sábado, 21 de setembro de 2013

CRÓNICAS DE TRÁS-OS-MONTES - Por António Pimenta de Castro

AS CORES NEGRAS DO NOSSO DESCONTENTAMENTO


Foto de José Rodrigues
            Após umas retemperadoras férias na minha querida Viana do Castelo, regressei a Mogadouro, terra onde resido. Ontem, dia 30 de Agosto, desloquei-me a Torre de Moncorvo, terra em que exerço a função de professor de História, para apresentar a minha participação de retorno ao serviço, após as minhas referidas férias retemperadoras. Faço isto todos os anos, mas ontem custou-me imenso, uma vez que a paisagem estava “pintada de negro”, tão dramáticos foram os fogos que aqui consumiram as florestas, os campos de cultivo, as oliveiras, as amendoeiras, os haveres, enfim, quase tudo o que a terra dá. É uma paisagem verdadeiramente dantesca. E os incêndios continuam aí tendo feito já inúmeras vítimas, algumas delas, infelizmente, mortais. Mas uma vez nestas vilas, a expressão das pessoas também são negras ou, quando muito cinzentas. O futuro apresenta-se dramaticamente incerto para os jovens e para aqueles que não tendo idade para a reforma, são já considerados “velhos” para arranjar novo emprego. É dramático e frustrante para alguns colegas meus (contratados ou com horário zero) não terem perspectivas de futuro (alguns deles com muitos anos de serviço e encargos, alguns deles com o futuro dos seus filhos ou da sua habitação), vejo os seus olhos a marejar de lágrimas bem salgadas. Também em Viana do Castelo, onde passei férias, vi faces tristonhas perante um futuro, cada vez mais incerto. A paisagem em Trás-os-Montes é negra, bem como negra é a vida que se tem ou avizinha. Portugal está, todo ele, literalmente a arder…
            Ligo a televisão e só vejo notícias tristes. Ligo a rádio e só ouço desgraças. Vou ao café e só ouço lamentações. Triste País este…Após tantos e tantos sacrifícios, o “buraco” está cada vez mais profundo. Não há a mais pequena “luz” ao fundo do túnel…Dizem que Portugal é um País triste, para mim é um triste País…


            Na campanha eleitoral que se aproxima, os “políticos” fazem muitas promessas, mas todos sabemos que, na maioria dos casos e por experiência, não passam disso mesmo, de promessas que se fazem mas que raramente são cumpridas.
            O exemplo tem de vir de cima e o que é que nós vemos? Querem cortar em reformas verdadeiramente miseráveis e quase não tocam nas reformas milionárias (que muitas vezes acumulam com outras ou com rendimentos do estado verdadeiramente imorais face à realidade do País). Em vários casos vemos verdadeiras “dança de cadeiras”, de políticos que não querem dar o lugar aos mais novos.
Passamos a vida a dar dinheiro aos Bancos (a maior parte deles privados), mas quando eles dão lucro, não repartem parte dele com o povo. A imprensa regional definha cada vez mais. A taxa sobre a restauração (verdadeiro imperativo para salvar largos milhares de empregos), não baixa para os desejados 13%. Em que País vivemos? Cada vez mais este País, (que já teve um História gloriosa), se está a transformar num verdadeiro “filme de terror”, em que os filmes dos vampiros (como tinhas razão Grande Zeca Afonso), são meras fantasias para crianças. De facto, como cantava o Zeca Afonso: “eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”. Como ultrapassar esta crise provocada pelo grande capitalismo internacional que, como sabemos, não tem Pátria? É uma questão que os portugueses, todos nós, temos de pensar…e bem depressa!
            Nestas ocasiões volto-me para os nossos grandes escritores e poetas, que também no seu tempo viveram grandes crises (isto não é só de agora, infelizmente…) e “sorvo-lhes” as suas palavras, para meu consolo e para me dar (para nos dar) alguma força e esperança. Hoje, o meu espírito volta-se para o Grande Fernando Pessoa. Escreveu ele no seu livro “Mensagem”:
“NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a hora!”

Sim HOJE É A HORA! Para agirmos, antes que seja tarde de mais…Como diz o sábio povo «nunca é tarde demais», e acrescenta o Poeta, se a ALMA não é pequena! E Portugal tem uma alma imensa…Mãos à obra!

António Pimenta de Castro 

7 comentários:

  1. Viva o LATIM ! Não deixe de ler!

    LATIM, Língua maravilhosa!

    O vocábulo "maestro" vem do latim "magister" e este, por sua vez, do advérbio "magis" que significa "mais" ou "mais que".

    Na antiga Roma o "magister" era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos e habilitações!

    Por exemplo um "Magister equitum" era um Chefe de cavalaria, e um "Magister Militum" era um Chefe Militar.

    Já o vocábulo "ministro" vem do latim "minister" e este, por sua vez, do advérbio "minus" que significa "menos" ou "menos que".

    Na antiga Roma o "minister" era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso.

    *COMO SE VÊ, O LATIM EXPLICA A RAZÃO POR QUE QUALQUER IMBECIL PODE SER MINISTRO ... MAS NÃO MAESTRO !*

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  2. Retrato da realidade.Rigoroso.Já fazia falta,bem haja.
    M.

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  3. Viva o Latim!
    Muito bem Pimenta de Castro. Mãos à obra!

    bird,

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  4. Parece que só quando Portugal inteiro estiver infestado de eucaliptos, que crescem em força mesmo após os fogos, só então deixará de haver incêndios florestais. Adeus pinheiros bravos e mansos, adeus carvalho branco e negral, adeus castanheiros, oliveiras e amendoeiras ....
    Alguém vai ganhar balúrdios com isso ...

    Júlia Ribeiro

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  5. Dizia um velho proprietário de um novo eucaliptal:isto é uma maravilha,nós a dormir e o pau a crecer.Pontos de vista.
    Noitibó

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  6. Manuel Pontes escreveu: É verdade! Mas enquanto transmontanos vamos colorir a paisagem, vamos dar esperança à vida e vamos trazer boas noticias para todos. Estamos habituados às agruras do tempo e ao esquecimento dos governantes. Somos transmontanos e não nos vamos deixar abater

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  7. Nuno Augusto Afonso escreveu: É um excelente propósito, verdadeiro como os que o são, mas vai exigir muito esforço e recursos que, de momento, escasseiam. Não vivo em Trás-os-Montes embora seja transmontano e gostaria de poder ajudar nessa obra gigantesca que temos pela frente. O Marão foi devastado por um grande incêndio há vários anos mas, atualmente, está rejuvenescido. Tenhamos esperança.

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