem escrito.
    Claro que o licor da Tia Antoninha Biló, minha mãe, era o melhor.

    Um grande abraço
    Júlia Ribeiro

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.