"VELHAS PROFISSÕES - MOLEIRO":
Ribeira dos Moínhos |
Revendo as imagens do " Ultimo Moleiro"- o Ti Benjamim(meu tio),imagino suas falas fraternas para a roda do moinho no vagar lento da roda da vida. revejo sua honradez e alegria para com os sobrinhos. assistidos pela tia Bejanja,mulher analfabeta,pedindo meças a ginecologista.
Imagino o sorriso de criança do Ti Benjamim, setenta,mostrando ao repórter "leonino"(?)pai deste blogue as artes da moagem que eram o seu sustento e da sua companheira Maria do Céu.
Muitos são insaciáveis na sua avidez e agiotagem.Outros,não sendo benjamins daqueles,conseguem ser felizes com pouco e,tal como S.Francisco " qual criança que via nas aves as suas irmãzinhas,no vento e no sol os seus irmãos e, na terra a mãe viva de todos", O Ti Benjamim via nos sobrinhos os filhos que não teve. Como S.Francisco cantava para os companheiros o mesmo fazia " O Último Moleiro", que em dia de Festa tinha sempre 25 tostões para cada sobrinho pudesse comprar rebuçados da régua,ou balão.
Na suasimplicidade de criança,sempre a sorrir e sem ressentimentos ou segundas intenções.
Era transparente como água do seu moinho, em noite de lua cheia,que alegrava forasteiros e felgarenses,nos Arraiais de Felgar.Bailando sózinho ou desafiando o Balalaica,saracoteando qual personagem de "O Malhadinhas"
No fim o Ti Benjamim agradecia com seu chapéu,desenfarinhado,com alegria incontida e gesto de humildade para os que tinham " feito roda" para a sua actuação.
Acredito que eram momentos de libertação dos longos dias da roda da vida que o Ti Benjamim terá reportado aos homens da televisão quando se deslocaram ao Moinho do Souto da Velha.
- saibam meus senhores que já meus pais eram moleiros que também ali abaixo no Ribeiro dos Moinhos o foram o meu irmão Zé ...
-Ainda lhe digo: a minha irmã Maria nasceu noutro moinho no Prado,em Carviçais .
-E compensa o trabalho de moleiro? E como funciona a azenha?
- Sabe nós os pobres contentamo -nos com pouco e para mal dos meus pecados nem Deus nos deu filhos.
- Nascemos nesta vida e nesta vida havemos de morrer.Agora já não há muito para moer.No Felgar há a Padaria do Manuel Seromenho tal como a do Paiva de Moncorvo.As farinhas são de fábrica. Tudo vai morrendo e devo ser o último moleiro daqui. Hei-de ser até que Deus queira.
Enquanto houver água que nasce ali perto da Terra da Moura nas bordas do Cabeço da Mua e eu puder picar a pedra para não dizer que não a algum freguês lá vou retirando a maquia que me hã-de sustentar maia a mulher.
- Dantes moía-se mais.Era trigo, centeio e pelo Natal era o milho que as mulheres encomendavam para fazer as papas de millhos que são feitos com leite e depois de arrefecerem leva um pouco de canela por cima e são muito bons para velhos como e para as crianças.
- Desculpem lá meus senhores de Lisboa mas se quiserem podem entrar e ver como isto trabalha.A água vem na levada com alguma força e de alto.Depois como está ligada ao rodizio e á taramela vai caindo grão a grão e assim se vai fazendo a farinha que sai além para o saco.
O picar a pedra com mais ou menos profundidade tem a ver com o tipo de farinha que se quer fazer.
- Ainda lhes digo mais esta parte da saída da água do Moinho que é uma espécie de ombreira em arco chamamos-lhe nós a caracuta onde as carriças gostam de fazer os seus ninhos e onde nascem uns pimpilros e também umas ervas que parecem néveda...
- Já que vocemecês só filmam e porque já falamos muito de água quero convidá-los para um copinho de vinho antes de irem embora que eu também gosto de uma pinga e assim vão com Deus e boa viajem até Lisboa que nem sei onde é que fica.Passem Bem!
Artur Salgado
Ver:
eresinha Amoroso escreveu: "No moínho, a água é que é o sangue...." Belas e sábias palavras! Obrigada pela oportunidade que me facultou para que eu pudesse ver esta relíquia
ResponderEliminarJose Pereira Vieira escreveu:Para quem foi neto de moleiro e que por isso muitas vezes partilhou tarefas próprias da profissão,tais como,picar as pedras, a recordação tem encanto redobrado.
ResponderEliminarEsse moinho da grade verde, em Souto da Velha, é meu. Herdei-o. Tenho por ele grande estima, como se fosse um familiar. Gostava de o restaurar mas ñ tenho capital. Terá de esperar por melhores dias.
ResponderEliminarG.L.
Lelo e Artur.
ResponderEliminarTiro o meu chapéu a esta dupla de respeito: de um lado as imagens e de outro as palavras, entrelaçadas de forma esplêndida.
Um grande momento para todos.
Venham mais!
A. Manuel