Folar de Mirandela
Está a decorrer hoje, 30 de março de 2015, e amanhã a
tradicional Festa do Folar e do Azeite que a Casa de Trás-os-Montes e Alto
Douro, Lisboa, tem vindo a organizar há vários anos. Desta vez, o espaço
escolhido, e muito bem, foi o Mercado 31 de Janeiro em Lisboa próximo ao
Saldanha.
Folar de Chaves
Sobre o folar já escrevi em outra crónica e se quiser ler basta clicar aqui. Hoje em dia os folares tendem a parecer todos idênticos e basta-lhes ser um pão enriquecido com ovos e recheio de carnes. Aqui é que ainda podemos assistir a uma variação que marca a identidade de cada folar com a sua origem. Uma nora já para me referir que folar, para um transmontano, é salgado. Para o sul do país encontramos uma variedade de folares doces aos quais pouco me irei referir. Maria de Lourdes Modesto e Afonso Praça, na obra “Festas e Comeres do Povo Português”, Verbo, 1999, identificam os folares pela forma de armar, e pelo recheio. Identificam os do Alto Barroso, também conhecidos por bolas de carne, de Moncorvo, também chamados de empadas, de Vila Nova de Foz Côa, igualmente chamados de empadas, as bolas de Lamego e de Favaios, e depois os folares tradicionais de Chaves e de Valpaços.
Folar de Valpaços / Mirandela
Transcrevo agora o início de um texto esta semana publicado
num suplemento especial dedicado a Folares, no jornal Mensageiro de Bragança:
Não é pão. Não é doce. Em termos gastronómicos, é sinónimo de Páscoa e não pode
faltar à mesa de qualquer transmontano. … O folar é uma tradição que enobrece
qualquer mesa da Páscoa. Em minha casa era tudo isso e muito mais. Dia de
Páscoa o folar especial era a refeição completa. Mas voltando ao jornal,
apresenta as várias feiras ou eventos especiais dedicados ao folar: de
Carragosa, de Vinhais, de Carrazeda de Ansiães, de Vilarinho de Agrochão, de
Valpaços, de Izeda, de Torre de Moncorvo… Aí está. Não temos que recear a
eventual perca de tradição. Esta tem, no entanto, vindo a alterar-se, ou a
evoluir!
Não sei de onde vem o termo folar. Segundo José Pedro
Machado, no seu “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa” refere:
Etimologia obscura… e depois cita uma referência no século XVI na Origem da
Língua Portuguesa de Duarte Nunes de Leão. Os dicionários de língua portuguesa
são unânimes em afirmar que se trata de um bolo, e alguns que é feito com mel.
Apresentam também a tradição de ser o presente que os padrinhos dão aos
afilhados em dia de Páscoa. Outra significação, a de tirar o folar, será o
presente que os párocos recebiam durante visita pascal às casas dos
paroquianos.
Folar doce com ovos inteiros
Para além do prazer gustativo com que o folar nos presenteia
parece-me que a sua significação, ou simbologia, é muita mais longa. Vejamos, o
folar transmontano é feito a partir de uma massa de pão. O pão que é um
elemento estruturante da alimentação, portanto um dos seus elementos base.
Depois a junção do ovo. O ovo que faz parte da elite alimentar, o ovo que
significa o princípio da vida, o ovo em tempo de Ressurreição ou ainda ovo do
Jardim das Delícias de Jerónimo Bosh. Completa-se com as carnes. As carnes a
glória das mesas ricas medievais, a carne ansiada pelo jejum quaresmal, a carne
da abundância e tantas vezes associada ao pecado. A Páscoa é assim uma
glorificação à mesa. E em Portugal, esta festa de elogia da abastança
culinária, não podia encerrar-se sem os variados doces que gerações
aperfeiçoaram, e que deliciam o final das festas! Doces, muitos doces.
Enchidos
A Festa do Folar e do Azeite tem muitos outros produtos de
tradição transmontana. Para além dos folares, muitas variedades de pão de trigo
de centeio e de milho, bolas doces, económicos, súplicas sidónios… depois toda
a variedade de enchidos, de azeites, de vinhos, de carnes, …
BOM APETITE com as nossas tradições.
© Virgílio Nogueiro Gomes
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