João Bernardo Sárrea de Barros
nasceu em Vila Praia de Âncora em 12 de
Agosto de 1902 e faleceu em Mogadouro em 28 de Março de 1994.
Escolaridade: 2º Grau do Ensino Primário.
Outras habilitações: 2º Ano do Curso de Pilotagem, obtendo a Carta
de Piloto da frota bacalhoeira de Viana do Castelo em 1922. Após 3 anos de
pilotagem demandando a Terra Nova, decidiu ficar em terra e enveredar pela “arte dentária”. Teve como orientador o competente cirurgião dentista António Ramos. Em 1928 fixou-se em Torre de
Moncorvo e foi o então Administrador do
Concelho, Dr. Ramiro Guerra, médico, quem lhe mandou passar alvará para ali
exercer a profissão de dentista. Nesta vila transmontana trabalhou 43 anos. Por
razões familiares , em 1971 mudou-se para Mogadouro, onde viveu e trabalhou
mais 23 anos, o que perfaz uma carreira profissional de cerca de 66 anos, com raríssimas férias e
feriados e total dedicação aos seus
pacientes.
Obras publicadas:
-- O opúsculo “Porquê?” com objectivo didáctico, sobre higiene oral, ed.
de autor, s/d ;
-- O livro “Domínio
da cárie e da piorreira”, de cariz
científico, ed. de autor, s/data. Este
livro foi prefaciado pelo Professor Doutor Oliveira Torres, da Faculdade de
Medicina Dentária do Porto, que se referiu ao autor nos seguintes termos: “O
seu entusiasmo e o seu intelecto são superiores ao simplesmente ver passar os dias [...] É , sem dúvida uma personalidade
culta, hábil e inteligente”.
-- Escreveu ainda inúmeros artigos sobre
problemas locais, regionais e nacionais ( a supressão das linhas de caminho de
ferro do Sabor e do Tua ; as minas de
ferro de Moncorvo ; a navegabilidade do rio Douro; versou ainda temas da História de Portugal, de política, etc. ) publicados em vários jornais, entre os quais se destacam: “A Voz
de Mogadouro”, "Noticias de Trás-os-Montes”, “O Zé”, jornal
de Rio Maior, “O Comércio do Porto”, “A
Tarde “, “ O Dia” , “A Ordem”, entre outros.
-- No âmbito profissional foi distinguido
em 1984 pelos seus pares, e por
unanimidade, com o Colar de Santa
Apolónia, padroeira dos dentistas, “distinção atribuída ao melhor dentista do
ano em curso”.
-- No ano de 1986 o Sindicato Nacional dos Odontologistas
distinguiu-o com a Medalha de Mérito.
Estudioso, senhor de sólidos
conhecimentos científicos e
técnicos e de vastíssima cultura, João
de Barros foi um verdadeiro autodidacta.
Políticamente era um homem conservador, católico, monárquico e
estruturalmente honesto.
Foi biografado pelo Dr. António
Pimenta de Castro.
Título do livro : “Lembrando o Senhor Barros Dentista”
, nº 1 da Colecção ‘Mogadourenses
Ilustres’ , Mogadouro,2008 .
Ver:
O Senhor Barros,que não era doutor,foi o competente dentista de várias gerações de pessoas de todas as camadas sociais de Moncorvo e arredores.Verdadeiro profissional e excelente pessoa,sabe-se que aos mais necessitados nada cobrava.Hoje,a maior parte destes profissionais levam-nos couro e cabelo por "tratamentos" mal feitos.Isto já me aconteceu,e,por isso,lembro-me com saudade do trabalho do Senhor Barros, apesar de,em criança, ficar aterrada sempre que precisava da sua intervenção.
ResponderEliminarNão sendo natural de Moncorvo,pertence,sem dúvida,ao rol dos mais ilustres moncorvenses.
Uma moncorvense
Uma moncorvense
Quando a universidade é substituida pela inteligência,trabalho,dedicação,vontade de inovar,lutar contra as adversidades do meio,aprendendo praticando e começar de novo...e "No ano de 1986 o Sindicato Nacional dos Odontologistas distinguiu-o com a Medalha de Mérito".
ResponderEliminarDizia com orgulho ,malícia e humor;Não sou doutor.
Católico,João sabia que o HOMEM é feito do Barro.
Minhoto,transmontano é o nosso João de Barros.
M.C.
O Sr. Barros era um grande conversador. Um homem cultíssimo. Um dia, com dúvidas sobre a Revolução Francesa, fui perguntar à professora D. Maria Pera. Ela, rua do Cano abaixo e eu atrás, respondeu-me estuda, está tudo no livro. O Sr. Barros estava na farmácia do Dr. Leite e ouviu a conversa. Chamou-me e explicou-me a Revolução Francesa de ponta a ponta. Eu era garoto de 14 ou 15 anos e queria já era ir embora. Disse-lhe obrigado, mas também tinha de ir estudar Matemática. Imaginai lá - levei outra ensaboadela. Hoje acho que foram as duas melhores aulas da minha vida.
ResponderEliminarA.S.Dias
Contam-se muitas histórias sobre o Sr.Barros. Não sei se todas serão verdade. Mas esta ouvi-lha eu há mais de 50 anos, era eu um miúdo e ele conversava com o meu pai. Quando foi requerer o alvará ao Dr. Ramiro Guerra, este médico e Administrador do Concelho, disse-lhe que primeiro precisava de lhe fazer duas ou três perguntas. Hoje diriamos fazer uma entrevista. Combinaram depois do jantar na praça. O Dr.Ramiro puxou-o para passear enquanto falavam. Foi a 1ª vez qua o Sr. Barros passeou na nossa praça. A conversa durou mais de duas horas. Mas o Dr.Ramiro não se descoseu sobre o alvará. No dia seguinte , o jovem Sr.Barros esperou, esperou, e nada. Depois do jantar foi até à praça e o Dr.Ramiro fez-lhe sinal para se aproximar e disse-lhe "Sabe, ainda preciso de lhe fazer mais uma ou duas perguntas". E foram mais umas horas de passeio e de conversa. E isto repetiu-se mais dois dias, até que o futuro dentista de Moncorvo resolveu perguntar directamente pelo alvará. Resposta do Dr.Ramiro: "Ora bem, eu ainda queria mais umas conversas". "Para quê, Sr. Doutor?" “ Para quê? Para ouvir falar um homem inteligente, o que por aqui é raro".
ResponderEliminarAníbal Sousa Pereira - Um Moncorvense em Lisboa
Um belo blogue, Sr. Brito. Também me lembro do seu pai.
O S. Barros tinha uma placa com o nome e a profissão e por baixo em letras grandes "NÃO É DOUTOR" .
ResponderEliminarNunca vi tal coisa em mais lado nenhum.
Mas era muito culto, e muito sabedor na sua arte.
Uma história do Sr. Barros que o meu avô contava. Vinha o meu avô e mais 2 limpadores de podar oliveiras lá para os lados da Quinta da Tarrincha, e ele vinha de Vila-Flor na sua arrastadeira. Parou para lhes dar boleia. E o meu avô disse: "Obrigado, mas não pode ser porqua os cabos das podoas são muito cumpridos, não cabem no carro ". "Ora, entrai lá e deixai as podoas cá fora" . O meu avô e os amigos até pensaram que ele estava maluco. Mas ele disse "Entrai lá, tudo tem sulução". Poisaram as podoas encabadas no chão e entraram, um à frente e dois atraz, o Sr. Barros abriu as janelas e mandou-os pôr um braço de fora. Pegou nas podoas e entreguou uma a cada homem. E assim vieram de boleia até à vila. Homem inteligente e homem bon.
ResponderEliminarRui Feliciano, no Luxembourg
Acabo de ler os comentários que pessoas amigas aqui deixaram registados. Muito agradecida pelas vossas palavras que comoveram a filha, que vos agradece também as estorinhas que não conhecia.
ResponderEliminarDe facto, o meu pai - que nunca quis ser chamado de 'DOUTOR' - era um homem generoso, inteligente, culto, estudioso compulsivo e, sobretudo, sabedor do seu ofício e, por tal, distinguido e reconhecido.
Tinha as suas convicções e sempre as defendeu com honra. Nunca aceitou cargos, nem fardas, nem benesses. O seu maior defeito: só ele é que tinha razão. Porém, sem defeitos, seria um santo ou um anjo. Mas o meu pai era apenas um Homem. Um homem bom e um excelente Pai.
Um abraço imenso
Júlia Barros Ribeiro