Este trabalho encontra-se dividida em duas
partes: a I Parte sobre A Região de
Moncorvo, que contém 5 capítulos. A II Parte sobre A Vila de Torre de Moncorvo que tem 4 capítulos.
I
Parte – A Região de Moncorvo
O primeiro capítulo, inserido na primeira
parte, refere-se ao Concelho e à Região.
Começámos por localizar geograficamente a
vila de Torre de Moncorvo e apontar as freguesias que hoje fazem parte do
concelho. A riqueza mineira e a caracterização dos solos foram referidas já que
delas dependia, em parte, a economia da região.
Não existe um consenso
relativamente à origem da vila de Moncorvo, em parte devido à inexistência de
documentos históricos que comprovem a veracidade dos factos.
Segundo o Abade de Baçal e
outros autores, o capitão Mem Corvo teria sido governador de uma das províncias
em que se enquadrava Moncorvo, tendo-lhe sido entregue Carta Foralenga em 1062,
que D. Afonso Henriques posteriormente confirmou. Mais tarde o seu castelo
teria sido arrasado pelos Árabes ou pelos Leoneses, o que levou à mudança dos
seus habitantes para as proximidades do Rio Sabor (local compreendido entre
este rio e a Ribeira da Vilariça), originando o povoado de Santa Cruz da
Vilariça. Posteriormente, os habitantes de Santa Cruz da Vilariça terão
abandonado este local e regressado ao inicial (sopé da Serra do Reboredo)
devido a uma melhor localização deste e maior abundância de água potável.
O segundo capítulo refere-se
aos conflitos do concelho com os outros
concelhos. Com os concelhos e particulares.
O concelho de Moncorvo teve
alguns litígios com a população dos concelhos limítrofes, tendo sido por vezes
o rei obrigado a intervir nessas questões. Também particulares se viram
envolvidos em questões que afectavam alguns direitos que estes consideravam
como legitimamente seus.
Já o terceiro
capítulo refere-se à Cooperação. As ligações com a
população e concelhos limítrofes nem sempre foram feitas de contendas. Houve
também cooperação em muitos casos, que podia ocorrer nos dois sentidos, ou
seja, Moncorvo ajudava os vizinhos ou estes cooperavam com o concelho. De
qualquer forma, será de salientar que a cooperação era por vezes forçada pelos
próprios monarcas, a quem uns e outros recorriam para defender os seus
direitos.
O quatro capítulo foca Relação
com o poder Central , nomeadamente Intervenção régia nos concelhos,
presença régia, forais e privilégios. A
intervenção régia era visível quando os monarcas tinham que dar resposta às
queixas que os procuradores moncorvenses apresentavam em Cortes. Mas ela também
se consubstanciava em diversas situações, que iam desde a outorga de forais e
criação de novas vilas, à concessão de privilégios, passando pela promulgação
de sentenças, entre outros. No que respeita estritamente ao concelho de
Moncorvo, merecem realce as presenças régias na região, nomeadamente as de D.
Dinis e de D. João I.
A outorga de forais na
região transmontana, ao longo de menos de um século, não terá ocorrido de forma
casual. Os monarcas estruturavam assim a ocupação do espaço em torno de
povoações estrategicamente colocadas, tendo por último objectivo uma linha de
defesa, contra os invasores. É neste sentido que se entendem os forais dados a
Torre de Moncorvo, a Sta. Cruz da Vilariça, Mós e Urros.
O monarca também intervinha nos
concelhos outorgando privilégios, como agradecimento por serviços prestados, e,
em alguns casos, como forma de fixação da população em lugares menos propícios.
Por fim, o quinto capítulo
está relacionado com os Elementos de
ligação régia no concelho.
Os monarcas encontraram
forma de controlar os municípios mais distantes utilizando, como
intermediários, o corregedor, o juiz de fora, o almoxarife, o meirinho e o
alcaide, entre outros. Da actuação de todos temos conhecimento no Concelho de
Torre de Moncorvo.
II
Parte - A Vila de Torre de Moncorvo
Como foi referido
anteriormente a segunda parte retrata a vila de Torre de Moncorvo, em que o primeiro
capítulo da-nos uma visão sobre a
Organização administrativa.
Tendo analisado as relações
da população de Moncorvo com os seus vizinhos e com o rei, tornou-se imperioso
conhecer o modo como o concelho moncorvense se organizava do ponto de vista
administrativo. Apesar de não ter chegado até nós qualquer acta de vereação ou
qualquer outro documento relacionado com gestão camarária, como acontece, por
exemplo, para o concelho de Mós, a documentação analisada deu-nos a conhecer a
existência de juízes, vereadores e procuradores, assim como de escrivães e
tabeliães que exerciam a sua actividade em ligação estreita com o concelho.
Na documentação por
nós analisada verificamos que existiam outros procuradores (procuradores na
Corte, procuradores das
Cortes) que sabemos não se tratarem do Procurador da vila. Dado que podem
eventualmente terem sido oficiais do Concelho, optámos por os incluir no
trabalho.
O segundo capítulo
refere-se aos Aspectos
económicos.
Situado no interior
transmontano, o concelho de Moncorvo, como qualquer outro, teria de ter os seus
próprios meios de sobrevivência. Contudo, os moradores encontraram na agricultura
um dos meios para sobreviver, sendo o cereal um bem essencial para produção de
pão, assim como a produção de vinho e de linho. Todos estes bens se tornaram
uma forma de sustentabilidade dos cofres do concelho, ou seja, constituíam uma
base de cobrança de impostos.
A localização do concelho
junto aos rios Douro e Sabor foi igualmente determinante na sua organização
económica. Se o sustento do(s) barqueiro(s) que assegurava(m) a passagem de pessoas e bens essenciais
provinha do dinheiro cobrado por essa passagem, o transporte fluvial
na região, e tudo que com ele se relacionasse, provocava inúmeras querelas
entre o concelho de Moncorvo e o de Vila Nova de Foz Côa.
Apesar de todos os
esforços que certamente os oficiais camarários faziam, nem sempre as finanças
do concelho tinham saldo positivo, o que motivou o recurso a empréstimos
a particulares. Moncorvo foi um dos concelhos que emprestou dinheiro aos
monarcas portugueses, quando estes recorreram a pedidos e empréstimos. Deve,
por isso, salientar-se o facto de este tipo de situações nos mostrar claramente
que havia moncorvenses monetariamente abastados.
O terceiro capítulo descreve
os Aspectos do quotidiano.
O concelho de Moncorvo
situa-se numa zona de fronteira, o que se tornava numa preocupação para os
habitantes dado o risco de invasão eminente por parte de Castela. Por esta
razão, o quotidiano dos moradores era dedicado, entre muitas outras coisas, à construção
e manutenção dos muros e fortalezas.
Para além da importância dada a estas obras,
era necessário haver preocupação com o abastecimento de água da
população, o que competiria à vereação.
O quotidiano dos
moncorvenses era repleto de várias actividades, sendo uma delas a agricultura,
nomeadamente dos cereais, da vinha e da cultura do linho cânhamo. Também
ocupavam os seus dias com a produção de gado, nomeadamente de bois, e
com a pesca no rio Sabor e na ribeira da Vilariça.
A região de Moncorvo é rica
em ferro, motivo que terá levado desde cedo os habitantes a aproveitar
este recurso natural além da sua extracção, o metal era vendido na feira,
fomentando as trocas comerciais.
O quotidiano dos habitantes
de Torre de Moncorvo também era feito de outras actividades importantes,
constituindo a feira, mercado e açougue algumas delas.
O
quatro e último capítulo foca a Organização
eclesiástica.
Durante
a época medieval, a região raiana de Trás-os-Montes estava dividida, em termos
de organização diocesana, em três «terras» da Arquidiocese de Braga: Freixo de
Espada à Cinta, Miranda do Douro e Vilariça, sendo esta última a de maior
dimensão territorial.
A
partir da segunda metade de quinhentos os territórios foram partilhados entre a
Diocese de Braga e a recente Diocese de Miranda do Douro, o que motivou
alteração da geografia eclesiástica. Torre de Moncorvo, que até 1545 pertence à
Diocese de Braga, passa a pertencer a partir dessa data à nova diocese.
A
vida religiosa integrava-se obviamente no quotidiano dos moncorvenses. Esta vila
enquanto lugar habitado e organizado, já tinha uma igreja anterior ao reinado
de D. Sancho II. Nos séculos seguintes temos referência a duas igrejas
existentes em Moncorvo. Uma delas era dedicada ao apóstolo São Tiago e a outra,
que tinha como orago Santa Maria, provavelmente ficava situada extra-muros.
Na
pesquisa realizada encontrámos algumas (poucas) referências à nomeação dos
clérigos para ambas as Igrejas.
A título de conclusão e após
a elaboração deste trabalho, existem aspectos que nos parece importante
realçar.
Verificamos que nos conflitos
com outros concelhos, como por exemplo Vila Nova de Foz Côa e Urros, Moncorvo
ganha com frequência as causas, o que provavelmente demonstra a importância que
esta vila teria para os monarcas. Tal facto estará relacionado com a sua
proximidade com a fronteira com Castela. Já nos conflitos com particulares,
esta situação não se nota, pois em alguns casos Moncorvo perde as causas.
No que respeita à cooperação
inter-concelhia verifica-se que ela existia, umas vezes espontaneamente,
mas na maior parte dos casos forçada pelo rei ou pelos seus oficiais. Nos
documentos por nós analisados encontramos os dois tipos de situação.
A intervenção do monarca
manifestava-se, antes de mais com a presença régia nos concelhos, os forais e
os privilégios. Da primeira temos notícias relativas a D. Dinis e a D. João I.
Para além dos forais, os reis outorgavam outros privilégios à população de
Moncorvo, como agradecimento por serviços prestados, e tendo em conta a sua
relevância estratégica e a importância do porto do rio Douro e Sabor. Esta
política de favorecimento régio não impediu, contudo, que o concelho de
Moncorvo tivesse apresentado vários agravos nas Cortes contra os corregedores,
que nem sempre tiveram a resposta desejada.
Debruçámo-nos sobre a
actividade específica de cada um dos oficiais concelhios. Também nos mereceram
todo o interesse as referências que pudemos coligir relativas a aspectos
económicos relacionados com os habitantes da vila ou do concelho. Contudo,
foram as informações que nos chegaram sobre o quotidiano dos
moncorvenses que nos chamaram uma atenção especial. A preocupação com a
segurança da vila, o abastecimento de água e as diversas actividades a que se
dedicavam os habitantes de Moncorvo – agricultura, criação de gado, pesca
fluvial, extracção de ferro -, intimamente relacionadas com a realização da
feira e/ou do mercado reflectem-se um pouco por todo o trabalho.
No que respeita à
organização eclesiástica, apesar de termos reunido as informações relativas às
duas Igrejas de Moncorvo, Santiago e Santa Maria, não nos foi possível aferir
da real importância destas instituições.
Terminada a investigação,
resta-nos a esperança de, de algum modo, ter contribuído para um melhor
conhecimento desta vila transmontana no período medieval. Estamos conscientes
de que há ainda muito para trabalhar.
Tânia Amaral
Ex.mo
Sr.Presidente da Camara de Torre de Moncorvo
Exma.
Sra. Dra. Tânia Amaral
Ex.mos
Senhores
Fui
convidada a estar presente nesta sessão e aqui fazer a apresentação do livro “Torre
de Moncorvo na Idade Média: contributo para a história da vila e termo”, tarefa
que aceitei com gosto tendo em conta as relações de amizade que já há algum
tempo me ligam à sua Autora. A alteração do horário inicialmente previsto
impediu-me de estar fisicamente presente neste evento, devido a outros
compromissos profissionais entretanto assumidos. Pelo facto peço desculpa, em
primeiro lugar à Dra. Tânia Amaral, mas também ao Ex.mo Sr. Presidente da
Câmara e demais autoridades presentes, bem como a quantos hoje aqui vieram.
O
Livro que hoje se apresenta é um primeiro resultado de um trabalho feito em
ambiente académico pela Dra. Tânia Amaral, que, interessada em melhor conhecer
a história da região onde cresceu, elaborou esta monografia que agora se dá a
conhecer, partindo de uma (re)leitura de obras mais ou menos recentes sobre o
concelho, a que associou a análise de alguns documentos ainda inéditos conservados
no Arquivo Histórico de Torre de Moncorvo,. Nela se ilustram aspectos da vida
moncorvense nos séculos finais da Idade Média, alguns dos quais pouco
explorados até agora.
A
primeira parte do livro, após dar a conhecer aspectos gerais acerca do concelho
e região de Torre de Moncorvo, num enquadramento genérico mas necessário para
permitir a qualquer leitor situar-se no espaço e nas origens da vila, dedica-se
à articulação entre Moncorvo e os concelhos vizinhos, cujas relações se
pautavam tanto pelo confronto, quando se sentia de algum modo ameaçado num
direito que se arrogava, como pela colaboração, quando interesses comuns estavam
em jogo. Neste âmbito, o papel exercido pelos diferentes monarcas não foi
esquecido. Tânia Amaral dedica algumas páginas à actuação dos vários monarcas,
que intervieram quer directamente, quer através dos seus oficiais (nomeadamente
os corregedores), arbitrando conflitos, confirmando privilégios anteriores ou
mesmo revogando disposições tomadas previamente. Incontornáveis, neste
contexto, são pois as referências aos Forais outorgados, instituindo concelhos
como Mós (em 1162), Urros (1182), Santa Cruz da Vilariça (1225) e Moncorvo (em
1285), que visavam a fixação de população e o desenvolvimento de povoações
existentes. Por essa razão estes diplomas estavam intimamente relacionados com
a concessão de privilégios aos moradores do concelho, sobretudo quando se
referiam a assuntos ligados à vida económica, individual ou colectiva, como são
os casos de algumas isenções de impostos, e a autorização para realização de
uma feira anual de alguma dimensão.
Igualmente
importante para o conhecimento das relações entre o poder central e o local são
as referências àqueles que as protagonizavam: corregedores, meirinhos, juízes
de fora, almoxarifes exerciam localmente, em nome do rei, funções judiciais e
de cobrança de direitos régios. São eles o objecto do último capítulo da
primeira parte no qual, de forma breve, para além de se indicar em que
consistia a sua actividade um pouco por todo o país, se elencam os homens que a
exerceram, e se dá conta de casos concretos da sua actuação no concelho.
Mais
centrada na vila de Moncorvo é a segunda parte do livro. Para além da
identificação de vários membros da vereação (procuradores concelhios incluídos),
faz-se referência à presença, mais ou menos constante, de representantes
moncorvenses na corte régia, bem como de procuradores do concelho, sempre que
eram convocadas Cortes. Seguidamente, procura-se dar a conhecer alguns aspectos
da vida quotidiana na vila medieval de Moncorvo.
A
segurança das populações (e, indirectamente, do Reino), o abastecimento de água
e alguns aspectos do dia-a-dia económico são assim abordados. Salientem-se, neste
contexto, as referências aos meios de produção
(agricultura e pesca no rio Sabor), comércio (feiras e mercados) e à
actividade de extracção de ferro bem como a cobrança de impostos inerentes a
estas e outras actividades. Porque situada num ponto estratégico a nível
defensivo, também não foi esquecida a importância tanto da barca do Sabor e
Douro como dos cuidados com a manutenção do castelo de Moncorvo e respectiva
muralha, que constituem um capítulo importante da segunda parte do volume.
O
último capítulo, breve porque as notícias documentais recolhidas são poucas e
esparsas, dedica-se à organização eclesiástica. Integrada na diocese de Braga
até ao século XVI, como é sabido, a vila tinha duas igrejas (S. Tiago e Santa
Maria), que eram de padroado régio. Também por esta via, a da indicação dos
clérigos que deviam servir nesses templos, o rei se relacionaria com os
moncorvenses, mas disso restam poucos testemunhos.
O
livro termina, naturalmente, com uma conclusão que sintetiza as principais
ideias apresentadas.
Para
além do texto propriamente dito, o trabalho inclui um corpus documental, constituído não só pelos sumários de documentos
anteriormente publicados por diversos autores, mas também pela publicação de 12
pergaminhos que se conservaram inéditos até hoje. Esse apêndice constitui, por
isso mesmo, uma mais-valia que nunca é demais salientar. Como Professora de
Paleografia e Diplomática da Faculdade de Letras do Porto não deixo de me
regozijar com a inclusão destas páginas. Transcrever textos escritos em letras
medievas é uma tarefa morosa e que, quando bem executada, se reveste de uma
enorme importância que ultrapassa em muito o público local, interessando mesmo
a toda a comunidade científica. Seja-me permitido fazer aqui a sugestão da publicação
na íntegra desses pergaminhos, sob os auspícios da autarquia naturalmente,
tarefa que só poderá ser feita de forma definitiva, isto é, com o rigor
científico e com as normas internacionais que existem para a edição de
manuscritos medievais e modernos, por uma equipa de investigadores (de
preferência pequena). Contudo, e para ter visibilidade no mundo científico
sobretudo, mas também no país em geral, como merece uma “empreitada” desse
género, todo esse trabalho de ler, analisar e criticar do ponto de vista
paleografíco e diplomático deverá ter um enquadramento que reúna o poder local
e uma instituição científica, como, por exemplo a Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, onde a Dra. Tânia Amaral se formou, ou o Centro de
Investigação nelas ediado (CITCEM). Publicar esta
documentação (assim como qualquer outra) de forma acrítica, descurando o rigor
científico é, efectivamente, uma perda não só de tempo, como de dinheiro, dado
que nenhum trabalho científico sério se poderá nela basear.
Para
terminar, resta-nos reafirmar que este livro é o resultado de uma primeira
investigação, própria de quem agora começa a trilhar os passos do conhecimento
da realidade histórica do concelho de Torre de Moncorvo. Como estudo inicial, é
possível que nele se observem algumas inexactidões que pesquisas posteriores
esclarecerão. Para já, esta pequena monografia permitirá aos moncorvenses terem
uma ideia mais concreta da “sua” história. Também por esta razão, está de
parabéns a Câmara Municipal de Torre de Moncorvo por ter decidido dar à estampa
este primeiro trabalho da Dra. Tânia Amaral.
Porto,
Abril de 2013
Maria
Cristina Cunha
Professora
Associada da Fac. Letras da Univ. Porto
Manuel Bento Fernandes escreveu:A ouvir a RTP, agora, mais sentido tem estes "farrapos de Memória". Parabéns...
ResponderEliminarDaquilo que lé e que sei, há neste livro muitas contradições em relação á atribuição de forais ( datas e reinados), seria bom que estas obras fossem mais rigorosas.
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