(A minha Amiga Mariazinha)
Em passeio por Trás-os-Montes, e na esperança de recolher elementos para completar estudos de tradições locais, fui a uma aldeia próxima de Bragança que dá pelo nome de Gimonde. Local de passagem obrigatória para quem se dirige a Espanha, e local de passagem para os peregrinos de Santiago, tem uma ponte de via romana, despontou recentemente para locais de alimentação e bebidas, grande divulgações dos principais produtos associados ao porco bísaro e agora um pão excelente com boa distribuição. Mas a minha visita tinha a ver com a produção, ainda artesanal, de compotas e licores. Estes produtos estão muito ligados às minhas memórias de criança pois o fascínio da transformação das frutas era encantador. O modo como se preparavam os diferentes pontos de açúcar, em tachos de cobre, para depois adicionar a fruta; ou a ansiedade de aguardar o fim da infusão para ver a filtragem do licor, e do qual ainda não podíamos provar, deixou marcar de memória alegre. Mas tínhamos o consolo de uma pequena gota, que escorria pelo exterior da garrafa, a podermos lamber. Era o prémio possível pelo bom comportamento a assistir às tarefas inacessíveis!
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(Estante com as compotas)
Em Gimonde fui visitar a Mariazinha, Maria da Glória Fernandes, para conversar sobre compotas e licores. Apesar de estar integrada num universo mais vasto, com seis casas de Turismo Rural, o Restaurante D. Roberto e a Quinta das Covas com salão para banquetes até quinhentas pessoas, e a unidade industrial de produção de enchidos e outros derivados de porco bísaro, a nossa conversa era destinada às compotas e aos licores. Este negócio é a continuação e herança do Pai de Mariazinha, o Senhor Roberto que com a sua esposa, Dona Beatriz, e cozinheira de talento reconhecido, iniciaram a atividade.
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domingo, 13 de novembro de 2016
Virgílio Nogueiro Gomes - Compotas e Licores nortenhos
segunda-feira, 25 de maio de 2015
Dieta Mediterrânica, de Jorge Queiros, por Virgílio Nogueiro Gomes
Já todos ouviram falar da dieta mediterrânica, todos sabem dar um palpite, mas quando se perguntam detalhes as respostas começam a ser cada vez mais vagas. Depois há outros aos quais se pergunta se Portugal é um país de prática da dieta mediterrânica, e todos dizem que sim mas na prática são poucos os que sabem com exatidão do que isso significa.
Este livro, já em 2ª edição é uma obra fundamental para entender a evolução dos povos desta zona e os seus reflexos na sua alimentação. O seu autor, com méritos conhecidos, integrou a representação portuguesa para a classificação pela UNESCO da Dieta Mediterrânica como Patrimonio Cultural Imaterial da Humanidade. O livro tem, portanto, a escrita de alguém bem envolvido na problemática classificativa.
Se tem o valor das descrições da evolução histórica e sociológica dos habitantes da zona em causa, tem capítulo essências para a trilogia base do conceito definido por Ancel Keys nos anos 60: os cereais e o pão, o ouro líquido que é o azeite e a vinha. Natural que aborda as questões da cozinha mediterrânica em Portugal. Tem ainda um capítulo essencial que define o padrão alimentar da dieta mediterrânica que muitos deveriam ler. Ora é este padrão que os portugueses deveriam fixar para se sentiriam, de facto, inseridos neste programa. Ou melhor ainda que o autor se disponibilizasse para a edição mais leve para ensinamentos rápidos.
Excelente edição que todos deveriam ler e para que muitos aderissem à prática da dieta mediterrânica e verão que a sua saúde poderá melhorar.
Interessante e bem construído o capítulo final sobre o futuro da dieta mediterrânica. Futuro que depende de nós. E todos conhecemos a dificuldade da alteração de mentalidades e seus atos…! Excelentes conteúdos e fotos ilustrativas que apetecem.
Título: Dieta Mediterrânica
Autor: Jorge Queiroz
Editora: althum.com
© Virgílio Nogueiro Gomes
Fonte: http://www.virgiliogomes.com/index.php/livros/688-dieta-mediterranica
quarta-feira, 22 de abril de 2015
ACPP inaugura Biblioteca Gastronómica; 1.500 livros para consultar
A ACPP, Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal, inaugura esta terça-feira a primeira Biblioteca Gastronómica, um espaço de informação, documentação e dinamização pedagógico-cultural ligado à gastronomia nacional e internacional.
Cerca de 1.500 itens relacionados com as diferentes áreas da gastronomia estão já disponíveis, para consulta, a toda a comunidade profissional, sócios e não sócios da ACPP, docentes e alunos de escolas profissionais do sector e ao público em geral.
A inauguração da biblioteca é já esta terça-feira, às 18:00 e contará com a presença dos gastrónomos Maria de Lourdes Modesto e Virgílio Nogueiro Gomes, o maior mecenas a esta data.
«A ACPP tem como objetivo tornar a Biblioteca Gastronómica num verdadeiro centro de aprendizagem e pesquisa. Queremos ser uma referência na busca de conhecimento técnico e especializado por parte dos profissionais desta área e não só. O primeiro passo está dado e agora queremos continuar a crescer. Contamos com a ajuda e o mecenato de todas as pessoas que queiram doar à nossa biblioteca publicações relacionadas com a área de gastronomia», afirma Maria João Caldeira, da ACPP.
Um dos grandes mecenas que muito contribuiu para o enriquecimento do espólio inicial da Biblioteca Gastronómica da ACPP foi Virgílio Nogueiro Gomes.
Crítico de gastronomia, autor de vários textos e crónicas publicados regularmente em jornais e revistas; autor de vários livros de gastronomia, como «Transmontanices – Causas de Comer», «Tratado do Petisco», «Doces da nossa vida» e autor do site www.virgiliogomes.com, o mecenas possui uma carreira de mais de 30 anos ligados a esta área.
Fez carreira em gestão hoteleira, coordenou em vários países estrangeiros ações de promoção da cozinha portuguesa, proferiu várias conferências e palestras sobre Gastronomia, foi membro da Comissão Nacional de Gastronomia, que levou a Gastronomia a Património Cultural, e coordenador do seu Conselho Técnico. No presente, é investigador em História da Alimentação, e professor de Gastronomia e Cultura, e História da Alimentação; e é membro da Associação Portuguesa de Escritores e da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
A Biblioteca Gastronómica da ACPP fica no edifício da associação, na Rua de Sant`Ana à Lapa, nº 71 C e funciona de segunda a sexta-feira, das 10:00 às 18:00.
Fonte: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=769572
segunda-feira, 6 de abril de 2015
Almoço de Páscoa, por Virgílio Nogueiro Gomes
Almoço de Páscoa
2015
Independentemente dos crentes, ou praticantes de religião, ou dos indisciplinados na fé, fomos habituados aos rituais prazenteiros da mesa. E desses rituais não abdicamos! Já em outras ocasiões tenho escrito que não preciso de ir a Trás-os-Montes para ter uma mesa autêntica. A minha irmã Lina encarrega-se de todos os detalhes e com requintes que todas as iguarias fazem lembrar as mesas da nossa Mãe.
O nosso almoço de Páscoa era sempre igual. Começávamos com um
Caldo Verde cujas couves não podiam cozer

Na mesa estava sempre colocado o folar do dia
terça-feira, 31 de março de 2015
Virgílio Nogueiro Gomes - FOLAR em festa
Folar de Mirandela
Está a decorrer hoje, 30 de março de 2015, e amanhã a
tradicional Festa do Folar e do Azeite que a Casa de Trás-os-Montes e Alto
Douro, Lisboa, tem vindo a organizar há vários anos. Desta vez, o espaço
escolhido, e muito bem, foi o Mercado 31 de Janeiro em Lisboa próximo ao
Saldanha.
sábado, 10 de janeiro de 2015
Máximas e Reflexões, por Vergílio Ferreira
Sinopse: Este livro representa uma compilação temática de mais de 750 máximas e reflexões de Vergílio Ferreira, ao longo de toda a sua obra, com incidência nos grandes temas, tais como o amor, a vida, a felicidade, o autoconhecimento, a liberdade, a verdade, Portugal, etc., numa colecção única de sabedoria que surpreende pela originalidade das ideias e constatações, tal como pelo modo intimista e directo como estão escritas.
Servindo como um autêntico dicionário de reflexões, cujas entradas dificilmente deixarão alguém indiferente, impele ao pensamento e reflexão nessa eterna busca nunca terminada do melhor conhecimento de nós próprios, concordando ou não com as frases de Vergílio Ferreira, mas transpondo o leitor para mais além, como pontes para novas descobertas dentro do seu interior, num caminho paralelo ao que Vergílio Ferreira construiu ao longo de toda uma vida, deixando para a posteridade as questões de sempre, alicerçadas no conhecimento do passado e no sentir do presente.
O autor: Paulo Neves da Silva é licenciado em Matemáticas Aplicadas. Exerce a sua actividade profissional na área do desenvolvimento de software a nível nacional e internacional.
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À esquerda Leonel Brito (produtor) .À direita Virgílio Ferreira. Foto tirada nas filmagens da "Manhã Submersa) |
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
«Doces da nossa vida», Crónica de Ernesto Rodrigues

Em dia de Natal, delicio-me a ler Virgílio
Nogueiro Gomes, Doces da Nossa Vida. Segredos e Maravilhas da Doçaria
Tradicional Portuguesa (Marcador, 2014). A página cheira bem, cada fotografia é
de apetite. Seguindo conselho ‒ «Comam doces, mas não abusem.» (p. 218) ‒, não
perco este pastel de nata, com vontade de segundo. Não tenho pão de ló,
dormidos e económicos; ganchas e pitos só em Vila Real. Marmelada ainda provo;
baunilha, também: há 40 anos, era uma tentação, e até escrevi “Elogio da
baunilha”, saído em Poemas Porventura (1977). Vai longe o tempo em que nos
comboiávamos chupando rebuçados da Régua; hoje, torta de laranja, toucinho do
céu, um de vários pudins, dão toque de gulodice a almoço farto.
Dessas maravilhas fala o especialista, em
capítulos breves e bibliografia mínima, umas luzes de ficção, nomes próprios e
antigamentes convocados («Lembro-me bem de despertar cedo», etc. [p. 79]),
enquanto escorre matéria de História Social e Económica, enquadrando a História
da Alimentação em que Virgílio Gomes se fez mestre.
Epígrafe inicial ‒ no «tributo a todas as
gerações de escravos, cujas tarefas, e sofrimentos, contribuíram para a
produção de açúcar» ‒ remete-nos para o doce inferno de António Vieira. O Autor
refere, em 1628, 235 engenhos no Brasil; no ano seguinte, 346; e, do Jesuíta,
cita frase destinada aos colonos (p. 16). Aproveito estes lembretes e alargo a
prosa.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Guia do Enoturismo em Portugal, de Maria João de Almeida, por Virgílio Gomes
Autor: Maria João de Almeida
Editora: Zest – Books for Life
No mundo profissional e de leitura sobre
vinhos, a autora é sobejamente conhecida para fazer a sua apresentação. Claro
que tenho a Maria João em apreço elevado e tenho a sorte de com ela ter alguns
momentos de partilha muito agradáveis. Para não escrever sobre as gravações que
fiz para o seu canal Tv de vinhos que nos permitiu uma maior proximidade. Por
onde passa deixa as suas marcas. E eu aplaudo.
Este guia já fazia falta. Até para ajudar os
portugueses a melhorar a sua auto estima. E perceber que somos bons e temos
muito para dar. É inquestionável o papel que Portugal desempenhou no mundo
sobre o vinho e, agora, novamente com o reconhecimento que é feito aos nossos
vinhos.
Permito-me transcrever o que a autora escreveu
na revista UP sobre o guia: … é sempre bom saber quais são as melhores adegas a
visitar. E as melhores, para mim, não são só as dos produtores mais conhecidos,
as maiores ou apenas as que têm alojamento. Os enoturismos em destaque neste
guia são aqueles que recebem bem os visitantes. Que os esperam de braços
abertos, lhes contam a sua história e lhes dão a provar os seus vinhos com a
mesma paixão e entusiasmo com que os produzem.
Pois assim é o guia. Está organizado por
regiões, e em cada região são apresentados os lugares eleitos, e ainda
sugestões de alojamento e de boa mesa. Naturalmente que os grandes textos vão
para os locais de enoturismo. A qualidade da escrita, a que Maria João já nos
habituou, é um atributo fundamental que nos leva a querer conhecer todas as
histórias.
Neste livro deve ainda ressaltar-se o grafismo
de alta qualidade. Já lhes abri o apetite? A solução é comprar já o guia.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Comidas Conversadas no restaurante NOBRE
Comidas Conversadas

Capa do livro
Em almoço de ontem, 22 de novembro de 2014, no
restaurante Spazio Buondi NOBRE, em Lisboa, decorreu um almoço que serviu de
pretexto para apresentação do livro Comidas Conversadas. Da autoria de António
Manuel Monteiro e editado pela Âncora Editora, é o primeiro livro de uma
coleção «Gastronomia e Cultura». O autor é, possivelmente, o escritor que mais
obra organizada tem acerca dos comeres, e das tradições associadas à
alimentação, sobre a região transmontana e alto-duriense. E com mais séria
investigação. Já nos habituou a uma linguagem invulgar que não é mais do que um
vocabulário que se encontrava naquela região e outro, de fácil dedução,
proveniente de algum palavreado local. E essa forma de escrever é mais um
atrativo do livro.

Mesa com os livros
O autor, como eu, tivemos a sorte de ter
nascido e ter sido educados na província. Por isso sempre tivemos uma perceção
de uma cultura regional que por vezes se sobrepunha com a nacional e que hoje
convivem em sossego. No livro vamos perceber como o mais pequeno detalhe, que
liga os produtos da terra à alimentação, constitui elemento determinante para
o, agora, reconhecimento do património imaterial identificador da região.
Os capítulos do livros mergulham-nos no
entendimento alargado sobre as Alheiras de Mirandela, os Cuscos de Vinhais, os
Comeres Cediços e de Sustimento, A Propósitode Urtigas, os Rabos de Polvo das
Bruxas, os Vegetais Relegados, O Peixe das Tréguas, o Elogio do Castanheiro, A
Sexualidade dos Vinhos, as Doçuras e Delicadezas de Sabor Amendoado, e Comer
sem Azeite é Comer Miudinho. Contém
ainda um Glossário valioso. Tudo ingredientes para partir à procura do livro.
Indispensável para o entendimento do património imaterial transmontano e
alto-duriense.
Eis algumas imagens de alguns elementos
gustativos do almoço, e ainda fotos de alguns dos presentes:

Fatias de Presunto Bísaro
sábado, 8 de novembro de 2014
Doces da nossa vida, por Virgílio Nogueiro Gomes
Pode parecer estranho eu escrever sobre o meu último livro.
Claro que não o farei. Vou apenas apresentar algumas frases de amigos que
escreveram sobre o livro. Perdoem-me este entusiasmo.
Maria de Lourdes Modesto:
«Um livro doce que homenageia gerações de mulheres doceiras
do nosso país.»
«Estes encontros e desencontros permanentes entre a doçaria
conventual e a popular mostram como ambas são importantes. Aqui, a doçaria
regional é açucarada com estórias da gente do povo que cria as tradições
regionais.»
«O Virgílio adoça-nos com as suas memórias de família ao
mesmo tempo que se debruça sobre os doces de todos nós que nasceram nos
conventos.»
Alexandra Prado Coelho, in Prefácio:
«Uma viagem doce, das cozinhas da nossa infância para o
mundo.»
«Mas não é só de doce poesia que se faz este livro. A arte
de Virgílio é, quando nos apanha distraídos a espreitar estas cozinhas e a
ouvir estas conversas, agarrar-nos na mão e fazer-nos voar dali para fora para
nos mostrar que a história dos doces é também uma história do mundo.»
Raul Lufinha:
Como o Virgílio gosta de dizer com o seu ar de menino
traquina...
... um livro de gulodices…
… para comer até “lamber os dedos”…!
Maria João de Almeida:
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Virgílio Nogueiro Gomes - Convite
A CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, MARCADOR EDITORA
E VIRGÍLIO NOGUEIRO GOMES TÊM O PRAZER DE O(A) CONVIDAR PARA A APRESENTAÇÃO DO
LIVRO:
DOCES DA NOSSA VIDA - Segredos e Maravilhas da
Doçaria Tradicional Portuguesa
Dia 21 de Outubro, pelas 18h30, no Museu da
Cidade de Lisboa*
Conta com a apresentação de Alexandra Prado
Coelho.
Virgílio Gomes nasceu em Bragança, é um gastrónomo com formação superior e carreira firmada em hotelaria, tendo-se dedicado desde sempre à investigação e estudo da alimentação ao longo dos tempos.
Conselheiro da Comissão Nacional de Gastronomia e consultor da AHRESP, entre muitas outras ligações, é presença assídua na grande maioria dos eventos nacionais realizados nesta área, autor de textos (publica com regularidade em duas revistas e um jornal) e dinamizador do site gastronómico – www.virgiliogomes.com
Virgílio Gomes é ainda formador no mestrado em Ciências Gastronómicas do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Virgílio Gomes nasceu em Bragança, é um gastrónomo com formação superior e carreira firmada em hotelaria, tendo-se dedicado desde sempre à investigação e estudo da alimentação ao longo dos tempos.
Conselheiro da Comissão Nacional de Gastronomia e consultor da AHRESP, entre muitas outras ligações, é presença assídua na grande maioria dos eventos nacionais realizados nesta área, autor de textos (publica com regularidade em duas revistas e um jornal) e dinamizador do site gastronómico – www.virgiliogomes.com
Virgílio Gomes é ainda formador no mestrado em Ciências Gastronómicas do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Delícias do Convento de Vinhais,por Virgílio Nogueiro Gomes
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Delícias |
Viajemos desta vez até ao Convento de Santa Clara, de
Vinhais, distrito de Bragança. Este convento era feminino e pertenceu à Ordem
dos Frades Menores. A sua fundação, anterior a 1582, foi por vontade de Dr
António Álvares Ferreira, juiz de fora da Guarda, e casado com Dona Helena da
Nóvoa, que era natural de Vinhais. O convento esteve sempre sob jurisdição do
Bispo de Miranda. Em 1648 estava em ruínas e apenas com 2 freiras. Foi
restaurado e ampliado graças à generosidade de 3 vinhaenses, recebendo mais 3 religiosas
do Convento de Santa Clara de Bragança. Parece que o auge deste convento terá
sido entre 1664 e 1667, chegando a ter 112 freiras, e com uma abadessa que veio
do Convento de Amarante. Consta que tiveram um papel importante na defesa da
região em mais uma tentativa de avanço espanhol nas guerras da Restauração. O
convento encerrou em 1879 apenas com 1 freira e que foi expulsa pelo bispo
especialmente por vender o espólio para garantir a sua sobrevivência. Há
estórias ou lendas que se contam a propósito de uma freira que geria muito bem
todos os alimentos e que criou um dito popular à sua volta com uma expressão
que ainda hoje se diz: “… rende como o feijão da Madre Garcia”, conforme
publicou o Padre Firmino A. Martins no livro Folklore do Concelho de Vinhais,
já em 1927. A Madre Garcia deveria ter um sentido muito apurado para a
governação do convento e, por isso, fazer render as mercadorias disponíveis.
Apesar de estarem publicadas as receitas de Barriguinha de
Freira, Namorados, e Doce de Laranja, em livros ou revistas, parece que em
Vinhais pouca gente os conhece. Barriga de Freira é um doce de origem
conventual e que aparece em muitas regiões. Há no entanto doces identificados
com origem naquele convento e várias famílias referem antepassadas que dele
saíram e lhes deram as receitas. Tive informações privilegiadas com Paula
Barriga e Odete Barreiro que ambas continuam a confecionar, e dispõem de um
caderno manuscrito que foi pertença da sua bisavó e avó respetivamente, e que
sempre lhes disseram que algumas receitas teriam origem no Convento de Santa
Clara de Vinhais. Também tive confirmada a existência de doces daquele convento
através de texto de Roberto Afonso que muito me elucidou sobre o assunto.
A receita mais identificada é a de Delícias do Convento de
Santa Clara, também conhecida por Bolinhos de Amor, confecionada com ovos,
amêndoa, açúcar, castanhas e doce de gila. Seguramente parece ser a única
receita que teve origem no convento, de acordo com o caderno de receitas da sua
antepassada atrás referida. Tive a sorte de Paula Barrigas ter confecionado
estes doces que me ofereceu e que aparecem nas fotos.
Próximo de Vinhais também nos aparece o Recolhimento da
Oblatas do Menino Jesus, de Mofreita. Estas informações foram obtidas através
do já referido Roberto Afonso, em ajuda preciosa. Fundado em novembro de 1793
tendo como a “principal missão o abrigo a meninas da classe popular, pobres ou
desamparadas”, não impediu que rapidamente tivesse 70 donzelas. “A rotina das freiras
passava pela instrução religiosa, trabalhos domésticos, trabalhos artesanais e
exercícios de piedade.” É fácil de imaginar que aprenderiam também algumas
artes culinárias que ajudaram a desenvolver na região. Curiosamente este
Recolhimento só foi extinto com a República. Ainda se contam algumas estórias
sobre o bispo da diocese e relacionado com duas madres, cujo processo chegou ao
Santo Ofício…Por vezes há a tentação de tentar criar novas receitas. O
excelente sabor e a consistência invulgar destas Delícias apetece perguntar
porque não se instala a sua produção, e ajudar a estabilizar a identidade
regional gastronómica? Eu sei que o grande emblema local são os enchidos. Mas
“o doce nunca amargou”!
© Virgílio Nogueiro Gomes
domingo, 22 de dezembro de 2013
TRATADO DO PETISCO

In: "FUGAS" de 21/12/2013
VER: http://lelodemoncorvo.blogspot.pt/2013/11/virgilio-nogueira-gomes-tratado-do.html
http://lelodemoncorvo.blogspot.pt/2011/05/transmontanices-causas-de-comerde.html
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Artes e Livros,por Virgílio Gomes
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Durante os dias 6, 7, 8 e 9 de Junho de 2013 Bragança foi palco de um Encontro de Academias de Letras Lusófonas, chamada “Artes e Livros”. Um conjunto de palestras, jantares temáticos, e especialmente o lançamento de vários livros foram as atividades principais deste encontro.
A Câmara Municipal de Bragança e a Academia de Letras de Trás-os-Montes foram os organizadores e anfitriões do evento que se realizou no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira.
No âmbito da gastronomia, já referi anteriormente a palestra “A Gastronomia Luso-Amazónica” proferida pelo Professor Álvaro Espírito Santo no dia da abertura. No dia a seguir foi a vez de se apresentar São Tomé e Príncipe. No Sábado, dia 8, foi a vez do meu Amigo Armando Fernandes proferir uma palestra intitulada “Saga dos Comeres Bragançanos e a Lusofonia” sendo servido nesse dia o jantar transmontano que irei documentar mais em baixo.
Sobre livros associados à gastronomia apenas a referência ao livro lançado nesse mesmo sábado: “A Terra de Duas Língua II”, uma iniciativa da Academia de Letras de Trás-os-Montes, coordenada pelos meus Amigos Ernesto Rodrigues e Amadeu Ferreira. Trata-se de uma Antologia de Autores Transmontanos e que contém dois textos associados aos prazeres da mesa que são “A Oliveira do Meio-Cântaro” de António Manuel Monteiro, e “Doce Arroz” de minha autoria e que é uma estreia em ficção (com muitas coincidências). A edição é de Lema de Origem – Editora L.da.
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Vejamos o que foi o jantar servido pelo transmontano Chefe José Cordeiro:
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quinta-feira, 28 de março de 2013
Pastéis de Santo António,por Virgílio Gomes
...Outro momento importante para esta receita foi a exibição no programa da RTP, “Caldo de Pedra”, 1979, apresentado por António Assunção, que se passava por frade, e esteve em Pernes para a reconstituição desta receita. Os textos do programa eram da autoria de Manuel Pedrosa (pseudónimo de Luis Sttau Monteiro) e teve produção e realização de Leonel Brito. Que bom rever estes programas! Durante o programa conta-se a estória de uma amiga, Dona Irene Cadima Gonçalves, hábil artesã de doçaria e destes pastéis, que dá a receita a outra. Passados uns tempos, e não tento tido notícias da experimentação, a que deu a receita perguntou à outra se tinha experimentado e qual foi o resultado. A outra respondeu que, de facto, “lhe tinha dado a receita mas que não lhe deu as mãos”! Pois é, já escrevi várias vezes sobre esta questão. A sensibilidade e os gestos não se ensinam, aprendem-se. Uma receita é como uma pauta de música. O sucesso está no executor.Está de parabéns a Junta de Freguesia de Pernes e a sua Presidente Salomé Vieira, pela coragem e gesto nobre de divulgarem esta receita com o propósito de reinstalar a tradição de “Santo Antoninhos”, como lhes chamou Dona Irene atrás citada. Vão aguçando o apetite pois em Junho haverá concurso com grande animação.
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António Assunção, que se passava por frade Crónica completa em: |
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