O Natal sem a Zulmira
O filho mais novo de Zulmira terá, por essa lógica, completado ontem o ciclo da sua criação. Fez sete anos. Zulmira teria desejado estar presente para lhe fazer um bolo. Para lhe lembrar que, não obstante o universo estar viciado na programação septenária de todas as coisas, ele era ainda, e apenas, uma criança. Colocar-lhe um copo de leite morno nas mãos e dizer-lhe
toma o leitinho todo, meu amor, para seres um homem grande.
E, quem sabe, talvez essas precisas palavras lhe vão fazer falta. Talvez, por causa da falta que lhe vão fazer, o pequeno Tomás não cresça tanto quanto devia.
A mãe do Tomás era a sua família. A sua família toda. E Tomás não perdeu apenas a sua mãe. Porque sem Zulmira, a sua filha mais velha deixou de saber para que serve e não se lembra que é a irmã mais velha de alguém. E o seu pai anda tão ocupado a pensar no que vai fazer com a raiva que já não pode dar a Zulmira, que não se lembra que tem filhos. E o outro irmão de Tomás queria muito oferecer-lhe, como prenda de natal, um céu que lhe fosse azul. Mas o pequeno José não conhece as cores.
Assim, este será o Natal de uma única surpresa: a perceção doída de cada um estar tão só.
Ver:http://lelodemoncorvo.blogspot.com/search?q=virginia+do+carmo
Os meus dedos não estão nada bons para escrita. Mas não posso deixar passar este texto sem dizer o quanto me comoveu , o quanto me arrepiou.
ResponderEliminarNotável, Virgínia. Brilhante.
Um abraço
Júlia
Júlia, muito grata pela sensível leitura deste texto, como sempre :) Bem haja! Um beijinho e, seja o que for que lhe "prende" os dedos, as melhoras!
ResponderEliminar