Estátua de Trindade Coelho em Mogadouro. |
Por: António Pimenta de Castro
UM
POEMA PARA SI
Todos
nós reconhecemos que o mundo em que vivemos é um mundo sem verdadeiros valores.
Os valores do espírito, da cidadania, da civilidade, da família, da honra,
deram lugar a um mundo em que só o aspecto material é que é importante, um
mundo onde “vale tudo” e onde só o dinheiro é que conta. Tudo se compra e tudo
se vende, é só uma questão de preço. Um mundo em que o ter é mais importante
que o ser. Um mundo assim é um mundo doente e decadente. E é um mundo doente
que estamos a legar aos nossos filhos. Não sou e, felizmente, nunca fui um
saudosista. Sou, um homem do meu tempo, mas, reconheço que, ou mudamos
rapidamente ou entraremos num beco sem saída. Não é um “regresso ao passado”
que se pretende, mas sim que se viva o nosso tempo em conformidade com certos
valores, valores humanistas que são intemporais. O mundo de hoje é um mundo
feito á imagem e semelhança do “MacDonald´s”, do descartável, do “usa e deita
fora”. É um mundo egoísta: Os pais “não têm tempo” para educar os filhos,
dão-lhes em troca muito dinheiro e compram-lhes todas as “porcarias” que “os
meninos” querem; os filhos “não têm tempo” para “aturar” os pais, por isso,
quando eles forem idosos, metem-nos em asilos (ai, desculpem, em lares da
terceira idade...).
Mais importante que educar os filhos, ou ter os pais em
casa é ir para a praia para bronzear o corpo, comprar um novo telemóvel ou
trocar de carro, andar sempre na moda e, sobretudo, aparentar viver melhor do
que o vizinho ou o colega do emprego. Um mundo vazio, um mundo fútil, um mundo
sem valores, uma autêntica “feira das vaidades”...O escritor brasileiro
Eleutério Nicolau da Conceição, escreveu o seguinte: “ A nossa época tem
experimentado mudanças extremas de ideias e comportamentos. Depois de um longo
período de cerceamento das liberdades individuais, onde normas sociais
cristalizadas impunham um comportamento padrão artificial, ouviu-se nos anos 60
o brado paradoxal: é proibido proibir. A partir daí, direitos foram sendo
conquistados pelos vários segmentos sociais, e, de tanto se falar em conquista
de direitos, deixou-se de lado a ideia paralela da existência de deveres. O
lema de uma geração foi: Não se reprima, e como a ideia de disciplina está
associada à repressão, cultivou-se a atitude cada vez mais indisciplinada, com
o comentário jocoso de que normas e leis existem para ser violadas. Certamente
essa posição reflecte outro extremo, também indesejável, que a ser mantido,
conduzirá inevitavelmente ao caos social, do qual os aspectos de miséria e
violência exacerbada já são manifestos nos dias actuais”.
Estes
problemas não são novos, direi que são de sempre, mas o que mais me aflige é o
facto de pouca gente, e sobretudo aqueles que têm responsabilidades, nada
fazerem para inverter a situação. Já desde a antiguidade que vários pensadores
se têm debruçado sobre este problema. Entre nós, Trindade Coelho com o seu “Manual
Político do Cidadão Português” e António Sérgio com a sua “Educação Cívica” (só
para citar alguns exemplos e sem focar os autores actuais) nos dão bastante
“material” para pôr em prática uma autêntica educação cívica, ou como agora se
diz, uma educação para a cidadania. O Ministério da Educação português tem a
obrigação de implementar uma verdadeira Educação Cívica, ou para a cidadania, que
seja ensinada aos nossos alunos de uma maneira mais eficiente e prática. Todos
os dias vemos o nosso país piorar e o futuro dos nossos filhos cada vez mais
negro. Aumentam os impostos de uma maneira gigantesca, o IMI, o IRS e, no
fundo, todos eles, menos os salários que cada vez são menores…(enfim, não
falemos mais nisso…). Nesta época de profunda depressão social e económica
todos nós estamos mais tristes, mais deprimidos, mais abatidos. O futuro não
será risonho...Por isso queria transmitir-lhe uma mensagem de esperança, de
auto-estima e de coragem para o futuro. O amigo leitor merece-o! Mas como o
fazer? Nestas férias reencontrei um poema/mensagem que me marcou profundamente
quando eu era ainda adolescente e que julgava já perdido, no desalinho do meu arquivo.
Chama-se: Desiderata. Tive até um disco em vinil (que ouvi milhares de vezes) onde
este poema era declamado pelo actor Rui de Carvalho. Não posso deixar de
partilhar consigo estas palavras, nestes tempos bem negros, nelas encontrará, de certeza, alguma “Luz” para o ajudar a viver,
medite bem nele:
“DESIDERATA
“Segue tranquilamente
entre a inquietude e a pressa, lembrando-te da paz que há no silêncio.
Tanto quanto possível,
e sem humilhar-te, vive em harmonia com todos os que te cercam.
Evita as pessoas
agressivas e transtornadas, elas afligem o nosso espírito.
Se tu te comparares com
os outros, tornar-te-ás presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém
superior e inferior a ti.
Vive intensamente o que
já te foi possível realizar. Mantém-te interessado no teu trabalho, ainda que
seja humilde, ele é o que de real existe ao longo de todo o tempo.
Sê cauteloso nos
negócios, porque o mundo está cheio de astúcias, mas não caias na descrença – a
virtude existirá sempre! Muita gente luta por altos ideais e em toda a parte, a
vida está cheia de heroísmo.
Sê tu mesmo, e,
principalmente, não simules afeição, nem sejas descrente em relação ao amor,
porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto, ele é tão perene quanto a
relva.
Aceita com carinho o
conselho dos mais velhos, mas sê compreensivo para com os impulsos inovadores
da juventude.
Alimenta as forças do
espírito, que te protegerão do infortúnio inesperado, mas não te desesperes com
perigos imaginários. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão, por isso, e
a despeito de uma disciplina rigorosa, sê gentil contigo mesmo.
TU ÉS FILHO DO UNIVERSO, IRMÃO DAS ESTRELAS E
DAS ÁRVORES, TU MERECES ESTAR AQUI, E MESMO QUE TU NÃO POSSAS COMPREENDER, A
TERRA E O UNIVERSO VÃO CUMPRINDO O SEU DESTINO.
Por isso, está em paz com Deus, qualquer
que seja a maneira que tu o concebas, e, quaisquer que sejam os teus trabalhos
e aspirações na fatigante jornada pela vida, mantém-te em paz com a tua própria
alma, pois acima das falsidades, dos desenganos, das agruras, o mundo é ainda
maravilhoso!
Portanto, sê prudente e
faz tudo para ser feliz!”
Com estes pensamentos tão bonitos, despeço-me de si,
amigo leitor, desejando que o ajudem na difícil caminhada da vida. Não se
esqueça, faça os outros felizes, lute para ser feliz!
António Pimenta de Castro
viaja-se nas palavras escutando o silêncio que fala e nos diz que somos únicos entre iguais e se respeitarmos seremos respeitados. Palavras que nos permitem voar ou entrar por nós adentro e sentir o que simplesmente somos, seres irrequietos e pensantes que se conseguirmos harmonia podemos viver em paz....
ResponderEliminarMuito obrigada pelo lindo poema e pelas suas generosas palavras.Seja feliz e continuedesta maneira simpática a fazer Felizes todos aqueles que têm p prazer de ler a sua prosa.Irene
ResponderEliminar