AS CORES NEGRAS DO NOSSO DESCONTENTAMENTO
Foto de José Rodrigues |
Após umas
retemperadoras férias na minha querida Viana do Castelo, regressei a Mogadouro,
terra onde resido. Ontem, dia 30 de Agosto, desloquei-me a Torre de Moncorvo,
terra em que exerço a função de professor de História, para apresentar a minha
participação de retorno ao serviço, após as minhas referidas férias
retemperadoras. Faço isto todos os anos, mas ontem custou-me imenso, uma vez
que a paisagem estava “pintada de negro”, tão dramáticos foram os fogos que
aqui consumiram as florestas, os campos de cultivo, as oliveiras, as
amendoeiras, os haveres, enfim, quase tudo o que a terra dá. É uma paisagem
verdadeiramente dantesca. E os incêndios continuam aí tendo feito já inúmeras
vítimas, algumas delas, infelizmente, mortais. Mas uma vez nestas vilas, a
expressão das pessoas também são negras ou, quando muito cinzentas. O futuro
apresenta-se dramaticamente incerto para os jovens e para aqueles que não tendo
idade para a reforma, são já considerados “velhos” para arranjar novo emprego. É
dramático e frustrante para alguns colegas meus (contratados ou com horário
zero) não terem perspectivas de futuro (alguns deles com muitos anos de serviço
e encargos, alguns deles com o futuro dos seus filhos ou da sua habitação),
vejo os seus olhos a marejar de lágrimas bem salgadas. Também em Viana do
Castelo, onde passei férias, vi faces tristonhas perante um futuro, cada vez
mais incerto. A paisagem em Trás-os-Montes é negra, bem como negra é a vida que
se tem ou avizinha. Portugal está, todo ele, literalmente a arder…
Ligo a televisão e só vejo notícias tristes. Ligo a rádio
e só ouço desgraças. Vou ao café e só ouço lamentações. Triste País este…Após
tantos e tantos sacrifícios, o “buraco” está cada vez mais profundo. Não há a
mais pequena “luz” ao fundo do túnel…Dizem que Portugal é um País triste, para
mim é um triste País…
Na campanha eleitoral que se aproxima, os “políticos”
fazem muitas promessas, mas todos sabemos que, na maioria dos casos e por
experiência, não passam disso mesmo, de promessas que se fazem mas que
raramente são cumpridas.
O exemplo tem de vir de cima e o que é que nós vemos? Querem
cortar em reformas verdadeiramente miseráveis e quase não tocam nas reformas
milionárias (que muitas vezes acumulam com outras ou com rendimentos do estado
verdadeiramente imorais face à realidade do País). Em vários casos vemos
verdadeiras “dança de cadeiras”, de políticos que não querem dar o lugar aos
mais novos.
Passamos
a vida a dar dinheiro aos Bancos (a maior parte deles privados), mas quando
eles dão lucro, não repartem parte dele com o povo. A imprensa regional definha
cada vez mais. A taxa sobre a restauração (verdadeiro imperativo para salvar
largos milhares de empregos), não baixa para os desejados 13%. Em que País
vivemos? Cada vez mais este País, (que já teve um História gloriosa), se está a
transformar num verdadeiro “filme de terror”, em que os filmes dos vampiros
(como tinhas razão Grande Zeca Afonso), são meras fantasias para crianças. De
facto, como cantava o Zeca Afonso: “eles comem tudo, eles comem tudo e não
deixam nada”. Como ultrapassar esta crise provocada pelo grande capitalismo
internacional que, como sabemos, não tem Pátria? É uma questão que os
portugueses, todos nós, temos de pensar…e bem depressa!
Nestas ocasiões volto-me para os nossos grandes
escritores e poetas, que também no seu tempo viveram grandes crises (isto não é
só de agora, infelizmente…) e “sorvo-lhes” as suas palavras, para meu consolo e
para me dar (para nos dar) alguma força e esperança. Hoje, o meu espírito
volta-se para o Grande Fernando Pessoa. Escreveu ele no seu livro “Mensagem”:
“NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a hora!”
Sim HOJE É A HORA! Para agirmos, antes que seja
tarde de mais…Como diz o sábio povo «nunca é tarde demais», e acrescenta o
Poeta, se a ALMA não é pequena! E Portugal tem uma alma imensa…Mãos à obra!
António Pimenta de Castro
Viva o LATIM ! Não deixe de ler!
ResponderEliminarLATIM, Língua maravilhosa!
O vocábulo "maestro" vem do latim "magister" e este, por sua vez, do advérbio "magis" que significa "mais" ou "mais que".
Na antiga Roma o "magister" era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos e habilitações!
Por exemplo um "Magister equitum" era um Chefe de cavalaria, e um "Magister Militum" era um Chefe Militar.
Já o vocábulo "ministro" vem do latim "minister" e este, por sua vez, do advérbio "minus" que significa "menos" ou "menos que".
Na antiga Roma o "minister" era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso.
*COMO SE VÊ, O LATIM EXPLICA A RAZÃO POR QUE QUALQUER IMBECIL PODE SER MINISTRO ... MAS NÃO MAESTRO !*
Retrato da realidade.Rigoroso.Já fazia falta,bem haja.
ResponderEliminarM.
Viva o Latim!
ResponderEliminarMuito bem Pimenta de Castro. Mãos à obra!
bird,
Parece que só quando Portugal inteiro estiver infestado de eucaliptos, que crescem em força mesmo após os fogos, só então deixará de haver incêndios florestais. Adeus pinheiros bravos e mansos, adeus carvalho branco e negral, adeus castanheiros, oliveiras e amendoeiras ....
ResponderEliminarAlguém vai ganhar balúrdios com isso ...
Júlia Ribeiro
Dizia um velho proprietário de um novo eucaliptal:isto é uma maravilha,nós a dormir e o pau a crecer.Pontos de vista.
ResponderEliminarNoitibó
Manuel Pontes escreveu: É verdade! Mas enquanto transmontanos vamos colorir a paisagem, vamos dar esperança à vida e vamos trazer boas noticias para todos. Estamos habituados às agruras do tempo e ao esquecimento dos governantes. Somos transmontanos e não nos vamos deixar abater
ResponderEliminarNuno Augusto Afonso escreveu: É um excelente propósito, verdadeiro como os que o são, mas vai exigir muito esforço e recursos que, de momento, escasseiam. Não vivo em Trás-os-Montes embora seja transmontano e gostaria de poder ajudar nessa obra gigantesca que temos pela frente. O Marão foi devastado por um grande incêndio há vários anos mas, atualmente, está rejuvenescido. Tenhamos esperança.
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